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Pepa: “Um dia entrei pelo balneário adentro para agarrar o Cancelo pelos colarinhos. O Bernardo dizia-me: ‘Vou ser presidente do Benfica'”

Na segunda parte da conversa com a Tribuna Expresso, o treinador fala sobre um percurso que, como jogador, o levou a ir de adolescente candidato a prodígio que marcou na estreia pelo Benfica a terminar a carreira sem dinheiro e ter de ir bater à porta do Sacavanense para começar a treinar. Dos conselhos a Cancelo ou Bernardo ao “fenómeno” Edwards, o técnico assegura que não é de “papar grupos” e que, neste momento, em Portugal só aceitaria convites para assumir o banco de um clube “se fosse Benfica, FC Porto ou Sporting”

Pedro Barata

Em 2020/21, Pepa levou o Paços de Ferreira ao quinto lugar da I Liga, segunda melhor classificação da história do clube

Octavio Passos/Getty

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Como é que foi o começo da sua carreira de treinador?
Deixei de jogar e comecei logo a treinar no Sacavenense, que era ali ao lado de casa, porque assim não tinha que gastar gasóleo nem tinha de apanhar transportes públicos. Não tinha dinheiro para ir para longe de casa, é mesmo essa a verdade. Quando acabei a carreira de jogador fiquei sem dinheiro, não tinha casa paga e aquele clube era ali ao lado de casa, não havia necessidade de gastos. Fui lá, literalmente, bater à porta do departamento de futebol. A pessoa que lá estava, que agora é o presidente, reconheceu-me e disse que só havia uma vaga para treinador numa equipa que não competia, que não tinha jogos oficiais, abaixo dos escolinhas, que esses ainda têm jogos. Era tipo um ATL, para passar tempo, com meninos, meninas, magros, gordos. O meu primeiro treino de sempre foi giro: estava sozinho no campo e os pais na bancada a dizerem para os miúdos chutarem para a esquerda, chutarem para a direita, passarem, isto e aquilo. Passados dois minutos, parei o treino, disse aos miúdos que já voltava e aproximei-me da bancada. Na altura tinha três filhas e disse-lhes que quando as deixava na escolha não passava do portão, não entrava na sala de aula para dizer à professora que um mais um, se calhar, são três, não são dois. Confio na professora, confio a minha filha à instituição pública ou privada. Isto tudo na boa, com um sorriso na cara, os pais perceberam e respeitaram e nunca mais fizeram barulho. Todos os pais pensam que têm um Cristiano Ronaldo em casa e isso dá cabo dos putos.

Depois como é que foi sendo a sua evolução?
As coisas começaram a correr muito bem, fui investindo na formação, em cursos. PowerPoint, Word, Inglês, Excel, acabei o 12.º ano. Também consegui entrar na universidade, mas não tinha capacidade para pagar as propinas, porque era privada e tive de abdicar, não dava. Eu precisava era dinheiro a entrar em casa, não era mais para sair. Depois fui subindo e a passagem pelo Benfica foi muito importante.

Porquê?
Deu-me muito conhecimento em termos metodológicos, porque trabalhei com treinadores muito, muito competentes. O Luís Araújo, o professor João Santos, o falecido Jaime Graça, o falecido Chalana, Basto Lopes, Nené, o Bruno Lage, o irmão dele, o Luís Nascimento, o Renato Paiva…

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