Crónica de Jogo

Com este FC Porto não há muito que saber: bola para o barulho e cá vai disto

Com este FC Porto não há muito que saber: bola para o barulho e cá vai disto
JOSE COELHO

Ostentando intensidade, o FC Porto venceu o Rio Ave (3-0) e continua sem deslizar no campeonato. Dois golos gémeos, de canto, deram conforto num jogo em que os dragões, como o povo gosta, nunca pararam de correr até vencerem os vilacondenses pelo cansaço. Gabri Veiga marcou e fez duas assistências

O FC Porto não teme ser menos elegante, está numa constante tentativa de nos convencer que uma orquestra pode ser feita só de bombos. Para quem está familiarizado com aqueles conjuntos que criam instrumentos de percussão reutilizando materiais, assim é a equipa de Farioli: capaz de dar música mesmo com os recursos que tem mais à mão.

Para fazer o que os dragões fizeram em Vila do Conde, não é preciso ler pautas ou ter andado no conservatório. Basta colocar a bola no barulho, num cacho de jogadores abraçados de forma inteligível, e fazer figas. À primeira, todos caem. À segunda, só cai quem quer. O Rio Ave caiu sempre.

Não nos podemos esquecer que a jornada 6 era um encontro entre um FC Porto, líder do campeonato, que só sabe ganhar, e um Rio Ave que não faz ideia do que isso é. Os azuis e brancos provocaram uma tamanha agonia que por menos bem que definissem os lances, acabavam por sempre ganhar algo a partir das investidas no ataque, quanto mais não fosse um canto.

O FC Porto formava uma nuvem de seis jogadores na pequena área. O conglomerado ficava completo com os defensores envolvidos na marcação predominantemente individual do Rio Ave. O inextricável amontoado congestionava tanto as redondezas de Cezary Miszta que o guarda-redes, se pensava em fazê-lo, não conseguiu sair.

No primeiro quarto de hora, os homens de Farioli marcaram dois golos gémeos. Gabri Veiga fez pontaria àquele ninho de gente. Pablo Rosario marcou o primeiro e Samu complementou o trabalho do companheiro. Nos cantos seguintes, por uma questão de misericórdia, os dragões optaram por uma estratégia em que se faziam à bola com embalo desde de trás, um alívio para os vilacondenses.

JOSE COELHO

A vitória (3-0) ficou amplamente encaminhada, algo que não espoletou uma vontade exacerbada de abrilhantar a exibição, antes de seguir firme na pressão e nos equilíbrios. Isto porque não é preciso muito mais do que um jogo fora de casa para perceber que Farioli, à mínima amostra de risco, vai manter o conservadorismo, lente que o impede de ver em Rodrigo Mora o mesmo que os mais sedentos por magia.

Victor Froholdt e Gabri Veiga enquadram-se claramente melhor na filosofia do técnico azul e branco, que quebrou uma longuíssima série de dois jogos a utilizar o jovem português no onze inicial. Além disso, já que, no FC Porto, é suposto o lateral direito invadir o espaço interior, então não faz muita diferença que seja um médio a ocupar a vaga. Com Martim Fernandes e Alberto Costa lesionados, Pablo Rosario disfarçou as lacunas. No entanto, a entrada de Zaidu para o flanco destro, ao intervalo, fez o dominicano ocupar a sua posição habitual, algo que não o inibiu de ter que baixar para ajudar no alongamento do setor recuado, tal como fez Alan Varela.

Excluindo bolas paradas, o FC Porto foi escasso a criar. A movimentação de Samu nas costas dos centrais exteriores da linha de cinco com que o Rio Ave se defendia, gerou um remate cruzado que passou ao lado. Em contrapartida, o Rio Ave também só teve num remate frontal de Brandon Aguilera bloqueado por Kiwior, o maior momento de apreensão junto de Diogo Costa.

Como sempre acontece nas equipas que dominam pela via física, o tempo é precioso. No início da segunda parte, o Rio Ave parecia já ter jogado um encontro inteiro. Embora ambiciosa no posicionamento médio/alto, a equipa treinada pelo grego Sotiris Silaidopoulos foi mais permissiva.

JOSE COELHO

Aos 56 minutos, Gabri Veiga atirou ao poste após Froholdt iludir vários adversários dentro de área. Foi uma jogada que ilustrou aquilo que o FC Porto tem de melhor. Aos 53 minutos, o lance do golo exibiu aquilo que o FC Porto também precisa. Pepê encontrou o médio espanhol com um passe picado, tecnicamente vistoso e causador de um certo regozijo. Aí, a vantagem ficou ainda mais confortável. A margem era grande o suficiente para permitir a estreia de Ángel Alarcón.

O segundo tempo foi mais profícuo que o primeiro. Borja Sainz quase parecia membro de uma famosa família com o mesmo apelido e, a toda a velocidade, atacou a área onde Zaidu errou a finalização. A demonstração de rapidez do ex-Norwich City levá-lo-ia a um frente a frente final com Cezary Miszta vencido pelo guardião.

O FC Porto é o que qualquer adepto gosta de contemplar, um conjunto que joga sempre ao mesmo ritmo, um ritmo alto que disfarça eventuais carências e nunca abdica dos valores inegociáveis para a bancada: morder a língua e dar ao pedal. A equipa de ginásio dos azuis e brancos continua em grande forma e a dominar. Para os dragões, os jogos parecem maratonas, em que, mantendo a cadência elevada do início ao fim, vencem os adversários pelo cansaço. Na corrida pelo título, essa vai ser uma grande arma.

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