Foi pouco, poucochinho, mas deu para o FC Porto continuar a só saber ganhar
Samu transforma o penálti no 1-0
MANUEL FERNANDO ARAÃJO
Os dragões realizaram uma exibição desinspirada, mas derrotaram (1-0) o Nacional e seguem líderes isolados. Samu, de penálti, marcou o único golo de uma tarde de pouca baliza
Já na parte final deste desafio de desacertos, há um par de jogadas que ilustraram fielmente o nível de precisão que o FC Porto trouxe para a receção ao Nacional. Aos 73' e aos 88', os dragões aproveitaram o embalo ofensivo dos insulares, que acreditavam no 1-1, para disporem de ocasiões flagrantes de golo, de vias verdes na direção da baliza de quem veio da ilha da Madeira.
Problema: era um desafio de desacertos. Pepê, isolado, com a baliza para atacar e Zaidu para servir, ofereceu a bola às bancadas. Passados alguns minutos, Deniz Gül e Gabri Veiga procuraram mostrar como se conduz um ataque atabalhoado, aos repelões, confuso. Remate fácil para Lucas França.
Escasso brilho, mas três pontos. Pouca magia, mas vitória. Não entusiasmou, mas segue a liderança isolada. Cinco jornadas, cinco vitórias, 15 pontos, eficácia plena.
O Dragão chegou a ensaiar alguns assobios, ameaçou levar o ambiente para cenários próximos do passado recente. Mas há o crédito de Alvalade, há a energia do bom arranque e do entusiasmo com o Fariolismo. Os assobios terminaram em incentivos, apoiando a equipa num daqueles jogos em que tropeçar teria sido um embaraço nas contas do título.
O apito inicial foi precedido de um momento de nostalgia misturada com homenagem. José Mourinho, sem clube depois da saída do Fenerbahçe, assistiu à partida bem perto de André Villas-Boas, os dois únicos técnicos que levaram clubes portugueses a troféus europeus no século XXI a serem vizinhos de tribuna presidencial. Também na mesma fila estava Rui Faria e, subitamente, era como se reunissem o verdadeiro Mourinho e os futuros Mourinhos. Um dos futuros é presidente do FC Porto, o outro está sem clube desde 2020.
José Mourinho, perto de Villas-Boas, foi muito aplaudido pelo público do Dragão
MANUEL FERNANDO ARAÃJO
O Nacional de Tiago Margarido, que na época passada foi oásis de estabilidade na I Liga das mudanças constantes no banco, apresentou-se com um plano que não surpreendeu. Organização, linhas juntas, defesa compacta. Apesar da postura que priorizava proteger Lucas França, a melhor oportunidade de bola corrida até ao descanso foi dos insulares. Mesmo aos 45’, Labidi recuperou em zona subida, encheu-se de coragem e atirou para defesa apertada de Diogo Costa.
O plano de Margarido foi traído, no primeiro tempo, pelo raio-X do VAR. Foi detetado um pisão de João Aurélio em Borja Sainz, motivo considerado suficiente para penálti. Samu, de regresso à titularidade, fez o 1-0, contrariando a falta de criatividade e fulgor do ataque local. Foi o primeiro e único remate do espanhol na partida.
O FC Porto foi, durante largos minutos, uma equipa a tentar seguir o seu plano de voo, mas sem o executar eficazmente, como um piloto inexperiente que toca nos botões do costume, mas estes não funcionam. Pressão menos agressiva, circulação mais estéril. Rodrigo Mora voltou a ser titular e voltou a durar menos de uma hora em campo. Correu, pressionou, tentou um vislumbre de regresso a 2024/25 com um bailado e um remate aos 12', mas ainda não terá convencido o seu treinador.
A sensação de encontro pouco conseguido teve correspondência em formato de tripla substituição aos 56'. Saíram Mora, Moura e Varela e entraram Zaidu, Gabri Veiga e Nehuén Pérez. O argentino esteve escassos segundos em campo, lesionado-se e regressando Rosario para a lateral direita, função de circunstância pelos problemas físicos de Alberto e Martim Fernandes.
MANUEL FERNANDO ARAÃJO
O Nacional tem histórico de criação de pesadelos no Dragão. Goleou por escandalosos 4-0 em 2005, triunfou por claros 3-0 em 2008, ganhou para a Taça da Liga em 2010/11, contribuindo para que aquele FC Porto de Villas-Boas não ganhasse absolutamente tudo.À medida que os minutos foram passando, os visitantes tentavam buscar esse espírito, socorrendo-se da memória muscular deste coletivo, do trabalho consolidado de Tiago Margarido, um dos sub-40 que vai sendo protagonista do nosso futebol.
O símbolo deste Nacional talvez seja José Gomes. Lateral canhoto de qualidade, tinha zero jogos de I Liga até esta aventura nos insulares. Foi um dos destaques dos visitantes, com boas arrancadas e cruzamentos. Terá faltado algum discernimento na parte final aos de Margarido.
Com a dupla polaca composta por Bednarek e Kiwior em estreia no FC Porto, os dragões terminaram com energia, até mais perto do 2-0 do que de sofrer o 1-1. Não foi bonito, foi até escasso, mas missão cumprida. Mantém-se o romance entre as bancadas do Dragão e a sua nova equipa.