Horta para o SC Braga colher a vitória e quase empurrar o FC Porto para fora do pódio
Diogo Cardoso
Disputado como o clássico que é, houve momentos de impasse no SC Braga-FC Porto (1-0). No geral, os minhotos tiveram soluções mais viáveis: Gharbi agitou, Gabri Martínez levou toda a gente consigo e Ricardo Horta, a raposa da companhia, decidiu quando as estratégias se transformaram em bloqueios
Conhecemos bem os pais que compram sapatilhas novas aos filhos e lhes pedem encarecidamente que não joguem à bola com elas na escola. Quando respeitadores, os descendentes abstêm-se do vício dos intervalos e assim, certinhos e extremamente rigorosos, sobrevivem. O SC Braga-FC Porto pareceu uma reunião de crianças calçadas com ténis acabados de estrear.
O abuso no metodismo encravou circunstancialmente equipas já por si equilibradas – saem da Pedreira exatamente com os mesmos 50 pontos –, decidindo-se a vitória do SC Braga num lance fortuito. Com um jogo tão distanciado das balizas, a dissolução do nulo só podia ter sido quase obra do acaso.
HUGO DELGADO
As bolas paradas são ilhas táticas, pedaços do jogo que valem por si próprios, independentes do que se passou antes e do que se vai passar depois. Geralmente, o seu cobrador é um intermediário que delega aos restantes o consumo do seu produto. Ricardo Horta, o jogador com mais partidas pelo SC Braga, enviou uma encomenda com o nome da rua, mas sem o número da porta, deixando-a a meio caminho para que o destinatário a recolhesse. Ninguém nas imediações, atacante ou defesa, se chegou à frente para tocar no livre lateral batido junto ao para-choques da área e este acabou por ir para dentro da baliza. Se é para entrar no jogo das cautelas, chamem a raposa.
João Mário e Martim Fernandes costumam ser abrangidos pelo defeito de serem farinha do mesmo saco. Martín Anselmi juntou-os em honra da complementaridade. A jogar a extremo, João Mário estava a divertir-se com funcionalidades dos seus pés que nunca tinha explorado, encarando os defesas sem medo, suportado pelo apoio de Martim Fernandes, disposto a limpar eventuais disparates. Era o rebelde mor.
Carlos Carvalhal incumbia Ismaël Gharbi e Gabri Martínez de verticalizarem o jogo. Em muitos casos, tiveram via verde para prosseguirem. Já o FC Porto relacionou-se pouco com Samu. Ainda assim, tentou fazê-lo através do espaço aéreo que Lukáš Horníček foi capaz de vigiar.
HUGO DELGADO
Na agonia de voltar a perder uma oportunidade para vencer pela primeira vez dois jogos consecutivos, Martín Anselmi retirou Iván Marcano e desfez o trio de centrais. William Gomes mereceu a moção de confiança para tentar acrescentar irreverência num dia em que não abundaram criativos como Pepê, Mora ou Fábio Vieira. O mais próximo de o ser, André Franco cabeceou por cima numa da melhores ocasiões dos azuis e brancos no encontro.
Incansável esteve Gabri Martínez. Para lá dos 90 minutos, ainda andava a esticar o jogo mesmo que tivesse depois que voltar a muito custo para a posição. Teve duas ocasiões de golo ao longo do encontro. Ainda que Diogo Costa as tenha anulado, consagrou-se como autossuficiente. O treinador do SC Braga seguia a tendência contrária à de Anselmi e reforçava a defesa. João Ferreira entrou para conter as investidas finais e quase expulsar o FC Porto do pódio da Primeira Liga.