O FC Porto perdeu dois pontos com o Boavista após empate 1-1 no Bessa, onde tradicionalmente os dérbis são durinhos - e esta sexta-feira não foi exceção. Só que, desta vez, os dragões juntaram-lhe não só a desinspiração que vem sendo comum nos últimos jogos com a falta de soluções individuais e coletivas para se desenvencilhar dos axadrezados, que se vão agarrando a tudo para sobreviver
Há quem aprecie dizer que quando se dá um empate isso significa a “divisão de pontos”. Mas quê, é 1,5 pontos para cada lado? Talvez não seja possível, embora haja vitórias que não mereçam 3 pontos e derrotas injustas às quais não ficava mal atribuir qualquer coisa. Mas isto ainda não é um concurso de ginástica. Esta noite, no Bessa, não houve divisão de pontos. Houve um ponto para cada lado e ninguém mereceu mais que isto, num jogo por vezes sofrível de se ver, tal a falta de ideias de parte a parte e o final cheio de apitos e paragens e más decisões de jogadores, faltas e chutões para a frente, como felizmente já não se vê tanto assim no nosso futebol.
Neste particular, e mesmo que a falta de ideias, essa sim, tenha sido irmamente dividida, o FC Porto não se pode furtar às maiores responsabilidades: do outro lado estão jogadores que passaram o Natal sem receber vencimentos e que ainda tiveram de ouvir o seu presidente afirmar que “dois meses de salário em atraso não matam ninguém”. Ainda assim, foram para o campo dispostos, quanto mais não fosse, a lutar, à falta de mais recursos. Os dérbis no Bessa, sabemos, raramente são jogos fluídos e bem jogados, são quase sempre duelos físicos, batalhas de nervos, às vezes até em demasia, mas no estádio vizinho Sérgio Conceição, jogando melhor ou pior, sempre se deu bem: em seis partidas com o FC Porto, havia ganhado todas até esta noite.
Mas esta sexta-feira não houve inspiração coletiva e nem sequer individual para fazer mais. Sem Taremi, o treinador do FC Porto não mudou por aí além a maneira de jogar da equipa, pelo menos ao nível do sistema, apostando numa frente de ataque com Evanilson e Toni Martínez. André Franco e Eustáquio mantiveram-se no meio-campo e, tal como no jogo da última semana com o Chaves, foram raros os momentos de harmonia, de criatividade na frente, por muito que a bola fosse quase sempre do FC Porto.
MIGUEL RIOPA
Numa das poucas jogadas em que os jogadores do FC Porto pareceram verdadeiramente colegas de equipa, André Franco começou na direita, Eustáquio abriu com classe para Pepê e o brasileiro meteu na área, com Evanilson a atrapalhar-se e Martínez a aproveitar a bola perdida. Aos 16’, o FC Porto parecia ter desenrolhado o que já se previa ser um difícil parto de golos no Bessa, logo um campo em que as bolas dentro da baliza valem tanto. Antes, o FC Porto já tinha tremido quando Bozenik apareceu praticamente sozinho, com Wendell a cortar no último momento, e voltou a tremer antes da meia-hora, quando Bruno Lourenço fez o que quis numa imensa clareira na área, respondendo de cabeça a um livre lateral que os dragões se esqueceram de defender. E assim se fez o empate.
Daí para a frente o jogo não abriu, nem melhorou, tornou-se apenas mais nervoso, evoluindo para um FC Porto desesperado e um Boavista a tentar sobreviver. Bozenik, aos 37’, rematou do meio da rua e só o talento de Diogo Costa permitiu parar aquela bola e já na 2.ª parte João Mário quase repetia o golo da semana passada. Só que desta vez o remate saiu por cima.
Diogo Cardoso
Sem uma estratégia que não fosse visar a baliza, sem particular critério ou método, os melhores momentos do FC Porto até chegariam de jogadores que pouco ou nada contam para Sérgio Conceição: Nico González entrou e minutos depois quase marcava com um grande remate cruzado, um oásis no deserto. Já nos descontos, o espanhol voltou a testar João Gonçalves e Namaso pouco depois, também pareceu querer desesperadamente desviar com os olhos um remate seu que rasou o poste. E, tirando isso, pouco ou nada, num jogo que, sem surpresa, endureceu muito nos últimos minutos, com Camará expulso depois de se engalfinhar sem qualquer justificação com Pepê e os jogadores do Boavista a desfazerem-se da bola como quem vai para um driving range disparar para o mais longe possível.
Não foi bonito, mas foi o que as equipas mereceram e quem sai daqui mais queimado é quem tem mais responsabilidades. São mais dois pontos perdidos para o FC Porto, que terminará a jornada a 5 pontos do topo. Nada de grave, numa liga em que os grandes vão perder mais pontos do que o normal. Grave é espremer o jogo do FC Porto e de lá nada sair, diga o que disser o Transfermarkt.