Perfil

Crónica de Jogo

Sofrendo e resistindo contra o vizinho incómodo, o FC Porto continua na perseguição

Um penálti de Taremi deu o triunfo (1-0) contra o Boavista e permite manter os quatro pontos de atraso para o Benfica. No dérbi, Marcano foi expulso aos 67’ e a equipa de Petit teve várias oportunidades de golo, mas Diogo Costa e a falta de pontaria evitaram o empate

Pedro Barata

MIGUEL RIOPA/Getty

Partilhar

O futebol da primavera é diferente. Em abril ou maio, as bases de cada jogo são diferentes, os pressupostos das partidas são distintos. Onde no inverno há margem de manobra, um horizonte longínquo de encontros para dar a volta às situações, na estação que antecedo o verão tudo é pressa, urgência, irreversível. Um golo marcado ou falhado pode justificar temporadas ou condenar projetos.

É neste ambiente mental que se disputam as últimas jornadas de todos os campeonatos. Quando muitos jogos já são disputados inteiramente com o sol lá no alto, o termómetro das emoções sobe e os pés passam a tremer ao ritmo de corações nervosos. Se estiver em causa um dérbi depois de Benfica e Sporting de Braga terem vencido nos dias anteriores, todas as frases anteriores se multiplicam.

Sérgio Conceição e Petit foram colegas de equipa, partilharam balneário na seleção no Mundial 2002 de má memória, mas o Boavista foi ao Dragão para complicar a vida ao rival da cidade. Deixou-o em sobressalto e sofrimento até ao final, mas os três pontos foram dos locais.

O penálti de Taremi aos 59' permite ao FC Porto manter a distância de quatro pontos para o Benfica e continuar com mais dois pontos que o SC Braga. Numa tarde complicada, em que os campeões nacionais só fizeram um remate à baliza, os corações de jogadores e adeptos andaram em sobressalto mesmo até final, particularmente depois da expulsão de Marcano, aos 66'. Foi preciso sofrer e fazer do público o 11.º jogador que faltava. Mas o FC Porto resistiu e a perseguição continua.

A edição 146 do dérbi proporcionou uma visão pouco comum ainda antes do começo. Na escolha de bola e campo, cumprimentaram-se Pepe (40 anos) e Bracali (41), uma cimeira de veteranos de mil batalhas nos relvados nacionais.

MANUEL FERNANDO ARAÚJO/Lusa

O jogo arrancou logo com ares de dérbi, com algumas quezílias e picardias. Otávio e Seba Pérez protagonizaram uma peculiar relação ao longo do jogo, cheia de trocas de palavras e sorrisos irónicos. Foi, justamente, do internacional português a primeira ocasião de golo da partida, quando aos 14’ cabeceou ao lado em boa posição. Logo a seguir, na sequência de canto da esquerda, Cannon tirou o golo a Marcano após um desvio de Uribe ao primeiro poste.

O FC Porto teve muita bola no primeiro tempo — 74% de posse —, mas foi para o intervalo sem fazer qualquer remate enquadrado com a baliza rival. Com efeito, o único disparo que acertou no alvo foi de um Boavista que andou quase sempre a tentar fechar a sua área. Aos 34’, Manafá curtou um cruzamento da direita, aproveitando Seba Pérez a sobra para rematar. A finalização foi frouxa, mas Diego Costa atrapalhou-se e quase ia sendo mal batido, para susto do Dragão.

A falta de rasgo ofensivo dos locais no primeiro tempo obrigou Sérgio Conceição a reagir. Após o descanso, Manafá, Eustáquio e Evanilson, que não marca desde 5 de novembro, foram substituídos e entraram Galeno, André Franco e Toni Martínez.

MIGUEL RIOPA/Getty

Parecia faltar fulgor ofensivo ou inspiração ao FC Porto, como se a tensão do momento toldasse a criatividade. Perante a escassez de ideias, que o golo tenha surgido de penálti soou quase a natural.

Após lançamento de linha lateral, André Franco teve em agressividade o que Ricardo Mangas teve em passividade. O canhoto do Boavista, que Petit tem usado mais a extremo do que a lateral, demorou a reagir e, quando o fez, derrubou o canhoto do FC Porto.

Na transformação do penálti, Taremi bateu Bracali e chegou aos 28 golos na época, entre clube e seleção, e 16 na I Liga. Só está a um de Gonçalo Ramos e João Mário.

MANUEL FERNANDO ARAÚJO/Lusa

Se o 1-0 poderia trazer alguma tranquilidade ao FC Porto, sete minutos depois essa ideia desvaneceu-se por completo. Ricardo Mangas, como que querendo redimir-se, aproveitou uma má receção de Marcano para roubar a bola ao central espanhol. O defesa derrubou o português para evitar que este seguisse rumo a Diogo Costa. Falta e vermelho.

Em inferioridade numérica, os azuis e brancos vestiram o traje da resistência. Conceição colocou Fábio Cardoso, primeiro, e Grujic, depois, e o Dragão tentou apoiar a equipa, tentando dar em apoio o que faltava em jogadores no campo.

O Boavista, que se tenta apoiar na competência do seu treinador para voltar a aproximar-se de posições europeias, fez o oposto, lançando o agitador Kenji Gorré e o rematador Bozenik. Entre os 82' e os 86', os visitantes estiveram perto do 1-1 em três ocasiões. No entanto, Bozenik atirou ao lado, numa ocasião, e viu Diogo Costa tirar-lhe o golo com uma grande defesa. Também Yusupha Njie, dentro da área, rematou ao lado.

O FC Porto sobreviveu, aumentando a grande superioridade nos dérbis da cidade. Venceu 17 dos últimos 18 duelos contra o Boavista e não perde contra o rival axadrezado desde 2006/07, há 21 partidas. No futebol da primavera há mais resistência que desfrute, mais roer de unhas que perfeição estética. O FC Porto vai para as últimas quatro jornadas a quatro pontos do Benfica.