Haverá poucas sensações mais incómodas para os adeptos de um clube que tem como objetivo vencer títulos do que a noção de que, à falta de alguns jogos para terminar a temporada, já há pouco em disputa para o conjunto que apoiam. As metas estabelecidas nas diferentes competições foram, qual castelo de cartas, caindo umas atrás de outras, numa desilusão prolongada que se junta no momento em que parece já ser impossível salvar a campanha.
Para o Sporting, esse instante ocorreu após a segunda mão dos quartos-de-final da Liga Europa, contra a Juventus. Há muito arredados da luta pelo título, caindo com estrondo frente ao Varzim na Taça, perdendo a final da Taça da Liga frente ao FC Porto, era na prova internacional que os leões colocavam os sonhos, as expetativas, a crença. O dissabor frente aos italianos conjugou-se com o duro olhar para a tabela do campeonato, a qual atesta que, além da enorme distância para o Benfica, mesmo FC Porto (a nove pontos) e Sporting de Braga (a sete pontos) estão muito longe, o que equivale a dizer que os milhões da Liga dos Campeões se afastam de Alvalade.
Assim, para os verde e brancos, a visita a Guimarães foi uma espécie de princípio do fim da época, de marcha não triunfal rumo ao não glorioso adeus a 2022/23. Antes de defrontar o Vitória, faltavam seis jornadas para a temporada do Sporting acabar e a falta de fascínio por um encontro à segunda à noite parecia feita de propósito para ilustrar a dura ressaca que ainda se sente em Alvalade.
Mas, se em Guimarães se deu o princípio do fim desta época, também se poderá ter começado a dar o prólogo da seguinte, o prefácio de 2023/24. Quem sabe, começando já a construir a nova temporada, tal como Rúben Amorim fez quando chegou a Alvalade, antes do ano do título.
Nessa perspetiva, depois de uma primeira parte agarrada à tristeza que paira em ambas as equipas — o Vitória vinha de um ponto somado nas últimas cinco rondas, o Sporting de três desafios sem ganhar —, o segundo tempo arrancou com a marca registada de uma das figuras dos leões. Se falámos em ano do título, é impossível não lembrar os golos de Pote, os passes para o fundo das redes do transmontano. Receção orientada, perna armada rapidamente, remate. Foi assim que o Sporting fez o 1-0, abrindo o caminho a um triunfo que se justificou pela clara superioridade no segundo tempo. Já em tempo de descontos, Arthur, saído do banco, fixou o 2-0 final.
JOSÉ COELHO/Lusa
A primeira parte foi o relato de um duelo bloqueado, que teve em agressividade nos duelos o que não possuiu em lances de perigo junto das balizas. Com efeito, no primeiro tempo, os locais não levaram Adán a fazer qualquer defesa — algo que se estendeu pela totalidade da noite —, enquanto os visitantes, apesar dos 71% de posse de bola, só realizaram um remate enquadrado com a baliza rival.
Só aos 23’ o Sporting esteve relativamente perto do golo. Nuno Santos cruzou da esquerda e Ricardo Esgaio, ao segundo poste, rematou para corte importante de Mikel Villanueva. Os leões entraram em campo algo adormecidos, sem chama, como que lambendo feridas da dolorosa eliminação europeia, quase anestesiados pela sensação de que, num certo sentido, a época praticamente acabou na quinta-feira.
Na frente de ataque do Sporting, Chermiti esteve muito incómodo na etapa inicial. Nos primeiros 40 minutos, só tocou três vezes na bola e cometeu duas faltas. No segundo tempo viria a melhorar, participando mais no jogo (só nos 15 minutos iniciais da segunda parte tocou 13 vezes na bola), servindo melhor como apoio frontal e desmarcando-se com mais sentido.
Em cima do descanso, Johnston passou por Nuno Santos e assistiu André Silva para o golo do vitória, mas o brasileiro estava sete centímetros adiantado em relação à defesa verde e branca. Foi o único momento em todo o jogo em que os minhotos assustaram verdadeiramente a defesa dos lisboetas.
A segunda parte começou com o 1-0. A clarividência de Morita encontrou Pote à entrada da área. Uma receção orientada permitiu ao internacional português enquadrar-se com a baliza de Celton Biai. A suave e subtil finalização ainda desviou em Tounkara, deixando o guardião do Vitória sem reação. Após três partidas em que só marcou duas vezes de penálti, a equipa de Amorim virava-se para a sua grande arma no momento de visar a baliza adversária. São já 20 golos para Pedro Gonçalves na temporada, 15 deles na I Liga, só sendo superado pelos 17 de João Mário e Gonçalo Ramos na luta por um prémio que ganhou em 2020/21, o tal ano do título.
Em vantagem, o Sporting ganhou conforto renovado na partida. Com Adán a nunca ser incomodado, os visitantes pareceram ir desperdiçando um 2-0 que traria outro conforto. Chermiti, na direita, preferiu rematar em posição desfavorável quando tinha Pote desmarcado no centro, e Nuno Santos serviu por duas vezes os companheiros de ataque com bons cruzamentos, mas sem remates à altura.
A entrada de Trincão na partida, aos 72', cimentou a superioridade do Sporting. O canhoto assistiu Pote aos 77', mas Bamba evitou males maiores para a sua baliza, obrigou Celton Biai a defesa apertada aos 86' e cruzou para Coates bater o guardião do Vitória aos 88', mas o uruguaio estava fora de jogo.
Moreno foi colocando homens de ataque, como Nélson da Luz ou Anderson Silva, mas a equipa da casa não teve criatividade nem engenho para ameaçar verdadeiramente o empate. Seria o Sporting a selar o triunfo. Aos 93', após pontapé longo de Adán, Arthur aproveitou a passividade da defesa local e o desacerto de Celton Biai para atirar de pé esquerdo para o 2-0.
O Sporting voltou às vitórias em Guimãres, mas o sorriso do triunfo está longe de ser rasgado. É uma leve alegria, um consolo para afogar as mágoas de uma época em que todos os objetivos passaram longe de Alvalade. Que isso tenha acontecido antes do final da época, deixando a equipa longe das decisões, será o mais doloroso para os leões.