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Crónica de Jogo

Afinal, o Sporting também sabe simplificar a vida

Os leões já venciam o Santa Clara por 2-0 aos 22 minutos, o que ofereceu a Alvalade uma noite tranquila e sossegada. A equipa treinada por Rúben Amorim esteve impecável com a bola no pé e ameaçou a goleada (terminou 3-0, Edwards fechou a contagem), mas poupou os desanimados açorianos. Sporting conquistou a quinta vitória consecutiva para a Liga, as quatro últimas sem golos sofridos. Luís Neto, ausente desde meados de setembro, voltou ao relvado e falou em felicidade, quase em lágrimas

Hugo Tavares da Silva

Carlos Rodrigues

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É talvez um sonho molhado para os treinadores: não sofrer golos e ver os avançados a marcarem golos. Aconteceu isso tudo esta noite, em Alvalade. Se o Santa Clara, último classificado a 10 pontos da linha de água, contava com 16 derrotas e três empates desde 23 de novembro, os futebolistas do Sporting aparentemente descobriram a fórmula da felicidade. Rúben Amorim avisara na véspera: “Estamos numa boa fase, estamos a crescer. Não temos sofrido golos, temos marcado golos. Não temos sofrido muitas oportunidades”. Confirma-se o diagnóstico do mister.

Bastaram 22 minutos para o bom jogo da equipa da casa dar sumo. Paulinho, depois de bola parada batida por Pedro Gonçalves, e Francisco Trincão, após condução rápida de Marcus Edwards, encaminharam o assunto nesta noite amena em Lisboa. Os jogadores do Sporting – avisados pelo treinador das virtudes de ter uma vozinha que lhes canta sobre a possibilidade de poderem perder com toda a gente – estavam ligados. Com bola havia muita qualidade e entravam por todos os lados na teia pouco robusta da defesa açoriana. Manuel Ugarte controlava os espaços, o protagonismo ficava do lado dos centrais, todos com categoria com bola (Ousmane Diomande, Gonçalo Inácio, Matheus Reis) e que arriscaram com fartura, pois o grupo, reativo como lobos esfomeados, recuperava rapidamente o controlo da ferramenta redonda. Gonçalves aproximava-se do caos que pretendem criar os três avançados, ainda que sem grande afinidade com a baliza, algo que certamente sente falta. Nuno Santos e Arthur Gomes, um ativo muito válido para a ala direita, davam largura e investiam em alguns cruzamentos perigosos.

Do outro lado morava uma equipa inofensiva, as ações no meio-campo contrário eram praticamente uma miragem. O orgulho e a confiança, depois de tantos desaires, infortúnios e lamentos, não podem estar saudáveis. Sem bola, que foi quase sempre, o Santa Clara apresentava uma linha defensiva de cinco homens, com Gabriel Silva ou Allano a baixarem para junto dos defesas. Victor Bobsin era combativo, mas pecou imenso nas ações ofensivas. Kento Misao tentou dar algo à equipa, mas raramente lhe passou jogo pelas botas. Bruno Almeida é atrevido, pois claro, mas o jogo oferecia-lhe pouco mais do que intermitência. E Kyosuke Tagawa, que já andou nas bocas de muita gente por cá, era pouco solicitado, apesar da generosidade e dos bons pormenores.

Estava realmente fácil para o Sporting (por mérito próprio, naturalmente). E isso mesmo denunciou-o um golo cantado (e falhado) de Paulinho, após cruzamento cheiinho de mel de Nuno Santos, uma bola na barra de Gonçalo Inácio, após bola parada, e ainda uma aventura isolada de Edwards com Gabriel Batista olhos nos olhos. Podia ter sido uma goleada ao intervalo. Suspiravam os visitantes, já cansados de sofrer durante este campeonato. No descanso, Inácio deu lugar ao supersónico Jeremiah St. Juste. Do outro lado, Bruno Jordão entrou pelo desafinado Bobsin.

O Santa Clara, que em fugazes espaços tentava montar uma jogada a partir de trás, levou qualquer coisa diferente para o segundo tempo. O Sporting já não abafou como abafara na primeira parte. Ainda assim, o 3-0 surgiu mesmo, logo aos 52’. Os defesas açorianos cometeram o pecado capital de entregar a bola aos avançados do Sporting. Rapidamente a bola chegou aos pés finos, finos de Edwards, que até a puxou para o pior deles. Indiferente a esse assunto lateral, a bola aceitou o desafio e enroscou-se nas redes da baliza de Batista. Três-zero e, pela andadura da coisa, o assunto parecia estar encerrado.

O nível do jogo caiu. Seguiram-se as tradicionais e eternas e talvez excessivas substituições. Luís Neto, com quem Rúben Amorim diz contar, voltou aos relvados, foi ovacionado e colocou a braçadeira de capitão no braço. O defesa não atuava desde meados de setembro. Assim que tocou na bola, os homens e as mulheres e as crianças com memória aplaudiram o internacional português, de 34 anos. “Estou feliz, esta é a minha casa”, diria no final do jogo, na flash interview, quase em lágrimas. “Depois de ter estado tanto tempo fora, não tenho muitas palavras… Estou muito feliz por ter regressado. Agradeço às pessoas pelo carinho que sempre tiveram comigo.”

“Acredito que se ganharmos os jogos todos até ao fim vamos à Liga dos Campeões ou pelo menos à pré- eliminatória, é nisso que acredito”, arriscou Rúben Amorim, na véspera deste jogo. É inegável que os leões acertaram o passo e tudo pode acontecer até ao final da temporada, em que a aventura europeia ainda terá algo a dizer. Para já, tal como o treinador valorizara, a equipa vai crescendo: cinco vitórias consecutivas, quatro delas sem golos sofridos. A baliza de Antonio Adán ainda sofreu, nos derradeiros momentos do jogo, um ataque nunca visto até ali: MT chutou de longe, o guarda-redes espanhol sacudiu e, na ressaca, Andrezinho atirou ao poste.

Seguem-se os jogos com Casa Pia e Gil Vicente antes da visita a Turim, a casa da Juventus, para os quartos da Liga Europa. Quanto a contas da Liga Portuguesa, FC Porto e Sp. Braga, com menos um jogo, estão agora apenas a três e cinco pontos.