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Crónica de Jogo

Portugal entrou a perder por quatro golos no Mundial de andebol, mas os golos podem ser mentirosos

Portugal entrou no Mundial de andebol perdendo com a Islândia, por 30-26, um resultado enganador face ao jogo renhido, bem discutido e que até tinha Pedro Portela a voar com golos ao intervalo. Mas, com 10 minutos em 60 passados com menos um jogador em campo (quatro exclusões e uma expulsão), a seleção nacional acabaria por ceder

Diogo Pombo

Johan Nilsson/Getty

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Quão amigável é o andebol que nos primeiros segundos de um jogo se põe tão afável, a resinosa bola da estreia de Islândia e Portugal no Mundial começa por ser apalpada de mão em mão, sentida por palmas diversas, apertada por dedos sem pressa. São os islandeses a saírem com ela do meio-campo e apenas caminham, sem pressas, acercando-se da área de nove metros contrária enquanto trocam bacalhaus de cumprimento com os portugueses e perguntam-lhes se também querem sentir a bola, simpatiquíssimos nessas típicas tréguas de alvorada de partida.

De pouca dura foi, é-o sempre, os nórdicos logo se mexeram em trocas posicionais nesse primeiro dos ataques, grandalhões e possantes e mais corpulentos, mas nem essa tentativa ou a seguinte lhes deram baliza. Só ao terceiro o golo inaugural se chamou Bjarki Már Elisson, o ponta esquerdo que urgiu Portugal numa pressa que pareceu enervar a seleção, algo cerimoniosa a atacar os adversários: depois do novato Martim Costa, por duas vezes, sucedido por Pedro Portela, darem remates que engrandeceram a moral de Björgvin Páll Gústavsson, o guardião barbudo e de 37 anos que parou as tímidas primeiras tentativas.

Já a Islândia vencia quando o canhoto Portela correu num contra-ataque para despertar o marcador português, ao quarto minuto, ele um baixote para os padrões de altura islandeses a esgueirar-se que nem seta em qualquer bola recuperada pela seleção. Dos centímetros não depende a inspiração, muito menos a aptidão, demorou que Portugal atinasse, aliás o verbo será mesmo “acalmasse”, porque a seleção foi perdendo por dois, três, por vezes quatro golos de diferença e até o capitão Rui Silva, empurrado ao saltar para disparar, foi excluído (8’) por dois minutos quando rematou uma bola à cara do guarda-redes. Páll Gústavsson nem pareceu sentir a mossa, tal pressa teve em se virar para o árbitro a refilar.

Antes dos portugueses acumularem sequer um trio de golos, já Alexandre Cavalcanti, alto como até poucos islandeses são, teve a primeira das suas duas exclusões na primeira parte por tocar no pescoço de um adversário - a segunda foi desmiolada, por pontapear uma garrafa de água no banco de suplentes. A aritmética é fácil, Portugal esteve seis dos 30 minutos inaugurais com menos um jogador, mas quando se ouviu Paulo Fidalgo, o treinador-adjunto, um “estamos mais calmos, vamos fazer o nosso jogo, pessoal” no primeiro desconto, já os portugueses iam embalados nessa feitura.

A seleção tinha acabado de fulminar o barbudo dos islandeses com um golo em alley-oop, o engenho de Rui Silva a visualizar ligações que encontrou a impulsão de Pedro Portela que então empatou tudo (7-7, aos 17’). Era a primeira vez que dois mundos desiguais de mãos na bola se igualam no marcador. O duplo pivot da Islândia já não importunava as trocas frenéticas dos portugueses para entrar em campo quem melhor defende, André Gomes já tinha os motores quentes para ser ameaça em todos os ataques e o formidável Pedro Portela ia sendo o depósito fiel quando se precisava de uma finalização.

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Mesmo com a tal outra exclusão de Cavalcanti, a seleção não se periclitou, aguentou-se à brava e os golos foram entrando, os tipos de apelido terminado em sson iam ganhando embora só por um golo, só que não: no desfecho da primeira das partes, no derradeiro dos remates, o abono no braço esquerdo de Pedro Portela marcou num livre de sete metros. Era o seu sétimo no jogo.

Também a metade seguinte se vestiu de agruras, mais até, o tu-cá-tu-lá do empate em golos ainda se aguentou por uns minutos e pareceu, logo aos 36’, que Portugal por fim achava a brecha por onde se esgueirar. Na pessoa de Ýmir Örn Gíslason a Islândia teve a primeira exclusão, era a oportunidade para uma fuga no marcador mas a seleção só marcou um golo durante esse período, mantendo-se a jeito de algum cansaço surgir, a capacidade maior do adversário se notar mais ou, enfim, de um azar.

Quando já várias bolas tinham ido aos postes e golos sido invalidados por falta apitadas quando os remates estavam prestes a aninharem-se nas redes, um braço de Aléxis Borges em garganta alheia presenteou-o com dois minutos fora para, nem 60 segundos volvidos, uma falta de Fábio Magalhães, que ficou especado diante do salto de um adversário, provocou uma cambalhota no ar que lhe retribuiu com uma expulsão. O lateral não poderia voltar a jogo e Portugal esteve um minuto (entre os 41’ e 42’) com dois jogadores em falta no campo, mas não seria o seu fim.

Estranhando-se de sobremaneira a ausência de um Pedro Portela em chama no primeiro parcial, que cada remate armado dava em festa - só entrou para assumir um livre de sete metros e alcançar os oito golos -, a seleção conseguiu manter-se igualada ou a um, dois golos à vista dos islandeses até aos derradeiros cinco minutos. Aí sim, as esperanças ruíram.

A potência de Ómar Ingi Magnússon, senhor de sete golos bombásticos com a sua potência de disparo seja qual for a distância e desportista do ano na Islândia há já dois sóis, foi juntando os seus sete golos aos nove de Bjarki Már Elisson, cabeludo de fita na testa que se deixaria levar pelos ânimos do público islandês, todo o pavilhão parecia islandês e o melhor marcador do jogo teve a feiura de ir celebrar um golo na cara de Francisco Costa - o nórdico foi excluído e para cúmulo da lata, também o promissor português, considerado o segundo melhor jogador sub-21 do mundo e marcado bem de perto pelos adversários.