Estávamos a poucos momentos do intervalo de um jogo equilibrado e com oportunidades repartidas quando Kylian Mbappé viu a movimentação de Olivier Giroud e desmarcou o avançado, que marcou o primeiro golo para a França nestes oitavos de final frente à Polónia.
Aquele momento, para lá da libertação de tensão para os franceses, que já tinham visto os polacos muito perto do golo, foi uma espécie de passagem de testemunho por interposta pessoa. Giroud, um daqueles atacantes por quem ninguém dá muito, mas que vai acabar a carreira com números muito respeitáveis, tornava-se ali no melhor marcador de sempre da França, com 52 golos, ultrapassando, imagine-se, Thierry Henry, avançado imortal.
Porém, esse título não será seu por muito tempo - se a Terra continua a girar com normalidade, o homem que lhe ofereceu o recorde será aquele que o vai roubar.
E não só títulos com a camisola francesa. Aos 23 anos, Kylian Mbappé, agora 33 golos pela seleção, está a caminho de tantos outros feitos, à medida do seu talento, que aparece, do nada, até nos jogos em que parece ter metido folga. Este domingo, e apesar da assistência, o avançado do PSG ia sofrendo com a organização polaca e com os espaços a aparecerem na 2.ª parte, em que França foi, finalmente, muito superior, Mbappé ia desbaratando as benesses, com um misto de decisões erradas e princípios de birra de cada vez que Matty Cash, o lateral britânico feito cidadão polaco, lhe secava as arrancadas.

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Aos 74’, a França ia dominando sem controlar e a Polónia, mesmo menos organizada e fria que na 1.ª parte, ia ameaçando a possibilidade de cheirar a área. E foi num desses momentos de assédio que Kylian Mbappé decidiu deixar de ser ator secundário num jogo em que tudo lhe saía atabalhoado, sem chama, gritando frustração. A jogada até começa em Griezmann dentro da área francesa - impressionante Mundial do jogador do At. Madrid, uma espécie de faz-tudo nesta seleção, este domingo até defesa -, num alívio feio mas eficaz, que foi encontrar a equipa polaca completamente desequilibrada e Giroud pronto para avançar. O jogador do AC Milan deu para Dembélé e este para Mbappé, que surgia pela esquerda.
Havia então uma decisão a tomar: devolver o passe para Dembélé, que se tinha então instalando na área, parecia a mais sensata, mas os fora-de-série assim o são porque tornam o difícil em magia. Mbappé não devolveu o passe, chutou dali mesmo, um remate seco, repentista, que surpreendeu Szczesny.
No papel, parecia uma má decisão, porém estamos a falar de Mbappé, o homem que vai a caminho de se tornar sinónimo de Mundial. Com o relógio a beijar o tempo de compensação, mais um momento de génio, uma deambulação da esquerda para o meio e um remate ao poste mais afastado da Polónia, o 3-0 no marcador, o segundo de Mbappé no jogo, o quinto no Catar e o nono em Mundiais, depois dos quatro marcados na Rússia em 2018.
O jogo, que acabaria logo após Lewandowski reduzir de penálti, tornou-se então pertença de Mbappé que, para compararmos, já tem mais golos nesta competição que Cristiano Ronaldo, que vai no seu quinto Mundial, e igualou os nove de Messi, que também tem também cinco Mundiais no lombo. Aos 23 anos, podemos esperar tudo de Mbappé.