As quatro estações de Pogacar também se tocam no outono e chegam à Lombardia
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O esloveno da UAE-Emirates venceu a Volta à Lombardia, o último monumento do ano que agora o tem como tricampeão. Sempre atacante e espetacular, Tadej fecha a temporada ao seu estilo: na ofensiva, triunfando a solo, coroando mais uma época em que brilhou no inverno, na primavera, no verão e no outono
Ele é inevitável, canibalesco, predatório, sempre com fome, constantemente com desejo de protagonismo. Tadej Pogacar é o impossível tornado realidade em duas rodas, uma anomalia no ciclismo, um solista épico, uma lenda aos 25 anos com um tufo de cabelo a sair-lhe do capacete.
Antonio Vivaldi nasceu em Veneza e morreu em Viena e, pelo meio, escreveu as quatro estações. Talvez inspirado pelo compositor, Pogi foi a Itália fechar a época de ciclismo escrevendo as suas quatro estações. Começou a festejar no inverno, continuou na primavera e no verão e termina, agora, no outono.
Na Il Lombardia, a Volta à Lombardia, o esloveno da UAE-Emirates venceu. No último dos cinco monumentos — categoria que junta as cinco mais importantes corridas de um dia do ciclismo —, Pogacar foi o mais forte, ganhando na Lombardia como já o fizera em 2021 e 2022. Juntando este domínio nesta clássica às vitórias na Liège-Bastogne-Liège em 2021 e na Volta à Flandres deste ano, são já cinco momentos para o colossal esloveno.
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A Lombardia é a classica delle foglie morte, a clássica das folhas caídas, a grande corrida do outono. Pogacar agarrou-o para tocar a sua música, uma homenagem às estações do ano. No inverno, venceu as três primeiras provas em que participou, impondo-se na Andaluzia ou no Paris-Nice; arrancou a primavera impondo-se na Flandres, na Amstel, na Flèche Wallonne; no verão, voltou a ser batido por Jonas Vingegaard no Tour, mas caiu como os grandes o fazem, de pé, combatendo, ganhando duas etapas. E fecha 2023 chegando isolado a Bergamo, às suas ruas empedradas e empinadas.
Os 238 quilómetros entre Como e Bergamo apresentavam como grande destaque o facto de Pogacar, Primoz Roglic e Remco Evenepoel correrem juntos pela primeira vez desde 2021, justamente na Lombardia. No entanto, uma queda logo ao início deixou o campeão belga minimizado, incapaz de competir contra os restantes fenómenos.
Na era dos ousados atacantes, há um irlandês que gosta destas aventuras a solo. Ben Healy, da EF Education, foi um dos animadores da etapa. Foi apanhado no Passo di Ganda, 9,3 quilómetros a 7,1%, a subida decisiva.
Aí, Pogacar foi Pogacar. Atacou de longe, com aquelas acelerações que parecem chicotadas, um cacharolete de potência e força, de mudança de velocidade e otimismo. Só Vlasov o acompanhou, mas na descida Pogi foi sozinho e desfilou até ao triunfo em Bergamo.
Realizada desde 1905, a Lombardia é uma das corridas com mais edições do calendário, quase sem interrupções mesmo durante o período das guerras mundiais. Só em 1943 e 1944 não se disputou.
Tocando a solo as suas quatro estações, Pogacar foi saudado pelos tiffosi enquanto sorria, todo ele uma homenagem ao ciclismo. O segundo, a mais de 50 segundos, foi para o italiano Andre Bagioli, da Soudal-Quick Step, e o terceiro para Primoz Roglic, o esloveno que está de saída da Jumbo-Visma para assinar pela Bora.