Tour de France: Victor Lafay, o surpreendente vencedor de novo teste que Pogacar fez a Vingegaard
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O francês da Cofidis ganhou a segunda etapa da Volta à França, batendo os favoritos com um arranque de longe na chegada a San Sebastián. Pogacar voltou a atacar e ganhou sete segundos de bonificação face a Vingegaard, que acompanhou a aceleração do esloveno na última subida do dia mas depois não quis colaborar com o seu grande rival
Um dos temas de debate em torno do Tour de France 2023 residia em saber quem seria capaz de acompanhar Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar, os dois favoritíssimos da corrida francesa. Ora, passados dois dias de Volta a França, a primeira resposta é Victor Lafay, um francês em quem praticamente ninguém apostaria para se juntar à festa do dinamarquês e do esloveno.
Na tirada inaugural, Lafay, da Cofidis, foi quem mais de perto acompanhou os líderes da Jumbo-Visma e da UAE-Emirates na última subida do dia. Agora, na segunda etapa, um arranque inesperado deu mesmo ao francês a vitória, a primeira da sua equipa na maior das competições de bicicletas desde 2008.
Os 8,1 quilómetros a 5,3% de inclinação de Jaizkibel, com final a 16,5 quilómetros da meta, prometiam movimentações. E a Emirates não desiludiu. Majka acelerou, Yates lançou Pogacar, o esloveno atacou. Para surpresa de ninguém, só Vingegaard o seguiu.
Pogi foi buscar oito segundos de bonificação, Jonas cinco. Na descida, o esloveno pediu colaboração do dinamarquês para irem os dois sozinhos até final. O vencedor do Tour 2022 rejeitou. Lá estavam os dois, isolados do resto, na sua luta particular, Pogacar todo vigor e audácia, vontade de atacar de todo o lado, Vingegaard o senhor do controlo sereno, do domínio, apoiado pela armada invencível da Jumbo. Não tinha razões para colaborar, particularmente porque lá atrás vinha Van Aert, o faz-tudo da equipa que era o favorito no sprint no grupo restrito que chegou à bela San Sebastián.
Mas Victor Lafay quer ser o protagonista inesperado deste início de Tour. Acelerou, aproveitou um momento de indefinição, ganhou. Van Aert, frustrado, foi segundo. Pogacar fechou o pódio, somando mais quatro segundos de bonificação, num total de sete que ganhou a Vingegaard nesta jornada.
Pogacar e Vingegaard em duelo direto, com o dinamarquês a não colaborar com o esloveno
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Os 208,9 quilómetros da etapa mais longa do Tour foram, como esperado, novo banho de multidão das gentes do País Basco, onde se tem paixão pelo ciclismo como pouco se vê. Na sequência do visto na tirada inaugural, voltámos a ter um terreno ondulante, de sobe e desce, condizente com uma região onde o terreno quase nunca é totalmente plano.
A fuga do dia contava com gente ilustre: Edvald Boasson Hagen, veterano norueguês de 36 anos que já venceu três etapas no Tour, Rémi Cavagna, francês especialista no contra-relógio, e Neilson Powless, líder da montanha, 12.º na geral no ano passado e vencedor da clássica San Sebastián, nestas estradas, em 2021. Lá atrás, era sempre a UAE-Emirates quem perseguia, não deixando a vantagem alargar-se muito.
Powless, norte-americano cheio de força e amante destas cavalgadas a solo, foi acumulando pontos para a classificação da montanha. Libertou-se dos seus companheiros de fuga e entrou na ascensão final com cerca de 1,30 minutos. No entanto, as dificuldades de Jaizkibel e o aumentar do ritmo no grupo dos favoritos foram fatais para o homem da EF Education, que a mais de dois quilómetros do alto já havia sido apanhado.
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Majka, o polaco gregário da equipa de Adam Yates e Pogacar, fez a maior parte do trabalho na subida. A Jumbo-Visma voltou a evidenciar a sua força, com três homens sempre junto de Vingegaard, qual esquadrão de elite que não sairá de perto do seu líder.
Um dos momentos do dia sucedeu quando Vingegaard recusou falar com Pogacar. O dinamarquês segue o esloveno, mas vai falando pela rádio, olhando para trás, desejando que ambos sejam apanhados e o controlo seja reestabelecido. À sua frente, o esloveno é todo o oposto, amante do caos e da confusão que Jonas, para já, deseja evitar. Na geral, Pogi tem 11 segundos de vantagem para o trepador da Dinamarca. Adam Yates continua líder.
Nos quilómetros finais, todas as atenções se voltavam para Van Aert, que teve de responder a ataques de Pidcock, primeiro, e de Skjelmose, depois. Na entrada para os derradeiros 1.000 metros, Lafay veio do fundo do grupo para erguer os braços na meta, no seu grande dia de glória. Aconteça o que acontecer até final, é já um Tour de glória para a Cofidis.
O Tour prometia arrancar com fogo de artifício e está a corresponder. O País Basco não desilude, esta geração de ousados atacantes também não. A etapa três deverá trazer tréguas nos testes que Pogacar lança a Vingegaard, com 193,5 quilómetros entre Amorebieta e Bayonne a prometerem chegada ao sprint.
Não sendo favorito, há um britânico à espreita de um encontro com a história. Mark Cavendish só está a um triunfo de superar o recorde de vitórias de etapa na história do Tour, detido por Eddy Merckx.