Calças de fato de treino largas nas pernas, bamboleantes como aqueles tempos de Benfica, um polo branco arrumado para dentro da cintura. Tinha a prancheta tática encaixada entre uma mão e o tronco, o cabelo arrumado com dose de brilhantina, não muita. A fronte a carregar sobre o olhar sério, dava indicações no meio dos jogadores no velhote Estádio da Luz, com o sol extrovertido, a brilhar com o final de verão. Era 20 de setembro de 2000 e um homem carismático, na flor da idade, experimentava-se como treinador principal.
À sua volta, jogadores equipados com o tipo de tecido como o usado por transeuntes, sem fibras disto e daquilo em tecidos amigos da transpiração ou respiração da pele, ainda era outro futebol, um ainda comedido na cor do calçado, as chuteiras eram pretas com tímidos apontamentos de outras cores, nem o carismático Dani, magnético para as câmaras que iam espreitar os treinos, as fintas do cabeludo Karel Poborský ou os golos de Pierre Van Hoojdonk tinham botas pintadas a fluorescente, numa qualquer cor berrante para darem nas vistas como é hoje o esforço das marcas que calçam os futebolistas.
Há 25 anos, no seu primeiro dia de Benfica com cheiro a relva, José Mourinho era outro, enfiado noutra era. O Seixal era apenas nome de terra, sem acolher um centro de treinos do clube; a Luz tinha rugas de vivência, ainda de pé antes de ir sendo demolida para vagar espaço à modernidade do novo recinto. Treinava-se ocasionalmente no estádio, as pessoas podiam sentar-se na bancada a ver, aparecia o presidente, João Vale e Azevedo, aperaltado com gravata e fato para deitar olho também.
Mourinho mostrou-se interventivo, berrou e apontou, apertou com os jogadores, o mesmo que terá feito esta quinta-feira, a confiar nas fotografias partilhadas pelo Benfica, depois de acordar com os passarinhos no Seixal. Há 25 anos quase exatos - o primeiro treino a 20 de setembro, o segundo primeiro treino agora, a 18 de setembro -, sem um centro de treinos e por lá uma cama onde pernoitar, também fugiu de casa: disse à mulher que ia dormir num hotel em Lisboa, perto da Luz, para imergir por completo no Benfica. Há coisas que não mudam.
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