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Vendo o guarda-redes adversário “um pouco adiantado” e usando o “vento a favor”, Samuel Soares, do Benfica B, marcou de baliza a baliza

O dono das redes da equipa secundária das águias fez a bola sobrevoar todo o campo frente ao Trofense, num lance que está a correr mundo e que, garante, lhe vai “ficar na memória”, mesmo que oficialmente o golo tenha sido atribuído a guarda-redes adversário

Pedro Barata

Gualter Fatia/Getty

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Mal Samuel Soares recebe a bola à saída da área que defende, logo Carlos Matos Rodrigues, o narrador da Sport TV encarregue de contar o Trofense - Benfica B, lembra que o jovem guarda-redes dos visitantes é “capaz de pontapear a bola bem longa”. O aviso mostra que a potência dos chutos que saem das botas do guardião de 20 anos não é surpresa, mas não foi por falta de fama que Miguel Santos, a uns 80 metros de distância, conseguiria evitar o que se seguiu.

Samuel Soares controla a bola, avança um pouco e faz uns ajustes com o corpo, como que a ganhar coragem para a ousadia que se seguiria. Mal impacta uma segunda vez com o pé na bola, ela sai disparada, parecendo sair de órbita. Com efeito, desaparece do plano da transmissão televisiva por cerca de um segundo, tornando a sua trajetória uma espécie de objeto voador não identificado, de míssil terra-ar de repercussões desconhecidas.

Quando voltamos a ver o objeto da violência do pé direito do guarda-redes, ele cai sem piedade rumo à baliza do Trofense, batendo com estrondo na barra. O último ato da proeza é um ressalto em Miguel Santos, o batido protetor das redes dos locais, num desvio que, caprichosamente, leva a que, para registos oficiais, estejamos a falar de um auto-golo do guarda-redes do Trofense e não de um golo do do Benfica. No entanto, o autor moral da façanha, o homem que tudo fez para que o improvável fosse realidade, é Samuel Soares.

Aquele momento estabeleceu o 1-1 na Trofa, com o Benfica B ainda a fazer o 2-1 por Luís Semedo. No final da partida, à Sport TV, Samuel Soares revelou que não houve ali obra do acaso, como tantas vezes acontece em lances deste género, mas sim uma clara intenção: viu que “o guarda-redes estava um pouco adiantado” e que “sabia que o vento estava a favor”, pelo que “arriscou” e “felizmente correu bem”.

"Vai ficar na memória, mas o mais importante é termos conseguido a reviravolta e os três pontos", disse o jovem de 20 anos, que soma 27 internacionalizações pelas seleções jovens de Portugal.

De Palatsi a Tim Howard

Ainda que os registos oficiais inscrevam o auto-golo de Miguel Santos, Samuel Soares pode gabar-se de juntar-se a uma galeria de guarda-redes que fizeram a bola ir de baliza a baliza, invertendo a lógica e sendo os causadores daquilo que, normalmente, querem evitar.

Alguns ficaram na memória. Na I Liga, em 2003/04, Jerôme Palatsi marcou num Moreirense - Vitória, fazendo o 1-0 para a equipa de Guimarães. O duelo terminaria 1-1.

Indo à II Liga, competição em que Samuel Soares brilhou, há alguns exemplos recentes. O veterano Ricardo marcou, em 2020/21, pelo Varzim ao Mafra, Já esta época, Arthur Augusto fê-lo pelo Feirense contra o Moreirense.

Na Premier League, um dos golos mais famosos foi da autoria do norte-americano Tim Howard, pelo Everton, contra o Bolton, em 2011/12. Paul Robinson marcou, em 2006/07, pelo Tottenham frente ao Watford e Asmir Begovic conseguiu a proeza pelo Stoke City, num embate contra o Southampton, em 2013/14.