"Quando o Chalana foi para o Belenenses eu na altura era um miúdo que nem tinha carta de condução tinha e ele vinha de Cascais, apanhava-me em Carcavelos e dava-me boleia até ao Restelo. Tinha uma simplicidade e um coração enormes. Para mim, aquilo que o distinguia era o facto de ser um génio com uma humildade do outro mundo. Foi um dos símbolos do futebol português uma pessoa marcante e um exemplo para todos, principalmente para os mais jovens que privavam com ele".
No Belenenses apanhei-o numa fase em que já tinha passado todo o seu auge, mas tinha detalhes fantásticos. Pensa-se que o Chalana jogava preferencialmente com o pé esquerdo mas não era assim, ele jogava igualmente tanto com o pé direito como o esquerdo, não tinha um pé preferencial. Depois, tinha uma tomada de decisão, uma visão de jogo fora de série. Como tinha o centro de gravidade baixo, permitia-lhe a aceleração e o drible com uma rapidez e à vontade enorme.
Na fase em que o Chalana foi meu treinador, no final do treino nós ficávamos a bater penaltis e ele batia penaltis com o pé direito ou com o pé esquerdo de igual maneira. E tinha uma boa disposição e uma alma impressionante.
A simplicidade que tinha como jogador era a mesma que tinha como treinador. Era muito claro naquilo que dizia em relação ao jogo, que os jogadores tinham de divertir-se, de ter prazer em ter a bola, em jogar à bola. Foi isso que ele fez durante a carreira. A imagem que transparecia é que tinha prazer no jogo. Tinha a essência de rua, que hoje em dia se perdeu um bocadinho.
Mais do que nada, Chalana era um jogador que transportava a essência de jogar na rua, com um à vontade enorme para dentro de campo. Foi isso que fez com que ele chegasse ao nível que toda a gente sabe e fosse um exemplo para todos.
Para além da sua paixão pelos pombos. A columbofilia era o seu escape, era um hóbi que ele adorava."