Mais coisa, menos coisa, foi isto que ele disse e vou parafraseá-lo: o futebol é tática, técnica, estratégia e físico, mas também é coesão e grupo.
Lá dentro, no balneário e em frente às câmaras da Benfica TV, o mister Rui Vitória, o professor Rui Vitória, o pedagogo Rui Vitória, descomplicou o futebol e reduziu-o a um jogo de emoções e de relações interpessoais - tão importante como o Luisão acertar o passe para o Lindelöf é o Luisão não ter de acertar o passo ao Lindelöf.
Ou seja, e vão passar ao lado do palavreado de auto-ajuda, se todos se derem as mãos, a corrente de energia flui e tudo corre bem dentro do campo.
Talvez Rui Vitória tenha razão.
Num clube grande com uma grande equipa, digo, a melhor equipa entre os três grandes, o treinador tem de funcionar como um facilitador. Tem de partir do princípio que os jogadores são bons e são inteligentes, e que entendem a tática e têm a técnica simplesmente porque estão no Benfica - e isso significa que há uma estrutura e um departamento de scouting que fazem o trabalhinho deles e o técnico fará o seu.
Pão é pão, queijo é queijo.
Depois, convém também não confundir o futebolista com informações desnecessárias, mudanças súbitas à última, invenções e auto-elogios, e ao manter a coerência dá-se mais um passo em frente e esse é meio caminho andado para o sucesso - o caminho, “o nosso caminho” de Rui Vitória.
Mas Rui Vitória não é só um bom psicólogo e um bom setôr; dizer que ele é apenas isto seria injusto e redutor para o homem que acabou de liderar mais de vinte outros homens para a história de um clube com mais de 100 anos.
Não nos podemos esquecer de 2015/16 e de como ele foi criticado pela crítica (e o autor do texto faz parte do saco), e ridicularizado e diminuído pelo vizinho do lado. E não nos podemos esquecer das lesões deste ano que rebentaram o plantel, incluindo os dois mais-que-tudo (Fejsa e Jonas), da saída de Gonçalo Guedes em janeiro e da constante crítica dos críticos (e o autor do texto continuou a fazer parte do saco).
Ora porque o Benfica não jogava bem, ou, pelo menos, não jogava tão bem quanto o Benfica de Jesus. Ora porque o Benfica só sabia jogar em contra-ataque, marcar um golinho e pôr-se à coca, com cerca de zero jogo interior e zero ideias criativas e o homem, coitado, que só sabia beber água e confiar na sorte.
E, no meio disto tudo, é bom recordar o que se escreveu e o que se disse e o que cada um de nós pensou quando o FC Porto foi buscar Casillas, Maxi Pereira, Danilo e quando repescou Óliver; ou, sobretudo, quando o Sporting sacou Jorge Jesus numa primeira fase e depois Markovic, André Balada, Bas Dost, Schelotto, Alan Ruiz, Elias ou Cambpell.
Nos dois casos, o Benfica, ou melhor, Rui Vitória não teria pedalada.
Acontece que foi campeão e depois bicampeão, sem puxar a brasa à sardinha ou desculpar-se com lesões ou políticas desportivas, que existem e que ele as entende como fazendo parte do jogo.
Hoje, Rui Vitória é o professor do tetra. E nós o que somos? E o que fizemos ultimamente na nossa vida?