As restrições impostas pela covid-19 levaram a que aumentassem os traumatismos cranianos em crianças que praticam modalidades que envolvem contacto físico. Quem o diz é a fisioterapeuta sul-africana Megyn Robertson, responsável por várias clínicas especializadas em concussões em crianças e adolescentes.
“O regresso do confinamento ocorreu depois do distanciamento social, do encerramento das escolas, e teve um impacto na componente cardiovascular de crianças que, de outra forma, seriam saudáveis e fisicamente ativas”, afirmou Megyn Robertson.
Numa conferência da Irish Society of Chartered Physiotherapists, a especialista, que trabalhou na África do Sul e na Irlanda, explicou que problemas semelhantes podem acontecer após as férias de verão ou de Natal – ou um período de doença – e que as crianças não devem regressar imediatamente às modalidades de contacto. “Dizem que, no caso dos atletas profissionais, umas férias de duas semanas atrasam-nos pelo menos seis semanas no treino”, acrescentou Robertson.
A fisioterapeuta explicou: “Posso dizer que, clinicamente, as crianças são geralmente mais frágeis – especialmente nos ombros, na cintura e no pescoço, que são mais arredondados e fracos, provavelmente devido ao computador, ao telemóvel e a menos atividades no exterior. Têm tempos de reação mais lentos e corpos menos atléticos”.
Megyn explanou o seu método para contrariar esta tendência: “O meu foco é geralmente o fortalecimento da parte superior do corpo, usando, por exemplo, as barras do parque (…), ver se eles conseguem fazer mais de 10 flexões (…), atirar-lhe bolas de tamanhos diferentes para que trabalhem os tempos de reação. Não é pô-los a fazer exercício sete dias por semana”.
Segundo o jornal irlandês “Independent”, que se baseia no trabalho da cientista, existe um número de fatores de risco para os traumatismos cranianos dos jovens, incluindo uma cabeça maior relativamente ao rácio corporal, e músculos do pescoço menos fortes. “Um crânio fino sugere que os indivíduos mais jovens são mais vulneráveis. O cérebro não está completamente desenvolvido até aos 25 anos”, diz Megyn.
“O tempo de reação é um indicador importante para prevenir concussões. Quanto mais rápido for o tempo de reação, mais provável é eles conseguirem proteger a cabeça do impacto. Quanto mais anteciparem as pancadas melhor, diminuindo a gravidade do impacto na cabeça”, considera a cientista, que prossegue: “Eles também conseguem ver melhor quaisquer objetos que venham na sua direção, o que significa que têm mais tempo para se baixarem”.
Robertson disse aos presentes na conferência que “os cuidados apropriados com os traumatismos na juventude requerem um equilíbrio delicado de capacidades clínicas, diagnóstico adequado à idade e gestão individualizada para que se atinjam os objetivos ideais”. “É apenas”condicionamento geral que advém de se manterem ativos, como fazer passeios pelas montanhas, em família, andar de bicicleta ou brincar no parque”, exemplificou.
No final, Megyn Robertson resumiu a sua teoria sob a forma de um aviso: “Podemos dizer que dois anos de inatividade levariam a que as crianças e os adolescentes – que já tenham fatores de risco – perdessem a forma, com músculos do pescoço mais fracos e menos velocidade de reação, o que significa uma tempestade perfeita para a ocorrência de um traumatismo craniano”.