Portugal é um país feito de gente que medra pouco. Instalou-se entre os indivíduos o hábito de expressar grandeza de maneiras diferentes. Luís Frade é uma exceção. Matulão com 121 kg para escoltar a área, não o beliscava que o central, Milan Vuksic, fosse formigar à sua beira. A diferença entre o pivô português e o internacional bósnio é de 50 kg. Tudo combinado – massa muscular, destreza técnica e um coração que escoou as emoções certas para a cabeça –, o rendimento da seleção nacional foi hercúleo em escala similar.
Para conquistar dez golos de vantagem na primeira mão do playoff de acesso ao Mundial, o selecionador, Paulo Jorge Pereira, não foi tímido na rotação que impôs frente à Bósnia. Até tinha razões para se acanhar. A mão direita de Martim Costa, melhor marcador do último Europeu, a mão esquerda de Francisco Costa e a audácia do guarda-redes Diogo Rêma caíram da convocatória por lesão. Os Costas foram substituídos por Gonçalo Vieira e João Gomes, que, tal como a dupla de irmãos, atua no Sporting. Manuel Gaspar rendeu Rêma.
A superioridade que a priori existia e que Guimarães constatou não ser apenas teórica ajudou a que os ajustes não prejudicassem em nada o desempenho. Sem a capacidade penetradora de Martim e Francisco, Portugal, a atacar, começou o jogo com um par de laterais de remate exterior. Alexandre Cavalcanti e Joaquim Nazaré, sob a coordenação de Miguel Martins, formaram uma primeira linha que não individualizou as ações, distribuindo o protagonismo ofensivo – oito jogadores marcaram mais do que uma vez – também pelas pontas e pelos pivôs.
Benjamin Buric, o guarda-redes bósnio, mantinha o resultado a saltitar entre os três e os quatro golos de diferença, vantagem que Portugal geriu a partir do momento em que Pedro Portela abriu o marcador. Com um favorável 14-10 ao intervalo, os Heróis do Mar trocaram de guarda-redes na segunda parte. Manuel Gaspar apareceu com uma percentagem de defesas superior (11/21, 52%) em relação a Gustavo Capdeville (3/12, 25%) e, uma vez que o rendimento ofensivo se manteve em patamares aceitáveis, a seleção nacional consolidou o resultado. Ao mesmo tempo, a defesa subiu e garantiu situações de contra-ataque valiosas para a construção da almofada (29-19) em que Portugal vai repousar até à segunda mão.
De avião, a viagem até à Croácia, à Dinamarca e à Noruega, países onde se vai disputar o Mundial, dura algumas horas. Para os Heróis do Mar, 60 minutos numa segunda mão em que o nível apresentado se mantenha podem chegar para, na Bósnia, garantir o sexto Mundial, terceiro consecutivo.
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