É natural de Guimarães. Filho de quem?
Sou filho da Graça Xavier, engenheira têxtil, em Guimarães. O meu pai, perdi-o quando tinha sete anos. Teve um cancro no pâncreas. As memórias dele são vagas. Foi uma doença prolongada, lembro-me de o ver debilitado, mas sempre bem-disposto, a brincar connosco, a tentar que não notássemos tanto o que se passava.
Recorda-se como soube da notícia da morte dele?
Lembro-me perfeitamente que estava a brincar em casa da minha avó, a minha madrinha chegou à minha beira e disse de uma forma muito simples: “Olha, o teu pai agora é um anjo.” Eu era uma criança e na minha ingenuidade continuei a brincar. Só depois, à medida que vamos crescendo é que nos vamos apercebendo da dimensão. Para agravar um pouco a situação, a minha mãe estava grávida do meu irmão mais novo, quando o meu pai morreu, por isso foi uma situação muito delicada.
Tem mais irmãos?
Tenho um irmão quatro anos mais velho, que teve de crescer precocemente porque a figura paternal estava ali, pelo menos para mim. O nascimento do meu irmão mais novo, dois ou três meses depois da morte do meu pai, acabou por trazer alguma alegria e fez-nos pensar noutras coisas, distrair a cabeça, o essencial em situações como esta.
O que foi mais difícil no crescimento sem pai?
Olhamos muitas vezes a figura paterna como alguém com mais autoridade e, principalmente na minha adolescência, por incrível que pareça, senti falta de uma mão mais pesada, porque a minha mãe, com três miúdos, foi mãe e pai, mas é impossível chegar a todos os lados.
Quando diz que sentiu falta dessa mão mais pesada, significa que se via a ir por maus caminhos?
Não, nunca, nunca. Mas era um miúdo reguila, irrequieto e muitas vezes faltava essa presença para me pôr em sentido. Nunca faltei à educação com ninguém ou fui por caminhos errados, mas era reguila e às vezes faltava essa presença para nos meter mais na ordem.
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