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A casa às costas

“O Manuel Machado usava palavras ‘caras’ no balneário e gozávamos uns com os outros: ‘Queres ir ver ao dicionário o que ele disse?’”

“O Manuel Machado usava palavras ‘caras’ no balneário e gozávamos uns com os outros: ‘Queres ir ver ao dicionário o que ele disse?’”
Rui Oliveira

Francisco Ramos sofreu uma grave lesão há um ano e só agora recomeçou a dar os primeiros toques na bola. Sujeito a quatro cirurgias a uma perna, que quase foi amputada, e a um longo processo de recuperação, o médio diz querer voltar a jogar já na próxima época, pelo Radomiak da Polónia, mas confessa que tem pensado cada vez mais no futuro pós-carreira. Grande amigo de Bruno Fernandes e Raphael Guzzo, entre outros, está a construir um pequeno prédio na Póvoa de Varzim e considera que o dinheiro mais bem gasto é em viagens, nas férias

Saiu do Santa Clara, dos Açores, para o Nacional da Madeira. Como foi o primeiro impacto?
Tinha pedido informações ao meu primo [Luís] Neto, que teve passagem no Nacional durante um ano, toda a gente falava-me maravilhas da Madeira e correspondeu. É uma ilha com ainda melhor tempo, é um clube super especial, histórico. O treinador era o mister Luís Freire. Cheguei numa sexta-feira, fui ver um jogo em casa com o Belenenses, treinei durante a semana, viemos jogar a Braga e fui titular nesse. Perdemos 2-1. Quando voltei para a Madeira, na segunda-feira, apanhei covid-19. A regra era ficar em casa até testar negativo, por isso fiquei 29 dias fechado em casa, sozinho, porque a minha namorada ainda não tinha ido para lá. Tive de aprender a cozinhar [risos].

Como se entretinha?
Muita televisão, muito futebol. Os sintomas eram muito fortes, muitas dores de cabeça, febre, dores de costas. Estive quase os 29 dias sem paladar. Não sentir o prazer de comer deixou-me desgostoso [risos]. Foi difícil. Depois ainda estive mais um mês para voltar a treinar a 100%.

Apanhou Manuel Machado como treinador?
Apanhei. Veio confirmar tudo o que a malta falava dele. É um senhor, alguém super educado e instruído, com métodos de treino simples, processos simples de futebol, nada do que se usa agora, mas com um vocabulário caro, diferente [risos].

Mesmo no balneário?
Sim, mesmo para nós, às vezes acontecia dizer umas palavras mais ‘caras’ e entre nós começávamos a falar e a gozar uns com os outros: “Queres ir ver ao dicionário o que ele disse?”. Infelizmente, acabámos por descer de divisão a foi uma passagem difícil do mister, que tentou salvar aquilo, mas não foi possível.

Na sua opinião, o que correu mal?
Foi muito estranho. Acabámos a primeira volta com 21 pontos, estávamos em 8.º lugar, por aí, super tranquilos. Mas, na segunda volta, só fizemos quatro ou cinco pontos. O mister Manuel Machado entrou para os últimos dez jogos, mesmo assim não melhorou. Mas nada que justificasse. Só estive em campo com o mister Manuel Machado três ou quatro dias porque quando ele entrou tive uma pancreatite; uma inflamação grave no pâncreas, em dois dias emagreci 7 quilos e estive dois meses e meio de fora.

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