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A casa às costas

“Na Turquia, a minha mulher respondeu a um turco e ele virou-se para mim: ‘Tens de começar a educá-la, não pode falar assim com um homem’”

A jogar na Turquia há praticamente cinco anos, Fredy fez parte da equipa do Belenenses que subiu à I Liga em 2012/13, mas, passado pouco tempo, a relação tensa com Lito Vidigal e o apelo financeiro levaram-no de volta a Angola, antes de se aventurar no futebol holandês, onde mais gostou de jogar futebol até hoje. Regressou ao Belenenses, acabou por integrar a equipa da SAD, mas um convite do Antalyaspor convenceu-o a sair novamente. Casado e pai de dois filhos, confessa que passou a representar a seleção angolana ao perceber que Cristiano Ronaldo, Quaresma, Nani, entre outros, iam ficar muitos anos a jogar por Portugal

Alexandra Simões de Abreu

Anadolu Agency

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Quando pediu ao presidente do Recreativo do Libolo para regressar a Portugal, ele deixou sem entraves?
Ainda houve alguns stresses, mas como só tinha um ano de empréstimo, acabou por deixar. Regressei ao Belenenses quando a época 2012/13 estava a começar, foi quando entrou o mister Mitchell van der Gaag e acabamos por fazer aquela temporada extraordinária.

Gostou de trabalhar com Mitchell van der Gaag?
Costumo dizer que o meu pai no futebol é o Rui Jorge, mas o Mitchell é o meu segundo pai. É uma pessoa por quem tenho muito respeito e apreço. Um treinador muito bom, com um grande coração. Temos uma ligação muito boa. Das melhores pessoas com quem trabalhei.

Nessa época que referiu, foram campeões e subiram à I Liga. O que mais o marcou nessa temporada?
Logo no início houve uma coisa, de que ainda hoje falamos, a ida aos fuzileiros. Éramos um grupo de 22 ou 23 jogadores em que no máximo dois ou três tinham jogado juntos, de resto ninguém se conhecia. Antes de terminar a pré-época disseram-nos que íamos passar três dias nos fuzileiros. Aqueles três dias deram-nos uma irmandade, um companheirismo, que levámos até ao final. Para mim esse foi um dos segredos maiores porque criámos ali uma ligação muito forte.

O que fizeram nesses três dias?
Fizemos vários dos exercícios que eles fazem, como se estivéssemos na recruta. Tivemos de trabalhar em equipa, antes de fazermos alguma coisa tínhamos de estar em sintonia com os nossos colegas, essas coisas. Houve cansaço psicológico, porque quase não dormíamos, o que tornou aquilo ainda pior, mas, ao mesmo tempo, reforçou a ligação, que foi aumentando. Não sei explicar o porquê nem o como, mas criou uma ligação extraordinária uns com os outros e passámos isso para dentro de campo. Nós fomos realmente uma equipa.

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    A casa às costas

    Fredy, de 32 anos, cresceu em bairros sociais, onde o futebol era um ótimo cartão de visita para fazer amizades. Começou a jogar cedo nos Pescadores da Costa da Caparica, primeiro à baliza, apesar de ser baixinho. Depressa reconheceram-lhe outras capacidades e mandaram-no lá para a frente, onde acabou por fazer carreira. A formação foi toda feita no Belenenses, onde era chamado de “menino” por Jorge Jesus. Esteve com um pé no Benfica, mas uma lesão deitou-lhe momentaneamente os sonhos por terra. Representou as camadas jovens da seleção portuguesa, antes de voar para Angola, a terra que o viu nascer, onde presenciou episódios que o marcaram e “obrigaram” a regressar ao Belenenses, antes de voltar novamente a África