Rui Patrício
Responsável pela melhor defesa da prova e pelos poucos momentos em que demonstrámos qualidade na posse de bola, nomeadamente quando a manteve nas suas mãos. Infelizmente, as regras da modalidade impedem Rui Patrício de segurar a bola durante 90 minutos, algo que Marrocos soube aproveitar de forma mais ou menos embaraçosa.
Cédric
Seria injusto individualizar quando falamos de uma exibição colectivamente tão medíocre como aquela que vimos hoje, a não ser que o jogador em questão tenha sido dos poucos a safar-se. Fechou bem o seu flanco e só não atacou mais porque, bom, primeiro porque não é o seu forte, segundo porque nas poucas ocasiões em que tentou fazê-lo, percebeu que estava a correr sozinho ou, pior ainda, acompanhado por Bernardo Silva. Continua a ser o melhor lateral-direito da prova.
José Fonte
Foi chamado à flash, interveio e explicou que os jogadores souberam sofrer, uma ideia muitas vezes papagueada pelos jogadores quando o sofrimento infligido aos adeptos dura mais do que era esperado ou admissível. A verdade subjacente a esta afirmação parece ser a de que o sofrimento é merecido, de que todos nós somos participantes de uma missão colectiva, de um propósito maior. Ninguém espera que ele seja Kennedy em Berlim, mas quando José Fonte fala em saber sofrer, está mais uma vez a cabecear para onde está virado, onde nos espera - a nós adeptos sofredores - uma segunda bola recuperada de imediato pelo meio-campo de Marrocos. Por muito que nos queiramos convencer disso, ninguém está preparado para sofrer durante quase 90 minutos com ou por causa de José Fonte. Quando se diz que os jogadores souberam sofrer, isso parece implicar que uma segunda parte como a de hoje é uma experiência pela qual um ser humano devia estar disposto a passar. Não obstante, caminha a passos largos para uma presença no melhor onze da competição.
Pepe
Aos 8 minuto de jogo, um “pé furado”, nas palavras do comentador da SIC, pareceu anunciar o pior, mas pouco depois João Rosado observou que o corte da relva lhe parecia irregular. Talvez fosse esse o motivo da falha. Quis o destino que a falha seguinte de Pepe acontecesse num lance pelo ar, mas antes que João Rosado atribuísse o erro à pressão atmosférica no estádio, já a bola estava de volta à nossa área e não havia tempo a perder. De pé furado e cabeça ligeiramente perdida. Ainda o jogo mal tinha começado e já a síntese do jogo tinha sido encontrada, o que não o impedirá de ser o melhor em campo nas meias-finais contra a Alemanha.
Raphael Guerreiro
Nos seus melhores momentos de hoje, Raphael Guerreiro pareceu um jogador da seleção do Liechtenstein naqueles inesquecíveis oito minutos em que se viu a ganhar à Hungria no último jogo da fase de apuramento para o Mundial de 2006: feliz por ali estar, mas essencialmente borrado e sem a mais pequena ideia de como aguentaria a vantagem. Já depois do final, o presidente Marcelo explicou que esta equipa tem de se convencer que é campeã da Europa. Concordo, mas vamos encarar um jogo de cada vez. Primeiro, Raphael Guerreiro deverá voltar a convencer-se de que continua a ser o melhor lateral-esquerdo português - de preferência, partilhando essa feliz constatação na ponta do pé com os restante milhões de concidadãos, para depois sim receber com orgulho a nomeação para melhor lateral-esquerdo do mundo.
William Carvalho
A 15 minutos do fim, Nuno Luz observa que Fernando Santos pediu um esforço suplementar aos jogadores portugueses. A muito custo, William lá lhe fez a vontade e continuou a correr atrás da bola, mesmo sabendo que a sua superioridade futebolística seria incapaz de fazer face à inferioridade numérica em que se encontra no meio-campo português. Quem ler até aqui poderá pensar que não estamos perante um centro-campista brilhante, vulto maior da frieza que nos levará à conquista final, o que seria um lamentável equívoco.
João Moutinho
Depois de uma boa assistência para golo, João Moutinho lembrou-se do jogo contra Espanha e alertou de imediato os colegas dizendo “calma malta, ainda não ganhámos nada!”. Infelizmente, estes ouviram “bora malta, logo à noite não sobra vodka não sobra nada!” Assim que percebeu o equívoco, Moutinho desdobrou-se em dobras para conter o domínio avassalador da equipa marroquina, que ainda assim ganhou o meio-campo as vezes que quis, como quis, quando quis, excepto em todas as ocasiões dominadas por João Moutinho, o Bola de Ouro dos altruístas.
João Mário
Joga como se soubesse sempre o que vai acontecer a seguir, o que é manifestamente enganador. A altivez no trato da bola e aquele trote de predestinado dão orgulho por vezes, excepto quando João Mário perde a bola de forma inexplicável um segundo depois, o que aconteceu em todas as ocasiões. Foi o primeiro a saltar para as cavalitas de Ronaldo nos festejos do primeiro golo e o último a chegar a todos os outros momentos importantes do jogo. Desde que não deixe cair a taça no dia 15, está tudo bem.
Bernardo Silva
Há uma elegância no seu futebol que, se aplicada à construção frásica, justifica um cuidado especial com as palavras, uma certa forma de conduzir o verbo que TÁ BEM, DEIXA-TE LÁ DE FLOREADOS E DÁ CÁ A BOLA. Foi assim o seu jogo: um parágrafo que suspira por elogios e se vê atropelado por uma locomotiva marroquina. O jogo exigia um Bernardo capaz de guardar melhor a bola e assumir a construção ofensiva, mas ele não foi capaz de se libertar da impiedosa marcação dos marroquinos, a quem bastava espirrar para recuperar a posse. Continuariam a acossar Bernardo já depois do apito final, mas para pedir a sua camisola.
Gonçalo Guedes
Ainda não percebi se precisamos de Susana Torres ou de um exorcista, mas Gonçalo Guedes continua irreconhecível. No entanto, e para que não me acusem de ser negativo ou demasiado crítico, destaco o seu melhor momento no jogo, uma excelente assistência para Cristiano Ronaldo aos 50 minutos. Por exemplo, se eu quisesse ser realmente crítico, lembraria que essa assistência foi uma tentativa de remate, mas eu não sou assim, e o Gonçalo Guedes também é muito melhor do que se viu até agora. Tenhamos calma.
Cristiano Ronaldo
É quem mais sofre com a exigência do povo. Ronaldo continua a facturar, é o melhor marcador da prova e Portugal já fez mais pontos em dois jogos do que na fase de grupos do europeu que nós ganhámos, mas nem isso nos satisfaz. Nem a nós nem a ele, que está habituado a jogar muito e a vencer, e disso terá dado conta ao mister Fernando Santos a caminho do balneário no fim da primeira parte. Não é nem será fácil. O português comum, ou seja, todos nós excepto Cristiano, ainda não lida bem com o novo totobola existencial que define esta equipa: ganhar jogando mal, empatar jogando bem, e não perder nem a feijões. Enquanto houver Cristiano, e por muito que custe aos haters, esta última hipótese parece ainda assim a mais plausível.
Gelson Martins
Não recebeu o briefing a explicar que só os adeptos poderiam utilizar um jogo às 13h como pretexto para não trabalhar. Quando finalmente percebeu que não se aplicava a ele, amuou e não voltou a tirar os olhos do telemóvel durante o resto da reunião. Resta saber de que forma genial nos irá compensar nos próximos jogos.
Bruno Fernandes
Já em tempo de descontos, num gesto técnico pleno de humanidade, Bruno Fernandes apontou à baliza e acertou no coração de todos os presentes, colocando a bola fora do estádio e a caminho dos braços de uma criança algures no Alaska.
Adrien Silva
Entrou para segurar o resultado e qualquer colega que estivesse prestes a desmaiar. Não de cansaço, mas de emoção. É que já não estamos habituados a ganhar nesta fase das competições.