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Tribuna Expresso

Deixou Espanha, jogou nas Maldivas e agora está nas Ilhas Faroé onde encontrou o amor e a baleia. E diz o que vale o adversário de Portugal

No dia em que Portugal recebe às 19h45m as Ilhas Faroé para um jogo no Estádio do Bessa, conheça o jogador espanhol que viajou de Levante até Fuglafjørður (1562 habitantes), com paragens por Singapura e pelas Maldivas, e finalmente encontrou o seu lugar. Num sítio onde só joga "quem quiser dar tudo", come baleia e encontrou o amor. Agora é mais um a torcer pela "surpresa." Se bem que sem ilusões

Tiago Oliveira

A neve é uma constante nas Ilhas Faroés e na vida futebolística de Pedro Tarancón Antón

D.R.

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É espanhol, é central e tem 31 anos. Assim faz-se rapidamente a ficha de jogador de Pedro Tarancón Antón que se encontra no IF Fuglafjørður, clube das Ilhas Faroés. O destino não será certamente o mais provável mas a adaptação acabou por validar a escolha de um destino que não deve intimidar os futebolistas. Inóspito, pequeno, mas com potencial para crescer. Nas palavras do faroense adotado.

Olá Pedro. Antes de mais, parabéns pela primeira vitória da época [vitória por 2-1 sobre o HB]. Frio em Fuglafjørður
Antes de mais, obrigado! Aqui faz frio em todo o lado, tens que te habituar com o passar do tempo. Mas as pessoas são amáveis e a cidade muito bonita.

Como costumam ser aí as temperaturas? Não é demasiado frio para jogar futebol, ou o gelo e a neve até dão outra emoção?
Sempre, sempre baixas. No inverno, entre os 2º negativos e os 5º equanto no verão, no máximo, chega-se aos 16º. A pré-temporada costuma ser em janeiro e neva sempre, é normal treinarmos com neve mas com o aquecimento o corpo lá se habitua.

Estás aí desde 2016. Como é que um espanhol chega ao campeonato das Ilhas Faroé?
Cheguei com a agência Sarbon pela mão de Juan Luis Garcia e desde então que aqui me encontro muito feliz e a gosto neste país.

Há muitos estrangeiros aí? Costumam-se juntar?
Em praticamente todas as equipas há um estrangeiro, sobretudo africanos, europeus e sul-americanos. Todos fazem a sua vida normal, eu pelo meu lado dou-me geralmente com toda a gente até porque é muito fácil ser amigo dos locais.

O que pensaste quando surgiu a oportunidade?
Após sair de Espanha por Malta, Singapura e Maldivas, achei que era uma boa oportunidade de voltar à Europa e competir numa liga com direito a pré-eliminatórias de Liga dos Campeões e Liga Europa

És um verdadeiro globetrotter, qual foi o teu momento alto por até agora?
Acredito que o melhor virá proximamente!

Alguma vez pensaste ter uma carreira assim? Como começaste?
A verdade é que sempre quis sair de Espanha para jogar. Após sair dos sub-18 do Levante, passei muitos anos por clubes da terceira divisão e só com 27 anos é que surgiu a hipótese de sair, no início rumo a Malta. Foi o início das minhas viagens.

Como descreves o futebol aí? Foi difícil habituares-te ao estilo?
O futebol é muito físico e de qualidade. Os terrenos de jogo são artificiais, mas de última geração, no geral são bons campos. No início foi complicado adaptar-me com o frio, mas passado um mês já me sentia feroense. Há futebolistas muito bons, por exemplo, ainda há poucos dias um jogador sub-16 assinou contrato com o Sunderland, Andrias Edmundsson.

D.R.

As pessoas são fãs de futebol por aí?
Toda a gente segue os jogos, conhecem-te na rua. É normal os estádios encherem e os adeptos apoiam muito os jogadores e a equipa ao longo do jogo.

Costumas ser abordado na rua?
Não, porque as pessoas respeitam muito o teu espaço mas quase toda a gente sabe quem somos.

Leva-nos por um dia a dia típico teu.
Ora bem, acordo às 9 da manhã, tomo o pequeno almoço e vou para o ginásio fazer estiramentos. Depois regresso a casa, descanso, e só depois às 18 horas é que geralmente treinamos por causa do clima. O tempo livre aproveito para estar com a família.

Na mesa, ganham as especialidades locais ou as espanholas?
Temos de tudo, se bem que tento ter cuidado com a alimentação e seguir a minha dieta. Mas tenho que reconhecer que pratos típicos como o peixe seco, o cordeiro e a baleia sabem muito bem de vez em quando.

Recomendas ir para aí jogar?
Sem dúvida, é um país onde o futebol tem muito interesse e é bom para estar centrado e competir.

Que conselhos deixas a quem possa estar interessado?
Quem quiser vir tem que estar muito bem preparado fisicamente e disposto a dar tudo em cada desafio. Se não tiveres essa mentalidade, não serves para este futebol.

Estás satisfeito com a vida aí? Já tens duas pessoas novas na tua vida, pelo que o perfil de Facebook nos diz...
[Risos] É verdade, a Julia [namorada] e a Elsa [filha de Julia] são a minha vida. E agora em dezembro vou ser pai pela primeira vez, estamos muito contentes e emocionados.

O que pode Portugal esperar do jogo com as Ilhas Faroé? Quais são os grandes perigos?
É uma equipa muito dura e física, apesar de um dos melhores centrais não estar disponível, Natestad. O melhor jogador é o Joan Simun Edmundsson, que joga no OB da Dinamarca. Bom extremo esquerdo, capaz de fazer muitas assistências e com faro para o golo.

As pessoas estão entusiasmadas com o jogo? Quais são as expectativas?
Os adeptos são realistas e sabem que ganhar é praticamente impossível mas têm a ambição de, pelo menos, competir a bom nível.

Vais ver? Qual é o teu prognóstico?
Estarei em frente à televisão com toda a minha família faroense. Aposto num 3-1 para Portugal com golo de Edmundsson.

D.R.

O futebol aí tem condições para evoluir?
Sim, está a crescer muito rapidamente, tentam seguir o exemplo que a Islândia deixou no último Europeu, até porque os dois povos são quase irmãos.

Já te converteste às Faroés? É para ficar?
Sou espanhol e serei sempre espanhol mas estou a adorar viver aqui, sinto-me em casa. Confesso que não me importava de ter dupla nacionalidade entre Espanha e Ilhas Faroé. A carreira não é fácil, mas considero-me um privilegiado.