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A vida de Marozsan: num dia ganha-se ao número um do mundo, no outro é-se eliminado no qualifying de Roland-Garros

Há pouco mais de uma semana, Fabian Marozsan, de 23 anos, eliminou Carlos Alcaraz do Masters de Roma, onde conseguiu a primeira vitória em jogos ATP. Esta quarta-feira, o húngaro perdeu na 2.ª ronda do qualifying do Grand Slam de terra batida contra um tenista chinês de 18 anos, que virou a agulha contra o feiticeiro

Diogo Pombo

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O ténis é tramado por motivos diversos, vetar quem segura na raquete à solidão no court serve como exemplo e por depender só, e sempre, apenas de si próprio, um tenista sujeita-se à frugalidade da existência humana: há uns dias bons, outros maus e pode avistar-se inesperados quando se cruzam dois jogadores nesses polos opostos. Há uma semana, em Roma, tenista algo incógnito de seu nome Fabian Marozsan, derrotou quem é, por estes dias, um dos mais populares dos seus pares, Carlos Alcaraz.

Por momentos no topo figurado do mundo, o húngaro ganhou ao espanhol que factualmente habita no cume do ténis, dando uma surpresa à modalidade que não é pródiga nelas. Na capital italiana, o tenista de 23 anos, então o 132.º classificado do ranking, demorou uma hora e quarenta e dois minutos a fixar um 6-3, 7-6 contra o embalado Alcaraz, que tinha um rácio de 30 vitórias e duas derrotas em 2023. Até ao Masters de Roma, jamais Marozsan tinha sequer vencido um jogo em torneios ATP. “Tentei simplesmente fazer algo especial”, disse então, confessando que o objetivo para a prova era “ganhar um jogo do qualifying”.

O húngaro perderia na ronda seguinte, os oitavos de final, perante Borna Coric, mas o feito de fazer cair o hoje sinónimo de pujança no ténis ninguém lhe tira, ainda para mais quando Rafael Nadal está inativo desde o Open da Austrália e Novak Djokovic ainda parece estar à procura da melhor forma após falhar os Masters norte-americanos devido à sua aversão às vacinas. “Tinha sido o meu sonho na noite anterior”, admitiu, extasiado e “muito feliz”. Esta semana, o ténis agora tem-no como mais um exemplo das suas colinas.

Esta quarta-feira, coube a Fabian Marozsan estar do lado não afortunado da surpresa - ou talvez não surpreenda assim tanto. O húngaro, agora o 115.º do mundo, perdeu, com um duplo 6-3, frente a Juncheng Shang, um chinês de 18 anos que até já espreitou mais longe do que ele. Filho de pai futebolista, que escalou até à seleção nacional, e de mãe campeã mundial no ténis de mesa, Juncheng virou o primeiro chinês a ganhar um jogo no Open da Austrália, em janeiro, embalado pela bagagem trazida do escalão júnior que nada garante para o assalto às raquetes adultas.

Marozsan foi derrotado pelo outrora número um mundial de juniores e prosseguirá sem pisar o court de um torneio do Grand Slam, pouco mais de uma semana contada desde que ganhou ao jogador de quem se espera uma luta pela conquista de Roland-Garros. A volatilidade do ténis escancarada para quem a quiser ver, mais uma vez, embora Juncheng Shang não seja uma enorme surpresa: treina há muitos anos na Flórida, EUA, “desde os 6 ou 7 anos” que pretendia ser profissional, contou ao “New York Times”, e já é representado pela IMG, a gigante de assessoria desportiva recheada de estrelas entre os seus clientes. Algum dia poderá ser o chinês a aparecer mais acima da pirâmide.