De regresso à competição no Masters de Roma após uma lesão no cotovelo direito o ter obrigado a prescindir do torneio de Madrid, Novak Djokovic concedeu uma entrevista ao diário “Corriere della Sera” em que repassou não só momentos da sua carreira como pessoas essenciais, memórias de infância, rivalidades, desilusões e os últimos três anos, em que a sua persona pública sofreu, devido às posições sobre a pandemia e vacinação.
Num ano em que finalmente poderá voltar a competir nos Estados Unidos, agora que o país retirou qualquer restrição à entrada de não-vacinados, Novak Djokovic voltou a negar o carimbo de símbolo anti-vacinas. “Sou pró-escolha: defendo a liberdade de escolher. É um direito humano fundamental ser livre para decidir que coisas injetas ou não no teu corpo”, explicou o número um mundial, que frisou ao diário italiano que “95% do que se escreveu e se disse na televisão” sobre si nos últimos três anos é “totalmente falso”.
Djokovic queixou-se ainda da imprensa. A BBC, diz, eliminou muitas das frases que disse sobre a questão de escolha numa entrevista que o sérvio deu após ser expulso da Austrália, em janeiro de 2022. Ao “Corriere della Sera” fala ainda de um “sistema”, do qual fazem parte “os meios de comunicação”, que o usou como imagem de algo que ia “contra a corrente”. A etiqueta de “anti-vacinas”, conta, é algo que ainda lhe dá “dores no estômago”, para logo atirar um argumento já visto: “O que aconteceu é que a situação da pandemia era muito diferente daquela que nos apresentavam. Agora a OMS disse que o vírus já não é tão grave…”.
Em 2023, Djokovic regressou à Austrália para ganhar. Mas saiu de lá “dececionado”. Com quem? “Com os meios de comunicação e muitos colegas”. E membros da organização. Nomes não diz, mas garante ter visto ali “o verdadeiro carácter de muita gente”.
Shi Tang/Getty
Recorda os dias retido no Park Hotel de Melbourne, antes de ser deportado, como “uma prisão” em que nem sequer podia “abrir uma janela”. Ali conheceu um jovem sírio preso naquelas instalações há nove anos. “Agora está nos Estados Unidos e quando voltar este verão quero encontrá-lo e vou convidá-lo para ver-me no US Open”, revela.
As amizades impossíveis com os rivais
A era dos Big Three ficou marcada pelo enorme respeito que sempre parece ter existido entre Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer. Mas mesmo que o sérvio se tenha despedido de Federer de lágrimas nos olhos durante a Laver Cup de 2022, entre ambos não há uma relação de amizade.
“Nunca fomos amigos. Entre rivais não é possível. Mas nunca formos inimigos. Sempre tive respeito por Federer, foi um dos maiores de todos os tempos. Mas nunca fomos próximos”, conta. Com Nadal, a história difere: houve relação, mas esfriou com o tempo. “Ele é só um ano mais velho que eu e somos do signo Gémeos. No início até íamos jantar juntos às vezes. Mas até com ele a amizade é impossível”, diz, frisando, no entanto, que sempre respeitou o rival e que sente “gratidão” por Nadal e Federer. “Nadal faz parte da minha vida, nos últimos 15 anos vi-o mais do que à minha mãe”, atira o sérvio, que cresceu numa família de esquiadores e que era fã do mítico Alberto Tomba até aparecer o ténis na sua vida.
Pouco depois de começar a jogar, Djokovic sentiu na pele as guerras civis na Sérvia e os bombardeamentos da NATO em 1999 a Belgrado. Depois de recordar as primeiras bombas, o fumo nas ruas e os traumas que ainda sente - diz ainda ter receio de “ruídos fortes e repentinos” -, o tenista de 35 anos manifestou-se contra a Guerra da Ucrânia.
“O que posso dizer, como um filho da guerra, é isto: na guerra ninguém ganha. É o mais feio que existe, a pior invenção do homem, a pior ideia da história. Vi duas guerras, vi o sofrimento da minha família, a pobreza do meu país. Infelizmente a guerra na Ucrânia é lenta e cada dia é mais devastadora. Há cidades destruídas, vidas truncadas e danos que não se vêem e que vão perdurar no tempo”, atira.
O sérvio, em plena preparação para Roland-Garros, apurou-se esta terça-feira para os quartos de final do Masters de Roma, ao bater Cameron Norrie em dois sets (6-3, 6-4).