Iga Swiatek tem um jeito de ser muito peculiar. Adora ler e música rock, possui um sentido de humor cheio de sarcasmo, ri-se de si própria sem complexos, parece ser genuinamente simpática e preocupada pelo bem-estar de quem o rodeia.
No entanto, o retrato da personalidade da polaca de 21 anos estaria incompleto sem falar da sua incrível competitividade, do seu apetite voraz por ganhar. Num mundo do ténis feminino cheio de incertezas, em que a irregularidade é a norma e ninguém parece capaz de manter a constância, ela é a única certeza, a única regularidade, a guardiã solitária de uma certa previsibilidade.
Em Nova Iorque, Swiatek derrotou, por 6-2 e 7-6 (5), Ons Jabeur, vencendo o US Open pela primeira vez. É o seu terceiro torneio do Grand Slam, depois de Roland-Garros em 2020 e 2022, tornando-se na primeira jogadora desde Angelique Kerber, em 2016, a ganhar mais do que um major na mesma temporada. A tal consistência no topo.
A hora e 53 minutos que durou a final teve dois períodos bem diferentes. O primeiro parcial durou apenas 31 minutos e foi palco de um duelo desigual. Swiatek começou logo a quebrar o serviço da sua adversária e, ao longo de toda a partida, seria sempre melhor, mais agressiva, mais precisa do que a tunisina.
O 6-2 com que se selou o primeiro set evidenciava a diferença de argumentos demonstrados. Para evitar que Iga ganhasse uma 11.ª final consecutiva, Jabeur tinha de fazer o que ninguém havia conseguido na dezena anterior: ganhar um parcial à focada polaca.
Matthew Stockman/Getty
E Ons Jabeur subiu o nível no segundo parcial, que teve momentos de qualidade muito elevada. A tunisina, que não esconde o desejo de ser uma inspiração para as mulheres do mundo muçulmano, tem um ténis cheio de artifícios técnicos, slices e nuances, longe da monotonia que se vê noutras tenistas.
Cada jogadora quebrou o serviço da sua adversária por duas vezes nos oito primeiros jogos da equilibrada segunda partida. Iga chegou a ter um match point com 5-6 no marcador, mas Ons salvou-o. Tudo se decidiria no desempate.
No tie-break, nenhuma das jogadoras conseguiu ser regular a servir. Iga perdeu o seu saque quatro vezes, Ons cinco. No final, prevaleceu a consistência férrea da polaca, aquele x factor de campeã, de quem sabe o que é pisar e ganhar nestes palcos. Jabeur, depois de perder Wimbledon, volta a cair numa final de um dos principais torneios do calendário.
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Encontro terminado, Iga atirou-se ao chão em celebração, sendo prontamente abraçada pela sua rival. Na cerimónia de entrega do troféu, a polaca dirigiria palavras elogiosas à tunisina de “grande nível” com quem, acredita, ainda terá mais batalhas e será “batida nalgumas”, pelo que Swiatek diz a Jabeur que “não se preocupe”.
Com 57 vitórias e apenas oito derrotas em 2022, este é o sétimo título da polaca em 2022. Segue-se a Doha, Indian Wells, Miami, Estugarda, Roma e Roland-Garros.
Swiatek chegou a somar 37 triunfos consecutivos nesta temporada, mas depois de erguer o troféu em Paris o seu rendimento caiu. A polaca confessou, após a final do US Open, que “voltar depois de ganhar um Grand Slam é sempre difícil”, o que dá mais valor a este êxito numa cidade “com muitas tentações”, cheia de “pessoas inspiradoras”.
O ténis feminino vê lendas saírem de cena, jovens com aparições súbitas que desaparecem, jogadoras que ocupam os primeiros lugares do ranking sem nunca se terem aproximado de finais de majors. No meio disto tudo, Iga Swiatek é a rotina, o confortável comboio que parte sempre a horas e cuja ausência só notamos quando não está lá.
Tem mais pontos no ranking WTA do que as números 2 e 3 do mundo somadas. É a incontestada rainha do ténis mundial.