Márcio Freire tinha 47 anos, nacionalidade brasileira e sofreu uma queda enquanto surfava na praia do Norte. A informação, avançada pela Autoridade Marítima Nacional esta quinta-feira, deu conta da morte de um surfista no afamado lugar de peregrinação na Nazaré, onde acorrem homens e mulheres para se fazerem às gigantescas massas de água que por lá entram.
Os Bombeiros Voluntários da Nazaré receberam o alerta às 16h20 e o surfista (cuja identidade não chegou a ser revelada pela autoridade), foi “resgatado para o areal pela mota de água de apoio à atividade”, já que praticava surf de tow-in - quando o surfista, já de pé na prancha, é rebocado com uma corda para entrar na onda. Os nadadores-salvadores verificaram que “a vítima se encontrava em paragem cardiorrespiratória, iniciando de imediato as manobras de reanimação”, lê-se no comunicado feito pela Autoridade Marítima.
Após várias tentativas de reanimação, contudo, “não foi possível reverter a situação” e o “óbito foi declarado no local”, tendo o Gabinete de Psicologia da Polícia Marítima sido “ativado para prestar apoio aos familiares da vítima”. A última publicação feita por Márcio Freire no Instagram, há cinco dias, mostrava-o acompanhado pelos pai na Nazaré.
Márcio Freire, natural da Bahia, pode ser descrito como um free surfer cujo chamariz predileto eram as ondas gigantes que poucos se atrevem a visitar no mar. Sem desejos por demonstrar-se em competições, o brasileiro terá sido dos primeiros a atreverem-se a remar sem ajudas de jet-skis para a onda Jaws, na ilha havaiana de Maui, outro dos lugares no planeta onde a natureza mostra a magnitude das suas entranhas aquáticas.
A “Globoesporte” lembra-o como um dos ‘Mad Dogs’, trio de surfistas brasileiros popularizados pela partilha da coragem em fazerem-se a ondas de 10, 15, 20 ou mais metros. Os outros são Danilo Couto e Yuri Soledade. A Red Bull, marca bastante ligada ao surf, descreveu-os como responsáveis por puxarem “os limites do surf de remada” em Jaws.
Respeitado e renomeado no meio das ondas gigantes, Márcio Freire tudo perseguiu pelo prazer da adrenalina. “Nunca vivi do surf, nunca ganhei dinheiro com o surf. Tive pouquíssimas vezes, contadas num dedo, dinheiro que veio do surf”, chegou a dizer ao canal “Let's Surf”, numa das suas derradeiras entrevistas. Uma das exceções aconteceu em 2015, quando se filmou o documentário para narrar a vida dos ‘Mad Dogs’ e respetivas aventuras. Ganhou 1.000 dólares.
Márcio Freire “era mais soul surfer” e “não ligava muito” ao resto. No mesmo auto-retrato, recordou como nunca “correu muito atrás” de patrocínios ou prize moneys: “Ia vivendo a minha vida e era aquilo mesmo, trabalhar para me autosustentar e me autopatrocinar”.