A Nazaré acordou: "Começaram a entrar umas bombas incríveis. Estou com a fisgada para apanhar a maior onda da minha vida"
A junção de duas tempestades algures no Atlântico encaminhou uma ondulação monstruosa para Portugal e, claro, para ser magnificada pelo canhão subaquático da Nazaré. Durante a manhã e tarde desta quarta-feira, vários surfistas acorreram à praia e enfrentaram as ondas gigantes. Estas são algumas das melhores imagens captadas por quem lá esteve a ver surfistas como Nicolau Von Rupp, que à Tribuna Expresso disse que o mar "estava inacreditável"
29.10.2020 às 9h00








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No porto da Nazaré está o abrigo dos doidivanas que se fazem ao mar quando o mar se faz para não ser fazível. Há lá pranchas compridas e pesadas em proporção às ondas nas quais se medem, há coletes insufláveis para vestir entre a pele e os fatos de surf, há também motas de águas em seco para serem postas no molhado e serem a ajuda possível, e a única, que nunca ganhará à natureza por mais motorizada que seja.
É dali que sempre partem para onde não é suposto irem.
Pondo-se as condições à medida do que abeira a Nazaré no fundo do oceano, o mar agiganta-se e as enormizam-se, os tais doidivanas já o esperavam porque há previsões que o anunciavam e eles saem porto fora com os fatos, os coletes, as pranchas e as motas de água. E na quarta-feira, quando vários surfistas entraram na aventura salgada, "o mar estava inacreditável" com tudo o que de subjetivo há nos adjetivos e na voz de Nicolau Von Rupp, a mesma que calcula em "30 pés" a altura das ondas.
Eram "para aí quase uns 10 metros", desabafa ele que "não estava gigante", a subjetividade está nos olhos de quem a vê e os olhos do surfista português há muito que veem beleza em fintar as ondas gigantes da Nazaré sem delas fugir, mas descendo-as depois de remar ou de ser puxado para elas, como neste primeiro dia de 2020 em que uma ondulação monstruosa criou um estado de mar "perfeito, perfeito, perfeito".
O português, de 30 anos, conta à Tribuna Expresso que ficou "na fisgada de que iria ser um dia perfeito".
Só que o mar subiu, di-lo como se plano estivesse, as turbulentas águas que curiosos viajam de longe para avistarem do alto de um farol virou "uma confusão do caraça de correntes" marítimas, o sol outonal enfraquecia, o dia entardecia, aí "começaram a entrar umas bombas". A voz de Nicolau parece que muda, capta-se a mais leve das impressões de espanto no seu relato, mas logo ele retoma a adrenalina que trouxe o oceano e conta como apanhou "uma onda boa e grande", foi "parar ao inside" e o mar pô-lo no sítio.
No lugar onde as espumas reinam, os restos de ondas desmanchadas se recatam e ele não conseguiu "voltar ao outside porque estavam umas linhas com 22 de período", que é Nicolau Von Ropp a traduzir o que sabia ter lido nas tabelas das previsões e que, no fundo, se traduz na alta cadência com que ondas se estavam a formar. "Não dava para passar a rebentação e foi esse o meu dia", concluiu, a naturalidade a dar-lhe tom à oratória.
O golpe da fisga que lhe invadira as expetativas no início deste dia terá a mesma golpada na manhã desta quinta-feira, Nicolau viu as previsões, sabe que o raiar do novo dia ainda teria o canhão da Nazaré a disparar as bombas que lhe rebentam a felicidade e por isso se despede com "a fisgada" com que voltará a zarpar do porto de abrigo: "apanhar a maior onda da minha vida".
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