Yago Dora era um conhecido, um mau conhecido. Foi este surfista, um ávido voador que se aproveita das ondas como rampas de lançamento, coisa típica de brasileiro, o último a ter eliminado Frederico Morais.
Aconteceu em França, na praia de Hossegor, nem há duas semanas, onde não lidou com o improviso aéreo de Dora e abandonou a areia desiludido.
Agora, aqui em Peniche, a réplica dessa bateria, de novo à segunda ronda, foi atacada pelo português com a urgência de um ajuste de contas, ainda mais urgido por estar na sua terra e diante dos seus, que não era tantos como se esperaria - quando Kikas se fez ao mar, as nuvens já não se continham e largavam chuva com força sobre a praia.
O português, intenso, remou com velocidade e fez-se às pequenas ondas que sobraram do dia. Era o mar mais encolhido e infiel de Supertubos a funcionar. Foi o primeiro a surfar, esteve sempre à frente no número de ondas e, também, na qualidade que nelas deixava.
Pedro Mestre/WSL
Frederico esmiuçava as paredes com rasgadas, multiplicava-as tanto quando conseguia, carregava no pé de trás apoiado na prancha, tentava aumentar o leque que desenhava com cada manobra. Assim foi buscar o 5.67 e o 5.77, uma junção da qual Yago Dorade não se aproximou, incapaz de fugir da água para o ar, traído pela falta de tamanho das ondas.
Kikas sobreviveu na água salgada enquanto as águas caiam do céu, com maior força a cada minuto. As pessoas que resistiram na praia gritavam a cada manobra completada pelo português. “É superespecial poder contar com vocês, tem sido um ano complicado, mas têm estado do meu lado e agora vamos para a frente”, disse, à saída do mar.
Frederico Morais está na terceira ronda do Meo Rip Curl Pro. Resistiu às piores ondas que esta edição gerou, até agora, e acordará, na quinta-feira, para o que se prevê que seja um mar restaurado à sua espetacularidade tubular.
Também está prevista chuva. Pode ser um bom sinal.
