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Estes dois foram juntos para a Austrália - isso pode vir a ser muito bom para um deles

Vasco Ribeiro tem 22 anos e quer chegar onde Frederico Morais chegou em dezembro. Por isso, juntou-se ao primeiro português a ter chegado a esse tal sítio, que é o circuito mundial de surf. Tiago Pires é o novo agente e mentor do ex-campeão mundial junior, que também passa a trabalhar com José Seabra, antigo treinador de “Saca”

Diogo Pombo

Hugo Silva/RedBull Content Pool

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Há dias, chegou um e-mail às redações com três fotografias, um comunicado lá dentro e um texto a dar conta do que se tratava. Dois tipos, ambos surfistas, iam passar a trabalhar juntos. Tendo em conta quem eles são, esta amizade transladada para a vida laboral era uma coisa boa, em teoria. Por causa, lá está, de quem eles são.

O primeiro é Tiago Pires, que está prestes a desembarcar na estação dos 37 anos e já anda no surf há muito. Há tanto que, durante muitas primaveras contadas, sempre que ouvíamos falar de ondas e de surf em Portugal era por causa dele – um lisboeta que se fez surfista e, em adolescente, se pôs a viajar à volta do planeta à caça de uma coisa que muito poucos, além dele, sabiam exatamente o que era.

Durante oito anos, a começar numa época sem aparelhos que cabem numa mão e, com chamadas e internet, encurtavam distâncias e abafavam saudades, ele foi tentando. Viajava até às provas do circuito de qualificação e delas tentava retirar os pontos para entrar no circuito que interessava. Onde surfavam os trinta e tal melhores do mundo. Começou em 1999 e só o conseguiu em 2007. No ano seguinte, nós e tudo quanto é estrangeiro de países com a cultura de surf que Portugal não tinha - e ainda não tem - habituámo-nos a vê-lo por lá.

A aventura dele durou sete anos.

Solitária, também. Nenhum outro português conseguiu apanhá-lo a tempo e a melhor companhia que teve foram brasileiros, que cada vez mais se tornaram bons nas ondas em que antes apenas abundavam americanos e australianos. Em 2014 ele foi eliminado do circuito. A idade, uma mulher e um filho lembraram-lhe que tudo tem um tempo e ele, entretanto, parou.

Enquanto Tiago Pires estava a pensar em deixar de competir, o segundo tipo tornava sério o caso em que se estava a tornar.

Carlos Pinto

Vasco Ribeiro é campeão nacional com 17 anos, o mais imberbe de sempre a consegui-lo, em 2011. Um ano passa e ele fica em terceiro lugar no Campeonato do Mundo de surf, que é um evento único e isolado do circuito mundial. O surfista nascido no Estoril, nas barbas da praia, já viaja e compete muito, é falado, reconhecem-lhe potencial e adivinham-lhe futuro. Em 2012, no Guincho, torna-se campeão do mundo júnior, mesmo ao lado de casa.

Na mesma altura em que vence o título por cá, começa a competir lá fora. Fá-lo desde 2011, muitos anos a viajar, tentar, experimentar ondas diferentes, insistir, a perder mais do que a ganhar. Ele viaja, sobretudo, com Frederico Morais, o surfista que tem dois anos a mais do que ele e quer o mesmo que ele.

Ambos surfam e lutam e perseguem o objetivo de entrarem no circuito mundial de surf, enquanto sofrem com as comparações com Tiago Pires, o primeiro a conseguirem o que eles querem. Mas é Frederico, e não Vasco, a chegar lá primeiro, no final de 2016 e a garantir que vai passar este 2017 a dar voltas ao mundo na companhia dos melhores a fazer o que ele faz.

E Vasco, vendo Frederico a ganhar-lhe essa corrida, quis ter companhia que o ajudasse a ir ter com ele. Foi aí que fez o convite, no final do ano passado, que juntou os dois tipos desta história, o par que, esta quinta-feira, entrou no primeiro dos aviões para chegar à Austrália - onde, aliás, Frederico Morais já está há umas semanas, a preparar a primeira etapa do circuito mundial de surf, que decorerrá em Snapper Rocks, praia em Coolangatta, na costa este do país.

Vasco Ribeiro chegará ao país com Tiago Pires como agente e mentor, com quem espera “trabalhar e trabalhar bem” e aproveitar “toda a experiência” que ele tem. Saca vai surfar por ondas que não conhece, algo que o alicia e fez aceitar o convite: “Quero ser o pilar que está por trás do atleta para o apoiar em tudo o que for preciso. A ideia é fazer do Vasco um atleta completo e consistente. Para mim o Vasco é talvez o maior talento que Portugal já viu crescer em termos de surf e o potencial dele chegar muito longe é grande”.

Talvez. Daí também que, a estes dois, se tenha juntado um terceiro, chamado José Seabra, que pegou em Tiago Pires quando ele era um miúdo e o foi treinando durante a aventura que ele teve. Agora será o treinador de Vasco Ribeiro neste ano em que ele voltará a competir no circuito de qualificação. Vai à Austrália para surfar em dois eventos - o Maitland and Port Stephens Toyota Pro, em Newcastle, e o Australian Open of Surfing, em Manly, praia no norte de Sydney.

Lá, e depois, em outros lugares, eles vão estar juntos. O resultado que se espera é que mais um português chegue ao circuito mundial de surf.

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