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Leão sem estrela

O Sporting perdeu (1-0) em Arouca, somando a sétima derrota em 17 jogos na temporada. Amorim fez muitas mexidas no onze, mas os leões foram perdulários na finalização no começo e no fim da partida, voltando a sofrer de bola parada pelo meio. O Benfica está a 12 pontos

Pedro Barata

OCTAVIO PASSOS/LUSA

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Quando é que o que era virtude tornou-se defeito, o que era força tornou-se fragilidade, o que era certeza tornou-se dúvida? É difícil precisar, sobretudo neste futebol de calendário concentrado em que parece que o dia a seguir ao jogo anterior é a véspera do seguinte. Mas, para o Sporting, a derrota, por 1-0, em Arouca, pareceu concentrar muito do que no passado valorizava esta equipa e agora a trama.

No limite, tudo se resume às áreas. Ao acerto na contrária e segurança na própria. Ou o oposto. Na sétima derrota em 17 encontros em 2022/23 e na quarta em 11 jornadas — registo que nos remete para tempos sombrios em Alvalade —, a falta de contundência atrás e de eficácia à frente fez lembrar o guião dos desaires contra o Desportivo de Chaves ou Varzim.

Houve uma altura em que o Sporting parecia condenado a marcar no final, guiado pela famosa “estrelinha” do ano do título, com as bolas a terem íman para a cabeça de Coates. O que antes soava a promessas de golo, agora tem ares de fórmula gasta na qual, por vezes, parece que os protagonistas já não acreditam.

Houve um tempo em que o Sporting oferecia garantias na defesa das bolas paradas. Agora, os momentos antes de um livre lateral ou canto recordam traumas recentes. Braga. Marselha. Varzim. Tottenham. E Arouca. Foi, justamente, após um canto que João Basso se elevou e deu os três pontos aos locais, que nunca tinham, sequer, pontuado contra o Sporting. Houve uma fase em que o Sporting ameaçava bater recordes de registos defensivos positivos. Agora leva nove jogos seguidos a sofrer golos. Quando é que o que era virtude se tornou defeito?

O mais desconcertante será a irregularidade mostrada. Há uma derrota em casa com o Chaves dias antes de um triunfo na Alemanha contra o vencedor da Liga Europa; bate-se o Tottenham, quarto classificado da passada Premier League, para depois ser batido pelo Boavista; luta-se pelo triunfo até ao fim em Londres para depois levar zero pontos de Arouca. Conjuga-se isto com um adversário que voa no topo da confiança e o resultado é claro: 12 pontos de distância do Benfica à 11.ª jornada.

OCTAVIO PASSOS/LUSA

Com a sequência de compromissos a apertar e condicionado por algumas lesões, Rúben Amorim apresentou um onze surpreendente. Houve seis alterações face à equipa que empatou contra o Tottenham, com Dário Essugo a estrear-se na equipa principal esta época e Nazinho e Arthur a serem titulares pela primeira vez.

O guião do arranque do duelo foi, basicamente, a história do desperdício leonino. Essugo liderava bem a pressão no miolo e Rochinha e Arthur combinavam bem na frente, mas a pontaria não era a melhor.

Trincão, isolado, não conseguiu bater Arruabarrena, com Arthur a desperdiçar a recarga. Inácio, de cabeça, não teve pontaria, tal como Pote não conseguiu rematar quando estava isolado. Rochinha, após contra-ataque, também não conseguiu bater o guardião rival, tal como Ricardo Esgaio, de regresso ao onze após três partidas ausente. O que poderia ter sido uma entrada autoritária esfumou-se por falta de pontaria, de acerto, talvez de estrela, signifique isso fortuna, talento ou capacidade.

Do outro lado, o Arouca de Armando Evangelista chegava ao embate confortável por cinco partidas sem perder. Com uma linha defensiva muitas vezes bastante subida, a equipa da casa apostava na conjugação das canhotas de David Simão e Alan Ruíz com a velocidade de Bukia ou Daddagh. Aos 40', Bukia, isolado por Antony, viu Adán negar-lhe o 1-0 com uma grande defesa. O intervalo chegou com nulo no marcador.

OCTAVIO PASSOS/LUSA

Do Sporting do desperdício do arranque da partida passou-se, depois, para uma equipa algo apática, com poucas soluções e com alguns dos jovens que foram lançados a parecerem até perdidos em campo. Aos 47', chegaria o tal canto que derrubou o leão.

Da direita, David Simão levantou a bola com a precisão que lhe reconhecemos no pé esquerdo. Entre Nazinho e Essugo, Basso elevou-se para cabecear para golo, voltando a expor as dificuldades do Sporting nas bolas paradas. A tal virtude do passado que agora se transformou em fragilidade, qual moeda em que as caras se tornaram coroas e as coroas caras.

Amorim reagiu ao golo lançando, nos 10 minutos seguintes, Pedro Porro, Ugarte, St. Juste, Edwards e Nuno Santos. A revolução no onze inicial ficava-se por ali, na esperança de que os homens mais rodados endireitassem a exibição. Mas não foi assim, e Tiago Esgaio ameaçou o 2-0.

OCTAVIO PASSOS/LUSA

Durante largos períodos do segundo tempo, o Sporting não criou perigo. Circulava pelos centrais, levava a bola até aos flancos, mas tinha pouca criatividade e desequilíbrio. O Arouca, instalado perto da área, transpirava conforto.

Ugarte, sem soluções, rematou num par de ocasiões muito longe do alvo. Edwards e Pote tentavam tabelar entre uma floresta de pernas, mas sem êxito. Porro abria os braços perante a falta de soluções, Nuno Santos parecia rematar quando talvez fosse melhor passar e passar quando talvez fosse melhor rematar.

A partir dos 80', o Sporting voltou a ser perigoso. Já com Coates em versão avançado, os leões passaram a ter finalizações de perigo dentro da área. Só que, aí, o que antes era força voltou a vestir-se de fraqueza.

Não houve estrela porque não houve acerto, tal como nunca tem havido noutras destas tentativas finais ao longo da época. Arruabarrena evitou o golo de Porro e de Coates, sendo a defesa ao uruguaio a melhor da noite. Quando o guardião falhou, Nuno Santos rematou fraco. Numa das últimas oportunidades, Pote, muito perto da baliza, atirou ao lado.

O falhanço do melhor marcador de 2020/21 simboliza melhor que nada como as virtudes de outrora podem agora ser vistas como fragilidades. A irregularidade deste Sporting de faces tão diferentes complica as ambições para uma temporada tão marcada pela concentração de jogos em poucos dias. Sem a estrela do leão, foi o Arouca que no final lançou (literalmente) os foguetes da festa.