José Preto não é um advogado cinzento. Sobretudo nas redes sociais. O advogado que defende Bruno de Carvalho nesta providência cautelar contra a atual direção do Sporting usa o Facebook com frequência e os posts que partilha estão, por norma, carregados de ironia e ideias politicamente incorretas. Um exemplo? Este texto publicado a 20 de agosto do ano passado: “Há coisas que me agradam muito nos últimos quarenta anos. A diminuição da mortalidade infantil é uma delas. É claro que não parece razoável retirar o crédito de tal coisa ao sistema nacional de saúde, mas é igualmente inegável que a natalidade se reduziu a metade. O prolongamento da esperança de vida também me agrada. Mas a brutalidade dos números na redução da população a partir dos 65 anos coincide com a falta de respeito pelos velhos a que tenho assistido, mesmo nos hospitais (senão mesmo sobretudo aí). Sem intervenção de médicos amigos, um internado de oitenta anos está em perigo iminente.”
Durante o mediático julgamento a Frederico Carvalhão Gil — o ex-agente do SIS condenado em fevereiro a sete anos de prisão —, José Preto não se coibiu de criticar na Internet muitas das reportagens feitas sobre o caso. Acusou por exemplo uma estação de televisão de ser o “boletim oficioso do Ministério Público”. A linguagem é elegante mas quase sempre dura. E quase todos os jornais e televisões foram algo da indignação do advogado.
Nesse processo, garantiu na barra do Tribunal Criminal de Lisboa que o espião apenas mantinha negócios comerciais com o agente russo da SVR, apesar de haver desde o início fortes evidências de que Carvalhão Gil tinha passado informação secreta ao inimigo numa esplanada em Roma. Perdeu na primeira ronda, mas já recorreu para a Relação. E pondera ir até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
RODRIGO ANTUNES/ lusa
Carvalhão Gil não foi o único caso mediático que teve em mãos. Em novembro de 2012 defendeu também dois jovens detidos durante os protestos em frente ao parlamento, em Lisboa, acusando as autoridades de “comportamento inaceitável” ao mantê-los incomunicáveis durante seis horas numa cela coletiva em Monsanto, para depois os libertar sem qualquer acusação. A manif acabou com uma carga policial depois de um grupo de manifestantes ter apedrejado os agentes do Corpo de Intervenção da PSP durante uma hora.
No ano seguinte, esteve novamente contra a polícia, dessa vez do lado dos arguidos da Escola da Fontinha, abandonada desde 2006, propriedade camarária e alvo de despejo pela PSP do Porto. Considerou “disparatada” a ação policial. “Boa parte dos disparates violentos que estamos aqui a discutir não aconteceria se as pessoas olhassem para os outros na perspetiva do bonus pater [do chamado cidadão normal]”, argumentou nas alegações finais.
Pela amostra dos casos que aceita — pelo menos nos que têm direito à atenção das televisões e jornais —, José Preto parece apostar na defesa do David contra o Golias. Seguirá esta providência cautelar a mesma lógica de todos estes processos?