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O Tondela pôs o dinheiro onde a boca de Pepa estava. Mas o Sporting foi hardcore

O Sporting só passou em Tondela com um golo aos 90'+9, na última jogada de um encontro para o qual o treinador do Tondela prometeu uma equipa intensa e de "pé na chapa". E não se pode dizer que não tenha cumprido, apesar da derrota por 2-1

Lídia Paralta Gomes

FRANCISCO LEONG/Getty

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Estávamos em 1997 quando Jarvis Branson Cocker, ainda hoje no top 10 dos homens vivos mais sensuais do planeta, contou com a ajuda dos seus companheiros dos Pulp para escrever uma música em que se liam coisas como Put your money where your mouth is que numa tradução livre para o português é qualquer coisa da família do “isto da conversa é muito giro, mas prova lá o que dizes”.

A música, um épico de quase 6 minutos e meio cheios de intensidade lírica - até mais do que melódica - chama-se, convenientemente, “This is hardcore”.

Hardcore, a mesma palavra que Pepa, durante a conferência de antevisão ao encontro com o Sporting, utilizou para definir o seu Tondela, isto quando o seu Tondela joga de acordo com o seu ADN: com intensidade, “pé na chapa”, como também referiu o técnico dos beirões, num dia em que estava particularmente dado à analogia.

E segunda-feira, o Tondela pôs mesmo o dinheiro onde a boca do seu treinador estava e só não resultou porque já muito para lá dos 90’, mais propriamente aos 99’, o Sporting levou o hardcore ao extremo: um golo de Coates, com o Sporting há muito a jogar com menos um, evitou o quarto jogo seguido fora de casa no campeonato a perder pontos e, mais importante para os leões, evitou que o Sporting tivesse de olhar para cima para ver o Benfica na classificação.

Foi uma noite hardcore e Jesus terá percebido que teria pela frente uma noite hardcore quando logo no primeiro minuto de jogo viu Tomané quase a chegar a um atraso para Patrício. O jogo do Tondela nos primeiro minutos foi o jogo que Pepa queria: intenso, a pressionar o Sporting à saída da bola, com muita posse, a jogar no meio campo defensivo dos leões.

Uma atitude que se materializou ainda antes do quarto de hora, numa bela saída rápida do ataque da equipa da casa, que começou num pequeno toque de Pedro Nuno que deixou Piccini pregado ao chão e a bola à mercê de Tomané. Este, em velocidade, lançou Miguel Cardoso na área, com Coates a falhar o corte e a permitir o remate certeiro do avançado.

Golo merecido, de pé na chapa.

Miguel Cardoso fez o primeiro golo do jogo, aos 13 minutos

Miguel Cardoso fez o primeiro golo do jogo, aos 13 minutos

PAULO NOVAIS/LUSA

A partir do golo do Tondela o Sporting acalmou e, liderado por Bruno Fernandes, entrou em jogo. Depois de um primeiro momento de perigo, cortesia de Gelson Martins, com um remate na passada à entrada da área que Cláudio Ramos afastou com dificuldade, o golo apareceu aos 26 minutos. Cruzamento perfeito e profundo de Acuña e Bas Dost, de regresso ao onze após lesão, cheirou onde é que a bola ia cair, ao contrário de Ricardo Costa. Mais um golo para Bas Dost em Tondela, depois do póquer da última época.

O jogo, que já estava bom, ficou ainda melhor: até ao final da 1ª parte, houve futebol competitivo em Tondela, um jogo dividido, de bola nas duas áreas. O Sporting crescia, mas o Tondela nunca deixou de tentar sair rápido, com critério e Tyler Boyd esteve muito próximo de marcar aos 32’, com um remate potente ao qual Rui Patrício respondeu com uma defesa complicada e decisiva.

Do lado do Sporting, era Bruno Fernandes quem tinha a cabeça mais fria. O médio tentava destruir, construir e ainda finalizar. Antes do intervalo, enviou um daqueles habituais mísseis à baliza adversária, com Cláudio Ramos a evitar o golo com uma defesa que foi um autêntico míssil antibalístico. No canto, Mathieu quase marcava de cabeça.

Mathieu, o homem que acabou por ser um dos protagonistas da 2.ª parte, para mal dos pecados de Jorge Jesus. À entrada para os últimos 45 minutos, Jesus trocou um apagado Montero por Doumbia, mas o regresso do intervalo foi por demais semelhante ao início do jogo. A saber: Tondela a jogar mais, com mais posse, por cima do jogo.

E mais preocupado terá ficado o treinador do Sporting quando o central francês encostou a mão a Pedro Nuno e acabou expulso, ao ver o segundo amarelo. Estávamos no minuto 60 e toda a estratégia de Jesus afundou aí.

Uma disputa de bola, num jogo quase sempre equilibrado e dividido

Uma disputa de bola, num jogo quase sempre equilibrado e dividido

PAULO NOVAIS/LUSA

A partir da expulsão e a jogar em inferioridade, o Sporting tornou-se uma equipa sem fio e o jogo ficou partido, emotivo mas mais feio, depois de uma bela 1.ª parte de futebol. Oportunidades, muito poucas: a única flagrante só aos 87 minutos, com Doumbia a não conseguir dar seguimento a um dos inúmeros cruzamentos telecomandados de Acuña ao longo do jogo.

As emoções, essas, estavam guardadas para o final. Aos iniciais quatro minutos de compensação, João Capela juntou mais uns quantos, depois de Bruno Monteiro ter ficado prostrado no relvado após um lance com William no qual não foi marcado falta. E no último suspiro, o golo do Sporting.

O relógio já marcava 90’+9 quando William Carvalho fez um passe longo, em desespero - aquilo que no futebol americano seria um Hail Mary - Bas Dost tocou de cabeça e Ricardo Costa, num momento de infelicidade, cortou para o poste. O ressalto foi aproveitado por Coates, naquele que foi o 5.º golo do Sporting neste campeonato marcado para lá dos 90.

Resultou o Hail Mary, salvou-se o Sporting, num jogo bem jogado em alguns momentos, de emoções muito fortes em outros.

Ah, no “This is Hardcore”, há uma parte em que Jarvis Cocker diz It’s gonna be one hell of a night. E, por motivos diferentes, foi uma noite dos diabos para Tondela e Sporting.