Já faltou mais para o Campeonato do Mundo, no Catar, e qualquer ação, convicção, erro e alegria pesam. A Liga das Nações ainda é objetivo, ainda mais quando a Espanha tropeçava violentamente contra a Suíça e a liderança do Grupo 2 seria a boa nova para os portugueses, mas o Mundial é verdadeiramente o que está no horizonte. Todos os sinais contam, de futebolistas e treinador. Diogo Dalot, a ganhar espaço no Manchester United, aproveitou muitíssimo bem o castigo de João Cancelo e, para além da fiabilidade, fez dois golos no 4-0 de Portugal em Praga, contra a boa República Checa que esta noite não foi assim tão boa.
Fernando Santos, que magicou uma dupla de centrais estreante (Danilo-Rúben Dias), devolveu Bernardo Silva à direita, compondo um trio sedutor com Rafael Leão e Cristiano Ronaldo, que nos primeiros minutos chocou com o guarda-redes e ficou todo amarrotado e cheio de sangue no rosto. No meio-campo iam agarrando o jogo com as botas Rúben Neves, William Carvalho e Bruno Fernandes, que sabia encontrar o espaço para ferir os checos. O médio do United, que fez o 2-0 ainda antes do intervalo (assistência do competente Mário Rui), ofereceu a meio do primeiro tempo, mais coisa menos coisa, a felicidade a Cristiano – Leão encontrou o passe que cheirava a céu –, mas o capitão da seleção portuguesa falhou o remate. Tresandava a golo…
Que chegou aos 33’, por Diogo Dalot. Bruno Fernandes e Leão voltaram a estar na jogada. O lateral do United nunca tinha marcado pela seleção nacional, uma brincadeira que repetiria no 3-0, com um golaço com a canhota, fora da área. A confiança está mais robusta do que nunca, vai confiando cada vez mais no perfil físico para superar o adversário direto e para dar profundidade e certezas à equipa.
À passagem da meia hora, o vento levou Bernardo Silva até ao corredor central, o que é sempre um motivo para a bola ficar arrepiada. O canhoto do Manchester City fez, ainda assim, um jogo discreto, mas ia sendo um daqueles sérios e comprometidos aliados que permitiam a Portugal ter o jogo completamente dominado e controlado.
Os portugueses tinham muita bola, controlavam as ações todas, sufocavam as ambições dos rivais, que exibiram algumas investidas através das subidas de Coufal, de ações de Alex Král, com uma melena impecável, e, claro, pormenores técnicos de Patrik Schick, que falhou um penálti a poucos segundos do árbitro apitar para o descanso (mandou por cima, à Baggio). Cristiano Ronaldo meteu a mão na bola, porventura protegendo-se depois do choque com o guarda-redes checo, Tomáš Vaclík.
Quando a Espanha empatou, Dalot fez o tal 3-0, com o pé menos bom, longe da baliza. Foi um golo bonito. Segundo o Playmakerstats, do Zerozero, o futebolista do United foi apenas o sexto defesa a bisar num jogo da seleção, depois de Rúben Dias (vs Croácia), Paulo Madeira (vs Liechtenstein), Frederico (vs Angola), Humberto Coelho (vs Israel) e Jacinto (vs Roménia).
A Suíça desfez o empate, em Saragoça, e a República Checa tentou reagir, em Praga. O selecionador checo, Jaroslav Šilhavý, mexeu na equipa. Fernando Santos reagiu: Ricardo Horta, Matheus Nunes, João Palhinha e Diogo Jota entraram no relvado. O último acabaria por sentenciar o resultado, fechando-o com mais chaves do que existem no mundo. O avançado do Liverpool aproveitou um desvio de Cristiano, após um canto, para meter a bola na baliza checa, fazendo o primeiro golo da temporada. O fantasma de Poborsky, em 1996, suspirava em agonia. Ahh, a inútil memória…
Portugal voltou a ser quem é (sobretudo na primeira parte), difícil de superar e com poder para vergar outros, juntando pormenores e dinâmicas que vão alimentando a esperança para uma presença digna e competitiva no Catar 2022. Os problemas de criação de jogadas e de criatividade, por vezes, dissipam-se e parece realmente uma equipa do mais fiável que há, sendo a espaços entusiasmante. Na terça-feira, com a Espanha, basta um empate para a seleção nacional apurar-se para a Final Four da Liga das Nações (os sete futebolistas em risco para o duelo com os espanhóis estarão aptos). Será esse dado uma ratoeira?