Portugal

Fernando Santos: "Nunca pedirei para naturalizar um jogador. Mas nunca discriminarei ninguém que tenha ficado apto a representar Portugal"

Fernando Santos: "Nunca pedirei para naturalizar um jogador. Mas nunca discriminarei ninguém que tenha ficado apto a representar Portugal"
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

O selecionador nacional, em conferência de imprensa, falou sobre as estreias de Otávio, Inácio e Diogo Costa. Em relação à especulação em redor de Cristiano Ronaldo, o técnico garantiu ter "a certeza absoluta que ele está bem"

Tribuna Expresso

Mensagem para Benfica, Paços e Santa Clara
"Queria dar os parabéns ao Benfica pelo seu apuramento para a Liga dos Campeões. Em termos da projeção do campeonato nacional e do futebol português é muito importante termos três equipas na Liga dos Campeões. Só tem coisas muito positivas. E quero também dar uma palavra de força ao Santa Clara e ao Paços de Ferreira, que obviamente têm tarefas muito difíceis. Mas seria importante para nós que estas duas equipas pudessem, também, estar presentes numa competição europeia. Seria um reforço claro, não só do potencial do futebol português, mas também para a pontuação e ranking."

Razões para as estreias de Otávio, Diogo Costa e Gonçalo Inácio
"Todos os jogadores que estão nesta convocatória estavam, sem excepção, na lista de 40 jogadores para formar a opção final de 26 futebolistas para o Campeonato da Europa. A seleção sempre foi um espaço claramente aberto, como eu disse desde o início, portanto não vou falar de jogadores individualmente, porque caso contrário teria de ir do Rui Patrício até ao Rafa e dizer as razões para que vão estes e não outros. O que posso dizer é que todos estes jogadores, sem excepção nenhuma, estavam na lista de 40 quando eu preparei a convocatória para o Euro. Vocês conhecem os nossos critérios: a qualidade é o ponto fundamental, e se eles estavam nos 40 é porque eu entendo que eles têm qualidade para servir a equipa nacional. E outro ponto importante nesta fase é a identificação com os processos da equipa, esse também é um factor de peso, porque não vamos ter tempo para fazer nada. Vamos ter três jogos, os jogadores vão chegar na segunda e vou ter um treino com a equipa toda que será na terça-feira, véspera de jogo, e portanto é importante que haja um critério de identificação com o que o treinador quer. E há outro factor que teve algum peso que é a maior ou menor utilização, porque se temos vários jogadores que, na minha opinião, têm nível semelhante, então aí o tempo de jogo pode ter algum peso. E, também, nalguns casos, para além disso pode pesar o facto de, havendo um jogo particular no meio, eu ter a possibilidade de observação de alguns jogadores que não conheço tão bem."

As seleções estão condicionadas pelo fecho de mercado?
"É algo que é transversal a todas as seleções, não afeta só a portuguesa. Mas acho que, tanto eu como os meus colegas das outras seleções, conhecemos bem os jogadores, sabemos o empenho, determinação e vontade que os jogadores têm de representar a seleção nacional. E se há algo que nós, portugueses, nos devemos orgulhar é na enorme determinação e vontade que estes jogadores têm em representar a seleção nacional."

Estarmos numa fase inicial da época é uma dificuldade acrescida para a seleção?
"Espero que os meus jogadores estejam à altura do que têm feito. Os jogos serão mais ou menos difíceis dependendo, também, de nós. Mas, se os meus colegas dos clubes, já depois de dois meses de pré-época, ainda não têm a máquina afinada, claro que nós teremos ainda mais alguma dificuldade por não termos tempo para treinar. Por isso é que eu digo que um dos critérios para a convocatória é o conhecimento que os jogadores têm entre eles e que foi sendo criado ao longo do tempo."

Análise à Irlanda, o primeiro adversário
"É uma equipa que, não tendo pontos no nosso grupo, perdeu 3-2 na Sérvia, mas fez um excelente jogo, e empatou contra a Hungria antes do Europeu num encontro que poderia ter vencido. A equipa da Irlanda está a tentar alterar um pouco a sua forma de jogar. O treinador, não perdendo a característica essencial da Irlanda, com ataque rápido e procura da profundidade, já disse que quer uma equipa que tenha mais bola, com inclusão de jogadores mais jovens. É preciso estar preparado para isso, respeitando o adversário, para que possamos alcançar o nosso objetivo. Temos de saber que teremos de estar ao nosso melhor nível, porque a Irlanda é uma equipa que, como todas as equipas britânicas, trabalha muito, está sempre ativa e pronta. Se não estivermos ao nosso melhor nível podemos ter problemas."

Sobre o momento de Cristiano Ronaldo
"Tenho a certeza absoluta que ele está bem. Não me foi reportado nada pelo departamento clínico, e se o jogador tivesse algum problema, ter-nos-ia feito chegar isso. Em relação ao mercado... hoje as capas dos jornais do mundo todo falam dele. É perfeitamente normal, é Cristiano Ronaldo. Melhor marcador do Campeonato da Europa. Ainda agora, no último jogo, entrou para fazer 30 minutos e marcou um golo à Cristiano Ronaldo. Há dúvidas de que ele vem para a seleção e estará cá de corpo e alma? Se há coisa de que não se pode duvidar de Cristiano é o amor que ele tem à seleção nacional.

O que podem João Mário e Otávio trazer?
“Não vou personalizar. Podem trazer o que nós achamos que podem trazer. Um deles já passou por cá, já esteve, já não esteve, mas sempre disse que era um jogador de seleção. O outro é a primeira vez que vem, porque nós entendemos que ele tem algumas características que podem ser úteis à seleção. Não há nada melhor do que observarmos in loco para saber o que pode dar.”

Que conclusões tirou do desempenho no Europeu e que ilações tirou para melhorar?
“Nós precisamos é de os treinar. Nós até podíamos ter a opinião que haveria coisas para melhorar, mas não temos tempo para treinar. O primeiro jogo do Euro foi muito bom, uma vitória por 3-0 contra uma equipa que não teve mais nenhum resultado negativo. Depois houve um segundo jogo muito menos bem conseguido e dois encontros em que Portugal esteve em muito bom nível. O problema é que nós não temos tempo. Precisávamos de ter aqui 15 dias ou um mês para trabalhar, sem jogos, só com partidas de preparação que se fazem com equipas menos fortes para irmos trabalhando, eventualmente, uma mudança aqui ou acolá em termos de posicionamento base. Mas sem tempo é um pouco difícil que se possam fazer grandes alterações. Mas o que vamos procurar é que as dinâmicas correspondam ao que nós queremos. O Europeu 2020 não foi o que desejávamos, mas teve muitas coisas positivas. É pegar nisto, conversar com os jogadores e procurar melhorar o que fizemos bem e corrigir aquilo que, num jogo em concreto, não fizemos bem.”

Sobre o Azerbaijão
"Não vou falar do Azerbaijão, porque o Azerbaijão é um adversário para falarmos depois. Se vocês forem ver os jogos do Azerbaijão, vão ver que Portugal fez um enorme jogo contra eles na primeira parte. Nós queremos sempre ganhar sempre por seis ou sete, mas os golos estão um bocado caros e isso nem sempre acontece. Todos os jogos são importantes, até o particular contra o Catar é importante. Nós temos o objetivo de estar no Campeonato do Mundo, mas para lá chegar temos de vencer os jogos que estão no caminho. E só dependemos exclusivamente de nós, o que significa que temos de encarar cada jogo para alcançar a vitória. Estes encontros são muito importantes, como serão aqueles que virão até final da qualificação.”

Sobre Matheus Nunes
“Ele não estava no lote dos 40 antes do Campeonato da Europa, porque nessa altura não estava apto para representar a seleção nacional, só passou a estar apto há ou dois meses. É um jogador que está cá desde os 11 anos de idade, mas nós, por acaso, já no ano passado observámos com alguma regularidade. Se a pergunta é se ele estava nestes 40 que foram equacionados para esta convocatória, claramente que sim. É um jogador que faz parte das observações da seleção nacional, como fazem mais, e na observação até são mais do que 40. Ele estava na lista de 40 que são equacionados para esta convocatória. E eu quero dizer que nunca pedirei ao meu presidente para naturalizar um jogador para vir à seleção nacional, isso nunca farei. Mas também nunca discriminarei ninguém que, por opção própria, tenha ficado apto para representar Portugal. Já aconteceu no passado, já outros colegas meus o fizeram com o Pepe, o Deco ou o Liedson. Eu fiz em relação ao Dyego Sousa. Eu não discrimino ninguém. Desde que estejam aptos para representar a seleção nacional e que eu entenda que têm qualidade, fazem parte do lote de observações. Depois, se são escolhidos ou não é outra questão. Não me peçam a mim para discriminar, porque isso eu não farei. Agora também nunca irei pedir para naturalizar alguém para jogar na seleção portuguesa”

Inácio é prova que futuro do eixo defensivo está assegurado?
“O Gonçalo Inácio estava na lista dos 40 antes do Campeonato da Europa. O Inácio não é um desses casos, mas, ao contrário do que acontecia na equipa de 2015, nesta equipa de sub-21, infelizmente, muitos deles não jogam sequer, não têm essa continuidade. É pena. Este caso é um caso particular, ele ainda não tinha chegado aos sub-21 e eu percebo isso bem. A dificuldade que nós temos, e também têm no escalão abaixo, é que, obviamente, não tendo os jogadores muita continuidade nos seus próprios clubes o que é que os treinadores fazem? Ter como critério os jogadores que têm mais identificação connosco, mais identificação com a equipa, que jogam há mais tempo juntos. É um critério fundamental para que, quando vamos abordar uma prova em que não temos tempo de treino, haja capacidade para fazer as opções certas.”

Sente que geração de Dalot ou Diogo Costa está pronta para ajudar no imediato?
“No imediato, sim, mas aqueles que jogarem, porque se não tiverem continuidade é muito difícil. Se os jogadores foram escolhidos para a seleção é porque têm qualidade, mas sem continuidade torna-se difícil. O Diogo Dalot faz parte de um lote de jogadores que jogam a lateral, são 5 ou 6 jogadores que jogam lá. Ele esteve muito bem no Campeonato da Europa. Se tivéssemos algum problema no Campeonato da Europa, havia alguns jogadores que estavam prontos para entrar, e o Dalot era um deles, tal como o Diogo Costa, por exemplo. Eram atletas que estavam a jogar, vinham de uma competição três ou quatro dias antes.”

O que é que diferencia Otávio de Sérgio Oliveira ou Pizzi?
"Eu percebo a questão, mas quem é que sai? Eu escolhi 25, eu acho mais fácil dizer assim: 'na minha perspectiva, devia vir o João e não o Manel'. Eu escolhi estes porque entendo que estes têm as características para, tendo em em conta o que eu quero nestes dois jogos, me servir melhor. E são 25, se fossem 23 teríamos uma análise diferente, porque teríamos de excluir mais dois. Este é que é o exercício, não é colocar lá dentro. Isso é para definir os 40. O exercício é começar a excluir, e foi esse exercício que começámos a fazer na segunda-feira. É começar a decidir se levamos três ou quatro centrais, por exemplo. Há uma série de factores que nos levam a tomar decisões. Um exemplo concreto: nós temos seis laterais-direitos na lista dos 40 e eu só vou levar dois. Eu acho que são todos muito parecidos, portanto tenho de de ir afinando o critério porque vão ficar quatro de fora. Claro que podemos dizer que não devia vir este e devia vir o outro. Eu percebo e respeito as opiniões, é um direito que nos assiste. Desde que os comentários sejam feitos com critérios, não os que têm a ver com clubite, isso são ataques de carácter e portanto eu não passo cartão. Tudo o resto, eu aceito de forma muito clara e percebo. Podem fazer esse esforço, que é pegar em 40 e começarem, vocês a escolher os 25. Durante estes três dias de trabalho, eu e a minha equipa técnica decidimos que estes eram os jogadores que queríamos ter aqui na seleção. Não quer dizer que, na próxima convocatória, não possam estar outros. Isso pode ter influência num ou noutro jogador. Não no pacote global, naqueles 18 ou 19 que estão sempre mais perto de estar na seleção. Também não vamos dizer que podemos mudar tudo, isso não é assim. Há ali sempre 18 ou 19 que, neste momento, estão mais perto de chegar à seleção. Depois os outros depende do momento, das características… Na próxima convocatória, que é uma janela diferente, as coisas poderão ser diferentes, mas no núcleo base não.”

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt