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João Ganço abandonou a Gala do Centenário da Federação de Atletismo: “Os treinadores dos campeões olímpicos foram marginalizados”

O antigo treinador de Nélson Évora considera justa a homenagem aos campeões olímpicos na Gala do Centenário da FPA. O que o histórico técnico não compreende (além de Fernanda Ribeiro e João Campos), segundo uma entrevista ao jornal "A Bola", é que não se homenageiem também os treinadores e as treinadoras que participam nas conquistas. E que não haja mais trabalho de equipa na Federação

Tribuna Expresso

João Ganço com Nélson Évora, em 2015, durante os Mundiais de Pequim

picture alliance

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O objetivo da Federação Portuguesa de Atletismo era celebrar os 100 anos e homenagear quem se destacou ao longo desse tempo, em Portugal e levando o país à glória lá fora, nomeadamente nos Jogos Olímpicos. A cerimónia acabou em controvérsia, com Fernanda Ribeiro a demitir-se do cargo de vogal da FPA e João Campos a deixar a sala, seguido por João Ganço. Este último, antigo treinador de Nélson Évora, não ficou por aí e demitiu-se também da vice-presidência da FPA.

Ganço deu uma entrevista ao jornal “A Bola”, em que explica a atitude durante o evento e a posterior demissão. Primeiro, a versão politicamente correta: “Demiti-me por duas razões. A primeira, por considerar que o cargo de treinador em ação era incompatível com o cargo de vice-presidente.”

A segunda razão, de acordo com João Ganço, foi um protesto: “Na Gala do Centenário, os treinadores dos campeões olímpicos foram marginalizados”. O técnico afirma-se “desgostoso” por ter assistido à “justíssima homenagem aos campeões olímpicos no palco, sem que se fizesse, sequer, alguma referência aos seus treinadores”.

“Vendo que não estavam a sê-lo [homenageados], abandonei a sala com o professor João Campos que, aliás, lamentavelmente, nem sequer estava nomeado,” explicou João Ganço que, por coincidência, era ele próprio um dos nomeados. “Não sabia mas, mesmo que soubesse, a atitude teria sido igual,” esclarece. João Campos foi treinador, por exemplo, de atletas como Fernanda Ribeiro, Rui Silva ou Jéssica Augusto.

Sobre a forma como a FPA está a gerir o atletismo, o técnico salienta: “No pouco tempo em que colaborei com a direção da Federação, notei a falta de alguma auscultação no que respeita a assuntos relevantes, de fundo, às pessoas que mais diretamente (…) dominam os diversos assuntos. Como (…) o caso que deu origem a esta situação”.

Ganço refere que “quem está na direção da FPA tem valor, mas deveria ouvir mais as pessoas habilitadas e conhecedoras dos assuntos, de modo a não serem tomadas medidas injustas e inadequadas, como foi agora o caso”.

Sobre Jorge Vieira, atual presidente da FPA, cuja lista integrou nas últimas eleições, João Ganço considera que “representa bem a direção”. No entanto, o técnico refere que Vieira “coabita com a tentação do trabalho muito individualizado,” trabalho esse que, na sua visão, “deveria ser mais de equipa”.