O objetivo da Federação Portuguesa de Atletismo era celebrar os 100 anos e homenagear quem se destacou ao longo desse tempo, em Portugal e levando o país à glória lá fora, nomeadamente nos Jogos Olímpicos. A cerimónia acabou em controvérsia, com Fernanda Ribeiro a demitir-se do cargo de vogal da FPA e João Campos a deixar a sala, seguido por João Ganço. Este último, antigo treinador de Nélson Évora, não ficou por aí e demitiu-se também da vice-presidência da FPA.
Ganço deu uma entrevista ao jornal “A Bola”, em que explica a atitude durante o evento e a posterior demissão. Primeiro, a versão politicamente correta: “Demiti-me por duas razões. A primeira, por considerar que o cargo de treinador em ação era incompatível com o cargo de vice-presidente.”
A segunda razão, de acordo com João Ganço, foi um protesto: “Na Gala do Centenário, os treinadores dos campeões olímpicos foram marginalizados”. O técnico afirma-se “desgostoso” por ter assistido à “justíssima homenagem aos campeões olímpicos no palco, sem que se fizesse, sequer, alguma referência aos seus treinadores”.
“Vendo que não estavam a sê-lo [homenageados], abandonei a sala com o professor João Campos que, aliás, lamentavelmente, nem sequer estava nomeado,” explicou João Ganço que, por coincidência, era ele próprio um dos nomeados. “Não sabia mas, mesmo que soubesse, a atitude teria sido igual,” esclarece. João Campos foi treinador, por exemplo, de atletas como Fernanda Ribeiro, Rui Silva ou Jéssica Augusto.
Sobre a forma como a FPA está a gerir o atletismo, o técnico salienta: “No pouco tempo em que colaborei com a direção da Federação, notei a falta de alguma auscultação no que respeita a assuntos relevantes, de fundo, às pessoas que mais diretamente (…) dominam os diversos assuntos. Como (…) o caso que deu origem a esta situação”.
Ganço refere que “quem está na direção da FPA tem valor, mas deveria ouvir mais as pessoas habilitadas e conhecedoras dos assuntos, de modo a não serem tomadas medidas injustas e inadequadas, como foi agora o caso”.
Sobre Jorge Vieira, atual presidente da FPA, cuja lista integrou nas últimas eleições, João Ganço considera que “representa bem a direção”. No entanto, o técnico refere que Vieira “coabita com a tentação do trabalho muito individualizado,” trabalho esse que, na sua visão, “deveria ser mais de equipa”.