Várias organizações dos direitos humanos exigem que a Fórmula 1 – e todos os que nela navegam – denuncie o desrespeito pelos direitos humanos na Arábia Saudita. A modalidade prepara-se para visitar este país no próximo fim-de-semana.
O jornal inglês “The Guardian” diz que a Fórmula 1 tem sido acusada de cumplicidade em “sportswashing”, uma espécie de esponja passada em cima dos abusos cometidos, à boleia do desporto, dando uma imagem positiva de um regime muito pouco democrático. O compromisso assumido pela F1, de defesa da igualdade e da diversidade, não encaixa na cada vez maior ligação da modalidade àquela parte do mundo.
Na quarta-feira, a Human Rights Watch e o grupo Reprieve comentaram separadamente o que os preocupa na Fórmula 1. A Amnistia Internacional foi inequívoca nas críticas e a Codepink escolheu um destinatário óbvio para qualquer situação relacionada com o abuso dos direitos humanos. Sim, Sir Lewis Hamilton. O heptacampeão do mundo terá recebido uma carta assinada por 41 organizações, pedindo ao inglês que fale com os líderes sauditas sobre os direitos humanos naquele país.
O “The Guardian” lembra que a Arábia Saudita fez muito barulho por ter permitido às mulheres que conduzam, o que talvez tenha ajudado ainda mais a realçar a tremenda desigualdade entre homens e mulheres naquele país. A Human Rights Watch pediu à F1 que intervenha em nome das mulheres que lutaram por esta mudança. O “The Guardian” refere que várias ativistas foram libertadas o ano passado, depois de três anos na prisão por protestos pacíficos em nome da liberdade de conduzir. As mulheres em causa continuam com penas suspensas, impedidas de viajar e proibidas de protestar ou de falar sobre as suas detenções.
A Human Rights Watch (HRW) alerta para a “brutal resposta da Arábia Saudita às dissidências pacíficas”, desde que Mohammed bin-Salman se tornou príncipe. A organização lembra que “apesar das reformas sociais, as autoridades prisionais continuam a torturar detidas e detidos”. Na carta da HRW pode ler-se: “A Fórmula 1 está numa posição única para denunciar esta ‘lavagem de cara’ no que diz respeito aos direitos humanos ou para pressionar o governo saudita para que mude de comportamento”.
O grupo Reprieve dirigiu-se diretamente a Hamilton, que afirmou recentemente que a F1 tem o dever de investigar e fazer a diferença em temas relacionados com os direitos humanos nos países que visita. Esta quarta-feira, Hamilton recorreu ao Twitter para escrever: “Igualdade para todos”. A carta enviada pela Reprieve é assinada por vários deputados britânicos. O documento lembra que a Arábia Saudita continua a usar a pena de morte em crianças, protestantes pacíficos e pessoas que, pura e simplesmente, expressam as suas opiniões contrárias às do regime.
A carta refere o exemplo do académico Hassan al-Maliki, que enfrenta a possibilidade de ser condenado à morte por se exprimir de forma crítica em relação à história do Islão. Algumas das acusações referidas pela Reprieve incluem “posse de livros não autorizados pelas entidades competentes,” bem como a “publicação de livros” e de tweets. Lembre-se que as relações entre pessoas do mesmo sexo são proibidas na Arábia Saudita. Tanto Hamilton como Vettel, por exemplo, já se expressaram várias vezes contra a discriminação de pessoas LGBTI+.
Os próprios organizadores da prova saudita emitiram um comunicado: “Reconhecemos completamente o direito de todos os indivíduos à expressão dos seus pontos de vista. Mas estamos confiantes de que, quando visitarem Jeddah, as pessoas vejam a cultura aberta e hospitaleira que existe aqui”.
Talvez no fim de semana da Fórmula 1 consigam maquilhar a realidade. Resta saber se a organização e os intervenientes no campeonato mais importante do automobilismo de pista vai alinhar na maquilhagem ou terá a coragem de denunciar.