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Em Las Vegas tudo parece uma fábula, menos os golpes e o sangue que jorra para o octógono: fomos ver UFC na International Fight Week

Reportagens

Cooper Neill

A narrativa constrói-se ao longo da semana, alimentando-se mitos, rivalidades e provocações. Há conferências de imprensa, pesagens e cara-a-cara assombrosos que antecedem o que todos os entusiastas de MMA e do UFC querem: os combates de sábado, na T-Mobile Arena, na Las Vegas Boulevard, em Paradise. A Tribuna Expresso esteve lá e viu tudo. Ver dois corpos à bulha e não conseguir desviar os olhos talvez seja uma coisa muito primária e básica, mas no UFC é diferente

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É “horrível como o raio”, diz Simon. O calor que esmurra os espíritos chega fora de horas, tratando-se supostamente de um discreto viajante noturno que se desata das escaldantes rochas. Pouco interessa se a teoria está certa ou não, a brisa parece mesmo um suspiro picante e demoníaco constantemente a morder a nuca. Ou uma mão suada de veludo a fazer carícias. “É como um secador de cabelo”, insiste a figura que acompanha religiosamente o Ultimate Fighting Championship (UFC) e que aparece na televisão sul-africana.

Las Vegas está a ferver, não só pelo que gemem os termómetros, mas porque é a International Fight Week, com dois títulos do UFC em disputa. Há também centenas de outdoors espalhados pela cidade. Fazem lembrar lápides. Famosíssimos cantores, como Adele e Snoop Dogg, vão ali um dia destes gastar as cordas vocais. Veem-se anúncios a dar conta da presença de mágicos, com o eterno David Copperfield a congelar um sorriso cansado de sorrir. Os edifícios míticos ou os desvarios, como o clone da estátua da liberdade, vão surgindo no horizonte. Intrigam os cartazes que estão em maior número: advogados para questões relativas a lesões – “injury lawyer”, em todo o lado. Haverá também uma importante jornada de poker e um qualquer evento da NBA.

Vegas, no Nevada, parece o centro do mundo por estes dias.

A semana que vai desaguar no tensíssimo combate entre Adesanya e Cannonier, na mais alta categoria do UFC, é construída para insuflar a tensão, como se um arquiteto e um engenheiro da alma conspirassem para incendiar as entranhas dos que apreciam o que se passa dentro do octógono. Há guião, há drama a fervilhar ainda escondido atrás da garganta.

Tudo começa com uma sessão para os media, com conferências de imprensa enfadonhas e amenas. Mas depois há mais uma, já com adeptos que gritam como se precisassem de gritar para viver. Aí já houve umas bocas mordentes, o famoso trash talk, como se estivessem na escola secundária a tratar de engordar o rótulo de mauzões do grupo. Há farpas a saltar até entre lutadores que não se vão defrontar. “Vamos ali atrás e trato já de ti”, chegou a dizer algo do género Israel Adesanya ao falabarato e provocador Sean Strickland, que acabaria a contar carneirinhos depois de levar uma tareia do brasileiro Alex Pereira.

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  • No UFC também há medo
    Reportagens

    A Tribuna Expresso andou por Las Vegas durante a International Fight Week e, antes do derradeiro dia dos esperados combates, esteve com alguns lutadores do Ultimate Fighting Championship no Sindicato de Artes Marciais Mistas, que é também um ginásio equipado para lutas. Falou-se do medo, se o sentem ou não, e do que temem quando estão naquele octógono

  • Em Las Vegas, no mundo do UFC, fala-se português: “Eu digo ao Fialho que é muito inteligente e técnico. A maioria não tem essa inteligência”
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    A Tribuna Expresso esteve num dos lugares mais importantes da história dos combates. Durante a International Fight Week, que teria a decisão de títulos mundiais de duas categorias do Ultimate Fighting Championship (UFC), estivemos à conversa com Gilbert 'Durinho' Burns, um brasileiro de Niterói com ascendência portuguesa, que treina com André Fialho. Tricampeão de jiu jitsu e adepto do Fluminense, o lutador conta como chegou a Las Vegas e os planos que tem para a sua cidade