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Uma tarde dentro do estágio do AS Monaco no Algarve e da cabeça de Paul Mitchell, o homem que está a revolucionar o clube

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Treino do AS Monaco, em Lagos, Algarve

AS Monaco

A Tribuna Expresso esteve em Lagos, no Algarve, a acompanhar uma sessão de treinos do AS Monaco, um clube que se reencontrou com a chegada de Paul Mitchell como diretor-desportivo, no verão de 2020. O inglês, de 40 anos, esteve ligado ao recrutamento do Southampton e Tottenham, com Mauricio Pochettino, e depois convenceu Ralf Rangnick, que o contratou para o Leipzig. O que mudou no clube francês? Que estilo de jogo e que futebolista quer o Monaco? E a Ligue 1, é justa?

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Quando ouve que um jornal do Mónaco lhe chamou feiticeiro do futebol, o riso e a mirada devolvidos delatam alguma estupefação e uma dissimulada satisfação. Paul Mitchell é um homem relaxado. Sorri com vontade e nega os rumores que garantem que dá respostas enormes. Pede gelo para a água e parece ter todo o tempo do mundo. Não dá sinais sequer de estar ligeiramente agastado ou angustiado com as fissuras que uma janela de transferências pode abrir na alma de um diretor desportivo. O telefone não deve ter a mesma sorte.

Quando foi anunciado no AS Monaco, em junho de 2020, o clube era um hesitante reservatório de pontos de interrogação. Longe estavam aquelas épocas em que foram à final da Taça das Taças e Liga dos Campeões, em 1992 e 2004. Ou que revelavam futuros senhores deste desporto como Thierry Henry, Emmanuel Petit, Lilian Thuram e David Trezeguet, com exceção talvez para Kylian Mbappé. Mas, e apesar das agruras que o futebol sempre oferece, o magnífico e surpreendente título de 2017, com Leonardo Jardim, não foi assim há tanto tempo. Seguiu-se um jackpot com as saídas de Bernardo Silva, Benjamin Mendy, Tiémoué Bakayoko e, claro, Mbappé. Um ano depois foi a vez de Thomas Lemar e Fabinho.

A ressaca da glória foi azeda. Se em 2017/18 o AS Monaco terminou em segundo lugar, 13 pontos atrás do sempre super-favorito PSG, na Liga dos Campeões somou apenas dois pontos na fase de grupos. Um ano depois, os monegascos despenharam-se e terminaram a Ligue 1 no 17.º lugar, apenas com mais dois, três e nove pontos do que Dijon, Caen e Guingamp, os clubes em zona de despromoção. Quando a covid-19 sufocou o mundo e, por arrasto, o desporto, em 2020, a liga francesa foi abruptamente cancelada quando estavam decorridas apenas 28 jornadas. O Monaco estava na oitava posição, com tantos golos marcados como sofridos (44).

Nas últimas duas temporadas, já com Paul Mitchell na sala das máquinas e nas outras todas que surgem associadas à sua metodologia onde a performance quer ser rainha, os futebolistas que vestem uma farda cortada na diagonal, desenhada por Grace Kelly em 1960, deram seguimento a uma década importante e fecharam a Ligue 1 em terceiro lugar nas duas ocasiões, fechando um ciclo interessante de sete pódios em dez temporadas. Em janeiro, Philippe Clement deixou o Club Brugge e mudou-se para o Principado, sendo também ele recrutado com as mesmas ferramentas e lógica dos futebolistas, para encaixar num determinado modelo.

O belga, de 48 anos, seduziu os jogadores e conseguiu uma segunda volta de alto gabarito, culminando-a com nove vitórias e um empate nas últimas 10 jornadas – o empate já depois da hora contra o Lens, na última jornada, fez os monegascos perderam o segundo lugar, que se traduz num apuramento direto para a Champions. Ainda assim, a recuperação foi notável, com os índices físicos e disponibilidade no relvado a acompanharem a tendência dos pontos, como demonstrou este artigo do “The Athletic”.

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