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Sérgio Conceição, o mais rápido de sempre a ganhar 200 jogos no campeonato

Aos 48 anos, é o treinador que menos jogos precisou para chegar às duas centenas de vitórias no campeonato, superando José Maria Pedroto e juntando-se a uma lista com apenas nove nomes. Sérgio Conceição precisou de menos 49 jogos para o fazer

Diogo Pombo

Octavio Passos/Getty

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Números sem contexto são rabiscos, meros algarismos. Com a andadura da tecnologia na era moderna, a relevância do contexto deveria ser cada vez mais querida ao futebol que hoje é populado por estatísticas relativas a tudo e mais um par de botas: sabemos quão provável é um dado jogador marcar da quina esquerda da área mediante a quantidade de vezes que houve golos feitos naquele lugar, ou já se quantificam o número de passes acertados por beltrano nos últimos 30 metros ofensivos, feitos sob pressão. Nestes exemplos, não custa despistar a carência de enquadramento.

No primeiro caso, convinha saber a habilidade e talento de todos os futebolistas que antes remataram daquele sítio, àquela distância da baliza, para não aplicar uma estatística focada somente no ato de rematar nessa dita zona. No segundo, importa precisar o que é pressão (ter um adversário pela frente, pelo lado ou nas costas?, a um metro ou a encostar o corpo?) e que dose de risco houve nos passes feitos. O contexto é tudo, havendo números e estatísticas mais carentes dele. Outros há que não necessitam tanto de serem enquadrados, arregalando a atenção pelo que representam.

Assim chegamos, numericamente, a Sérgio Conceição.

No dia em que se penitenciou findo outro jogo no Estádio do Dragão, dizendo que era “culpado” pela exibição assim-assim do FC Porto contra o Santa Clara, por não ter “estado tão bem a ler o jogo”, o treinador alcançou a 200.ª vitória da carreira no campeonato. A redonda marca é das que não enganam - denota mérito, longevidade, método e sucesso do técnico, ainda mais se acompanhado do contexto indicado. Sérgio Conceição demorou 326 jogos a alcançar as duas centenas de sorrisos, menos 49 do que José Maria Pedroto, histórico técnico de quem já em janeiro superara outro registo cingido aos dragões (215 vitórias no clube).

As 200 partidas ganhas na I Liga são engrandecidas se vistas à distância. Aos 48 anos, Sérgio Conceição é apenas o 9.º treinador a superar essa marca e apenas o segundo ainda no ativo, vivaço na sua carreira. O outro é Jorge Jesus, hoje no Fenerbahçe, os restantes já não nos fazem companhia nesta vida ou estão retirados. São eles Manuel José (568 jogos/230 vitórias), Mário Wilson (528/245), Fernando Vaz (600/286), além dos húngaros Janos Biri (459/211) e Joseph Szabo (415/204). José Maria Pedroto somou 326 vitórias na Liga em 573 encontros e Jorge Jesus tem 340 jogos ganhos de 603 feitos.

Como muitos deles ou quase todos, Sérgio Conceição navega à bolina de um vento contextualmente favorável, que sopra devido à competência própria. Ele está a cumprir a 12.ª época como treinador e tem 11 contadas em Portugal, na I Liga. Ir na 6.ª consecutiva no FC Porto é um dos três teóricos melhores empurrões que um técnico pode ter para escalar neste tipo de estatística, porque treina a equipa principal de um dos ditos grandes onde por história, tradição, massa de adeptos e conta bancária moram os melhores jogadores, a melhor estrutura e a maior ambição para ser quase obrigatório vencer qualquer partida disputada em competições nacionais.

Depois de arrancar a carreira na Olhanense e Académica, ainda treinou o SC Braga e o Vitória, minhotos que também historicamente perseguem mais de perto o FC Porto, Benfica e Sporting. Em suma, pela competência própria, o técnico cedo escalou os andares da exigência aplicada no dia a dia clubístico e a lógica que se aplica nos píncaros de equipas candidatas a tudo é facilmente resumível - querer ganhar tudo e investir-se dará, a qualquer projeto, mais condições para se conseguir vencer. Sérgio Conceição é o mais rápido de sempre a alcançar as 200 vitórias no campeonato, cedo chegou a um grande, não demorou a começar a bater recordes. E, mais uma vez, colocar o feito em contexto favorece-o.