Hans Vanaken não parece dado a teatralizações corporais. O capitão do Brugge aproxima-se da bola sem freios na corrida, intui que rematará para a espera e para esse lado curva o pontapé, o seu penálti é muito transparente enquanto é pouco efetivo: a bola desvia-se apenas ligeiramente do centro da baliza e Diogo Costa, adivinhando o lado, só tem de tombar o corpo para chegar ao frouxo remate. Nunca sendo fácil um confronto a 11 metros para quem tem as luvas postas, o penálti batido pelo belga não é dos mais trabalhosos para o guarda-redes: é denunciado, fraco e carente de colocação. O difícil veio logo depois.
Ainda os jogadores do FC Porto berraram a euforia conjunta e os belgas se encaminham para bater o canto quando o VAR sussurrou ao auricular do árbitro. O penálti seria repetido e a razão não ficou bem percetível na transmissão televisiva - ou castigou a entrada na área de Stephen Eustáquio antes de Vanaken tocar na bola, ou por alguma infração detetada nos pés do guarda-redes a respeito da linha de golo. Mas, antes da primeira tentativa do Brugge, já se ouvira algo em quem emprestava a voz à narração da partida: “A questão é que está lá o Diogo Costa”.
Este tipo de frases são sempre mais acariciadoras de palpitómetro. Os penáltis não são uma lotaria ou roleta como o cliché com barbas o faz crer e, mudando o Brugge o batedor do segundo pontapé, Diogo Costa teve, em poucos segundos, de rebobinar a memória para ir buscar informação acerca de outro batedor de penáltis do adversário na análise, hoje comum nos clubes, feita previamente aos jogadores que normalmente os marcam. O lado preferencial que escolhem, a corrida para a bola, a parte do pé com que batem, se tenta enganar pela postura corporal, tudo é estudado por quem, nas equipas, resume estas informações aos guarda-redes.