O 99 denuncia tudo. Foi Vítor, o tal, o Baía, que lhe disse para o usar. É que havia condições, perspectivas importantes e qualidade nas geometrias mentais e físicas de Diogo. Nas Antas e no Dragão toda a gente sabe o que significa o número. Diogo também, mesmo tendo nascido em 1999. Hoje, Diogo é Diogo Costa e vai enchendo e tapando a baliza do FC Porto, dá a sensação até de que pode ser ainda mais importante na trama internacional do que o ídolo (o que, para os nostálgicos, é quase uma heresia). Esta noite, em Leverkusen, foram inúmeras defesas, incluíndo um penálti. E não só: da bota direita saiu uma bola redondinha, redondinha diretamente para o pé de Galeno, quase noutro código postal. O extremo brasileiro foi o outro protagonista da vitória dos dragões na Alemanha (3-0), com um golo e dois penáltis sofridos.
O Bayer Leverkusen tinha novo treinador – Xabi Alonso, que até goleou na estreia na Bundesliga (4-0 vs. Schalke 04) – e isso podia levantar algumas dúvidas quanto à montagem do plano. Sérgio Conceição colocou Wenderson Galeno na esquerda, para quem sabe explorar as fragilidades de Kossounou e ajudar a defesa para travar Adli e Diaby, quando este andava por ali (não foi raro ver o FCP com linha de 5). Jeremie Frimpong estava ausente, foi expulso na vitória dos portugueses, no Porto, há uma semana (2-0).

Alex Grimm
Um plano da televisão apanhou Conceição, nos primeiros minutos, aparentemente a pedir bolas longas para aquele lado, o seu, no corredor esquerdo portanto. Afinal, a defesa subia bastante. Pouco tempo depois, Diogo Costa fez-lhe a vontade. Uma bala saída dos pés do 99, e nesse aspeto supera a lenda certamente, encontrou milimetricamente a certeza da bota de Galeno, nas costas do lateral da equipa da casa. O brasileiro recebeu com a canhota (que receção irreal quase), avançou com a bola, foi para dentro, provocou um choque entre dois defesas do Leverkusen e bateu para o lado menos provável da baliza de Hrádecký, 1-0.
O Bayer ia defendendo em 4-4-2 e, com bola, começava com três defesas, libertando Adli e Bakker pelas linhas. Diaby e Hudson-Odoi procuravam terrenos interiores, chocando com os competentes Uribe e Eustáquio, que se vão conhecendo mais e mais, desta vez com a ajuda do regressado Otávio. Sem Pepe, a dupla voltou a ser David Carmo e Fábio Cardoso (boa exibição), que raramente foram enganados pelo bom Patrik Schick, que quando pingou um penálti para a equipa da casa não assumiu (falhou os dois que teve Diogo Costa pela frente, no Dragão e com a seleção). Demirbay bateu e o guarda-redes português defendeu, com a mão direita.
Um golo anulado ao Bayer, por mão na bola de Schick (após bom lance entre Diaby e Adli), não permitiu aos alemães espremerem o que de bom andavam a fazer. Xabi tem matéria para jogar bom futebol e ser competitivo. O FC Porto ia estando mais estacionado atrás, organizado e solidário. As saídas para o ataque tinham um problema: com Evanilson no banco, Taremi fica curto, é lento, não está talhado para essas correrias. Mas a resistência coletiva é meritória.
Ao intervalo, Sérgio Conceição sacou João Mário, discreto e algo errático, para lançar Evanilson. Pepê, já se sabe, passava para lateral direito. O FC Porto ganhava agressividade, não só de trás para a frente mas também para comer metros na frente.
Galeno, porventura a viver a melhor noite com a camisola do Porto, ganhou então os tais dois penáltis. Um feito por Adli, displicente toque, que o VAR precisou de confirmar que era dentro da área, e outro por Kossounou. Mehdi Taremi, com uma exibição distante do que tem feito, aproveitou para fazer dois golos.

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Aqui e ali, o Porto já tinha mais bola. O Bayer afrouxava nas intenções, na energia para pressionar e lançar ataques bem pensados. A dúvida entra, o cansaço idem e, apesar da goleada na jornada anterior, é uma equipa em crise de resultados.
O Bayer foi ameaçando, por Diaby quase sempre. Era o cérebro e a ousadia em pessoa. Schick confirmava que estava desafinado, e Fábio Cardoso aproveitava para fazer um corte de alto gabarito. Diogo Costa mantinha o estatuto de estrela da noite, com pelo menos quatro defesas vistosas. A segurança do rapaz de 23 anos, que quem sabe será titular no Mundial, é invejável, tanto entre os postes como nas bolas que se distanciam da relva (para nem falar dos pés, claro, que fineza a decidir as rotas de ataque), e esse é um dos sentimentos mais importantes numa equipa de futebol.
Finalmente, o Porto melhorou muito com bola. Rompeu a resistência mental do rival, foi mais forte, soube esperar, resistiu, viveu os momentos que queria, aproveitou o que criou e que o jogo lhe deu. Foi melhor. Tanto que Conceição, porventura feliz pelo desempenho da equipa, lançou ainda dois meninos: Gonçalo Borges e Bernardo Folha, filho de António Folha. Otávio deu um abraço aos dois assim que pisaram o relvado.