O futebol, para infortúnio de muitas teatralidades exageradamente interpretadas de quando em vez e um pouco por todo o lado, é uma modalidade de contacto físico, inevitabilidade que, por vezes, causa danos maiores e um desses é ver um jogador a sangrar do casulo onde está guardada a nossa parte pensante. É mau, não se quer e quando aconteceu, sobretudo quando é provocado por um choque de cabeças, os árbitros fazem o possível que lhes está ao alcance e que é parar logo o jogo para que entre em campo ajuda médica. Em Portimão, houve um infeliz azarado.
Aos 20 minutos, o alto Filipe Relvas saltou, na área, para cabecear uma bola de frente enquanto o bem mais baixo Moufi se elevou para o fazer meio de costas. O choque entre o português e o marroquino deixou o central da esquerda a jorrar sangue do nariz e o normal logo se engatilhou: os médicos de ambas as equipas foram à relva socorrê-lo, o jogador teve de sair de campo para estancar o sangue e trocar a manchada camisola. E durante a curadoria necessária ao infortúnio do jogador, o Portimonense teve que se avir com uma forçada inferioridade numérica por uns três, quase quatro minutos.
Foram esses que desequilibraram um jogo até então algo igualado pelas agulhas da pressão sobre a bola, eram duas equipas a fazerem os jogadores caírem, rápido e prontamente, junto a qualquer receção dos adversários, pressionando a campo inteiro e logo nas saídas de bola, um tu-cá-tu-lá de intenções de que o FC Porto só se libertou aí, num assalto ao retângulo à volta da baliza dos algarvios que provocou uma sucessão de acontecimentos: Rodrigo Conceição, da direita para o meio, rematou, depois Wendell rematou, a seguir Taremi rematou e os corpos que bloquearem essas tentativas nada puderem contra a tabela feita entre o peito de Otávio e a barriga de Evanílson que ser um remate do primeiro a, por fim, chegar à baliza.
Antes do 0-1 (23’), só um remate de Uribe à distância exigiu uma parada a Nakamura, guarda-redes japonês para quem a tarde se atarefou com o golo sobre o qual os dragões cresceram, de rompante, assentes na parceira de Uribe com Eustáquio na braseira do meio-campo, do aparecimento à frente destes de um Otávio a ganhar forma e das pinceladas técnicas que dão safanões nos jogos que, esta época, são Pêpê e Taremi a fornecerem com maior produção. Evanílson remataria em jeito (34’) à beira da área para a bola rasar o poste e Taremi, deixado nas barbas de uma oportunidade por um calcanhar do colega avançado e de um pente passado na bola pela sola do extremo brasileiro, também o faria para o guardião voar (39’) e defender.
A hibridez com que o FC Porto, sobretudo à esquerda, faz o iraniano ir trocando de posicionamentos com a dupla de brasileiros - com Taremi a ser o foco que decide tabelas e triangulações - é um grande alimentador do jogo ofensivo da equipa, ao qual acrescentar um Otávio que, mesmo soluçante esta época devido a repetentes mazelas, exponencia os restantes com o seu cariz de jogo.

LUIS FORRA/LUSA
Nesses três geradores de ideias atacantes se encosta a equipa, tendo-os em sincronia fomentou uma sintonia que tem dado uma base ao FC Porto esta época, agora que já não há uma fundação mais passadora e de conspirar contra os adversários com a posse de bola (quando havia Vitinha e Fábio Vieira). Natural é que assim seja e cedo eles voltaram a congeminar na segunda parte, foi uma tentativa de combinação entre todos que Pedrão impediu, mas o defesa central atrapalhou-se com a bola que cortou.
Taremi roubou-o, depois foi esperto a ganhar uma disputa com Moufi e calmo a parar perante o guarda-redes, servir Pêpê e vê-lo a picar um passe à baliza (52’) que serviu de 0-2. A jogada que fez deste o terceiro jogo consecutivo com assistência do iraniano parecia exemplificar a inoperância do Portimonense até então - o esforço era pintalgado por erros, a vontade salpicada por inferioridade técnica em vários lances, uma equipa a querer e a não poder contra o FC Porto. Mas isso era um engano.
Entrou o jogo no último quarto de hora e os dragões já vinham amainando o ímpeto, acalmando o ritmo com que faziam e reagiam em campo, poder-se-á descrever este decréscimo em algo parecido com o velho chavão da ‘perda de intensidade’ e bastou um cruzamento que desviou na perna de Diogo Costa, depois na de David Carmo e finalmente na anca de Yago Cariello para a bola ir à barra (76’) da baliza (apesar de o avançado estar nem a dois metros da linha) para os de Portimão darem um pulo no jogo. Logo a seguir, uma habilidade de Luquinha procedida por outra da autoria de Ricardo Matos isolaram o brasileiro que, estrondosamente, rematou com o pé esquerdo para Diogo Costa se agigantar (82’) na parada do jogo. Ainda haveria outra tentativa do português que esteve no meio dessa equação.
Nos toques na bola em que hoje Luquinha confere mais sentido prático o Portimonense se apoiou para tentar estender essa reação que, já perto dos descontos, murchou um pouco e permitiu a um FC Porto mais ralenti ainda ter uma espécie de bicicleta de Taremi e uma finalização-passe de Galeno, em corrida, ambas paradas por Nakamura. O FC Porto com menos rasgos de espetacularidade do que certezas no fomento das relações entre um iraniano e dois brasileiros. Foi uma amostra, mesmo que Taremi não tenha usufruído da melhor das suas percentagens de acerto por ação na bola, que será desse triângulo - e da manutenção da saúde física de Otávio - que a equipa poderá provocar mais problemas a quem a defrontar.