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A vida é mais fácil com Taremi

Depois da derrota com o Club Brugge e do empate com o Estoril, o FC Porto regressou às vitórias com uma goleada, por 4-1, contra o até aqui invencível Sp. Braga. Mehdi Taremi não marcou, mas foi a figura do jogo

Hugo Tavares da Silva

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Mehdi Taremi tem mesmo qualquer coisa. Podemos falar nas muitas qualidades e camadas que pode ter um futebolista, mas, quando alguém tem um bom pé e é realmente inteligente a jogar este jogo, aí torna-se tudo irresistível. Já havia sido defendido e elogiado, no passado recente, pelo monstro do seu país, Ali Daei. O seu treinador, na véspera deste jogo com o Sp. Braga onde o avançado voltou a voar amenamente, elogiou-o longamente. “É super inteligente, tem um caráter fantástico, é um grandíssimo profissional e é um ser humano fabuloso. Com ele não se passa nada, está bem com os colegas todos”, garantiu Sérgio Conceição.

Mas Taremi, que parece triste e esquecido de sorrir, vive também tempos difíceis, com o seu país virado do avesso pela morte de uma jovem que parece ter iluminado uma revolução qualquer. A seleção iraniana expressou-se numa mordaz surdina, o jogador do FC Porto idem, nas redes sociais. Isso fala sobre coragem também. Taremi é realmente admirável a jogar futebol e esta noite, mesmo sem marcar, foi decisivo. É generoso. Parece um daqueles agentes de serviços secretos que, à mesa, sabe mais do que toda a gente. Discretamente, sem atrair grandes miradas, faz o seu. É um futebolista especial.

MIGUEL RIOPA

As balizas ficaram esquecidas durante a parte inicial deste duelo entre duas equipas que estavam separadas por três pontos. Era um jogo de médios, com Uribe e Eustáquio a revelarem-se importantes na construção, e Pepê a mostrar a vagabundice e fineza que faz dele um dos grandes talentos do campeonato. Do outro lado havia algum desconforto, sobretudo com bola, com exceção talvez para André Horta. Banza e Vitinha, a dupla que é um caso sério da Liga Portuguesa, iam sendo engolidos pela defesa da casa, sobretudo por um imperial Pepe, que foi infeliz no golo na própria, na altura o 2-1.

O jogo estava embrulhado, havia mais vontade de recuperar a bola do que jogar ou fazer golos. Os avançados não tinham pãozinho para serem felizes… até que, aos 32’, uma jogada de insistência pela esquerda permitiu a Taremi tocar para Eustáquio, que cruzou com muito estilo e precisão para o segundo poste, onde estava o peito de Evanilson a encostar para a baliza deserta. Bastaram dois minutos, numa altura em que o Braga estava realmente apagado, para o vendaval portista garantir o 2-0: Taremi recuperou uma bola perdida, lançou o velocíssimo Pepê e este, talvez intoxicado pela generosidade persa, ofereceu o golo a Eustáquio. Pouco depois, o iraniano, com a canhota de primeira e já dentro da área, voltaria a oferecer o golo a um colega, desta vez a Bruno Costa (que seria elogiado no final por Conceição, pelo trabalho híbrido no meio-campo). Valeu a grande defesa de Matheus.

Só um erro de comunicação e de ação entre defesa e Diogo Costa permitiu ao Sporting de Braga ficar muito perto do golo. Iuri Medeiros atirou ao lado e sorriu como quem se sente impotente. Era pouco para o melhor ataque do campeonato que tem parecido uma locomotiva insaciável atrás do golo.

Talvez por isso mesmo, por alguma falta de qualidade com a bola e até para criar desconforto na defesa onde reinava Pepe, Artur Jorge lançou Víctor Gómez, Abel Ruiz (boas ações) e Uroš Račić, que entraria muitíssimo bem, com bons detalhes técnicos e presença, associando-se com os irmãos Horta (nesta altura jogavam por fora, embora com liberdade) e Al Musrati, garantindo a melhor fase do Braga no jogo. Foi nessa altura, depois de um tiro de Ricardo Horta ao poste, que Pepe fez o tal golo na própria. Estavam decorridos 53’. O Porto olhava pouco para frente, não controlava a bola, muito menos o meio-campo. O golo do rival acabou por não surpreender.

Os treinadores iam mexendo nas equipas. Que se destaque o regresso de Otávio e a entrada de Álvaro Djaló, que tem tudo para ser daqueles que fazem feliz quem gosta de futebol, pelo drible e ousadia. A certa altura, na primeira ação do jovem, uma repetição na televisão mostrou um esgar de satisfação contida de Artur Jorge depois de Djaló superar Rodrigo Conceição. Para esta gente que leva o futebol assim o céu parece mais alto, mais distante.

Quando o Braga parecia prometer complicar a vida ao FC Porto, Taremi voltou a puxar a responsabilidade para si, serenando o estádio inteiro. A bola chegou-lhe, já dentro da área, e com uma calma quase insultante, como se lhe falassem baixinho sobre qualquer coisa realmente relaxante e aleatória, fez a bola passar por baixo das pernas de Vítor Tormena e, generoso como só os grandes colegas podem ser, tocou para o lado. Alegria para Pepê, que fez um golo fácil, 3-1.

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A seguir, Matheus derrubou Taremi (lá está) quando este só o tinha a ele pela frente, embora tenha driblado na direção de um defesa bracarense. Dificilmente os três pontos escapariam aos portistas. E isso mesmo confirmou-se, sobretudo depois do 4-1, assinado por Galeno, após alguns ressaltos e ação de Gabriel Veron.

O Sp. Braga, a quem André Horta aconselhou no fim “mais matreirice”, perdeu pela primeira vez esta temporada. O FC Porto alcança assim os minhotos e aproxima-se do Benfica, que joga no sábado, em Guimarães, a poucos dias de receber o PSG, no Estádio da Luz.