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FC Porto

No reino da competitividade não se perde a fome

Os campeões nacionais começaram da melhor maneira a defesa do título com uma goleada, por 5-1, contra o Marítimo, no Estádio do Dragão. Os visitantes espremeram o veneno da bota esquerda de Xadas, mas os belíssimos 10 minutos iniciais foram insuficientes

Hugo Tavares da Silva

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Mehdi Taremi é uma espécie rara. Ora pensa como um médio, ora como um avançado. Ora vive como um humilde operário, ora como um excelso e insuperável embaixador. O iraniano, que alinhou ao lado dos companheiros de seleção para criticar dois políticos do parlamento daquele país, continua a encher o campo e a meter golos. Esta noite, na estreia dos campeões nacionais na Liga, marcou mais dois na vitória contra o Marítimo (5-1) e saiu ovacionado pelo Dragão.

Sérgio Conceição, que não podia contar com os castigados Otávio e David Carmo, avisara na véspera para os feitos e competências de Vasco Seabra. O Marítimo surgiu leve, leve como uma folha ao sabor do vento, e criou muitos problemas para a defesa do FC Porto. Xadas foi o primeiro, com uma bolaça fora da área, com aquela canhota ameaçadora. A bola beijou a barra. A seguir foi Joel, que quase aproveitou um deslize de Marcano, resolveu Diogo Costa. As dinâmicas pelo corredor direito, com Winck, Beltrame e Xadas, eram interessantes. Miguel Sousa, outro médio, ia deixando também alguns detalhes.

Havia desconforto no Dragão, o rosto do treinador da casa gritava apreensão, mas um erro na saída de bola dos madeirenses virou o jogo. Zaidu roubou a bola a Winck e tocou para Evanilson. O brasileiro, sábio radar dos movimentos do companheiro, isolou Taremi. O número 9 aceitou o convite descarado e fez o 1-0.

As nuvens negras e pesadas dissiparam-se. O desenho no meio-campo era uma espécie de losango com o fiável Uribe, Grujic, Pepê e Danny Loader. Esta ideia dava asas a João Mário e Zaidu, que surgiu bem nesta primeira jornada, com boas decisões e ações. Loader e Taremi ameaçaram o 2-0. Otávio, na bancada, ia explicando alguma coisa a André Franco, o médio que chegou do Estoril, que vai tentar estar a meio caminho, no conceito, entre Vitinha e Fábio Vieira.

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A canhota de Xadas, que até passou pelo formação do Olival, continuou a agradar os olhos de quem via o jogo. Diogo Costa, negando o golo quase certo a Joel (que arriscou ser expulso por mão na bola, seria segundo amarelo), continuava a brilhar, com uma serenidade impar, afinal é o senhor guarda-redes titular da seleção nacional.

O ritmo do FC Porto já fazia lembrar outros tempos, ainda que sem aquela fineza e matreirice que as botas de Vitinha e Fábio Vieira garantiam. Evanilson e Taremi fizeram 2-0 e 3-0, este último após novo erro numa saída de bola dos insulares.

Os mais de 46 mil adeptos no Dragão já haviam esquecido aqueles 10 minutos de alto gabarito do visitante. Agora pedia-se ainda mais fome, que os futebolistas de azul mordessem mais, que procurassem mais golos. O ritmo caiu, mas os olhos nunca deixaram de mirar a baliza de Miguel Silva. Já com Stephen Eustáquio, Toni Martínez e Galeno em campo, Iván Marcano fez o 4-0, na ressaca de um lançamento lateral. O Marítimo, talvez viciado naquela imagem que deixou no início, parecia não saber lidar com aquele vendaval, estava assustado quem sabe. Sem argumentos.

Martínez, após mais um cruzamento para golo de João Mário, cabeceou como os grandes cabeceadores fazem e celebrou mais um golo com a camisola do Porto. O beijo na cabeça do lateral direito atestava a importância do passe. O jogo já não tinha muita história. Os atrevidos Gonçalo Borges e Gabriel Veron entraram, com o brasileiro a procurar acelerar o processo de convencimento do treinador. O Marítimo reduziu por Winck, 5-1.

O FC Porto arranca a defesa do título, que nunca conseguiu revalidar com Sérgio Conceição, com uma goleada convincente, em casa, apesar daqueles primeiros minutos de estranha indolência.