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FC Porto

A força de desbloqueio estava num calcanhar. Ou melhor, em dois

Esteve difícil a vida do FC Porto na Madeira, face a um Marítimo que entrou em campo com apenas dois objetivos: defender muito e tentar qualquer coisinha no contra-ataque. Foi preciso um pouco de magia, nos calcanhares e Soares e Marega na preparação para o remate de Otávio, para derrubar o muro, já aos 70 minutos. A vitória por 2-0 coloca para já os dragões na liderança isolada do campeonato

Lídia Paralta Gomes

GREGÓRIO CUNHA

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É engraçado como o termo “calcanhar” nos sugere logo algo negativo. Porque o associamos logo a “Aquiles” e “calcanhar de Aquiles” é expressão que gostamos de utilizar para nos referirmos a um ponto fraco.

Mas o futebol é outra coisa: no futebol, o calcanhar dá-nos tantas vezes os golos mais bonitos ou espetaculares, porque são raros e de difícil execução técnica. O golo que desbloqueou um jogo que parecia interminavelmente bloqueado para o FC Porto na Madeira não foi marcado de calcanhar, mas foi um calcanhar, ou melhor, dois calcanhares, que escancararam as portas da baliza do Marítimo, portas que estiveram durante 70 minutos cerradas a sete chaves e com vários cadeados.

Isso até o FC Porto perceber que era preciso magia e velocidade para ganhar o jogo nos Barreiros. Com cruzamentos, dos quais usou e abusou na 1.ª parte, não ia lá, impossível mesmo dada a estratégia do Marítimo para o jogo: muitos homens na área, cada avançado com um incansável cão de guarda. Também não se foi lá de grande penalidade, depois de Amir defender o remate de Marega da marca dos 11 metros aos 63 minutos.

Magia e velocidade, portanto. E a magia apareceu aos tais 70 minutos, já com o desespero a ver-se na cara de Sérgio Conceição. Apareceu no primeiro toque de calcanhar de Soares, que desbloqueou o seu marcador direto. Continuou no segundo toque de calcanhar de Marega, que desbloqueou o seu respetivo cão de guarda. E seguiu então para o recém-entrado Otávio, que com o espaço que até então não tinha existido na defesa do Marítimo, rematou na passada para o fundo das redes da baliza de Amir.

Em jogos como estes, só a imaginação permite ganhar.

GREGORIO CUNHA/EPA

E foi já com o Marítimo já disposto a arriscar que o FC Porto aumentou a vantagem, apenas três minutos depois daqueles dois calcanhares. Óliver deu o corpo a um remate de longa distância da equipa da casa, o movimento deixou-o isolado e o espanhol, inteligente, sempre inteligente, não se precipitou: vendo Otávio ainda mais isolado que ele, deu a bola ao brasileiro que por sua vez devolveu para a área, onde estava Marega para fazer a penitência da grande penalidade falhada 10 minutos antes.

Jogo complicado para o FC Porto, que teve o mérito de esperar pacientemente pela inspiração. Quanto ao Marítimo, a estratégia acabou por rebentar nas mãos de Cláudio Braga: entrou com cinco defesas e a única intenção de defender e tentar a sorte no contra-ataque.

E correu bem até aos 70 minutos. A equipa foi disciplinada na defesa, tornou o ritmo lento, marcou os avançados do FC Porto de forma impiedosa, a roçar a agressividade e não poucas vezes recorreu à famigerada técnica do “bola vem, bola vai” - coisa que, diga-se, já pouco se usa, até no nosso campeonato. Mas para tal estratégia resultar, é preciso ser-se frio nas transições para o ataque e não errar. E não errar ao longo de 90 minutos é uma tarefa demasiado hercúlea.

Às vezes, mais vale jogar olhos nos olhos.