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Como um monster truck que ninguém pode parar

À pressão de ver o Benfica passar para a frente na tabela, o FC Porto respondeu com três golos em 15 minutos, sem deixar o V. Setúbal respirar. A vitória por 5-1 deixa os dragões novamente líderes

Lídia Paralta Gomes

JOSE COELHO/EPA

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Estão a ver aquelas carrinhas de caixa aberta muito grandes, apoiadas em pneus tamanho XXL, que fazem o divertimento de muito boa gente quando, sem grande piedade, espalmam outros carros num misto de força, poder e velocidade?

Lembrei-me desses monster trucks nos primeiros 15 minutos do FC Porto-V. Setúbal. Um início sôfrego, poderoso, mandão, sem deixar o adversário respirar. Bola no pé, pressão imediata à primeira perda, jogo variado, intenso. Quando deu por si, quando finalmente conseguiu respirar, o V. Setúbal já perdia por 3-0.

Foi assim que o FC Porto de Sérgio Conceição respondeu à pressão de no sábado ter visto o Benfica subir ao primeiro lugar da tabela. E foi assim que respondeu, porque não, às críticas de quem o acusou de tentar agarrar-se ao golito de vantagem que tinha para o Sporting na meia-final da Taça de Portugal: com uma equipa toda para a frente, praticamente a jogar com quatro avançados - na medida em que foi raro ver Brahimi e Corona em terrenos minimamente atrasados -, com Marega como monster truck-mor, em modo trator, debulhadora, a ultrapassar tudo e todos em força e poder, mesmo a regressar de um período de lesão.

É justo dizer que na 1.ª parte, o FC Porto teve uma eficácia praticamente de 100% na hora de rematar. À primeira grande oportunidade, logo aos 6 minutos, ao cruzamento de Alex Telles, Soares respondeu com a cabeça. Cristiano facilitou na defesa e nanosegundos depois de Cristiano facilitar na defesa já lá estava Marega para a recarga. Mais sete minutos e foi a vez dos centrais ajudarem: após grande cabeçada de Felipe que Cristiano afastou bem, Marcano foi às sobras e com uma bicicleta não tão bonita como a de Ronaldo, mas igualmente eficaz, fez o segundo para os dragões. E três minutos depois, novo golo. Marega recebeu um passe longo e vertical na direita, arrancou com toda aquela força que tem dias que ninguém pode mesmo parar, passou atrasado para Brahimi que, num misto de frieza e inteligência com um toquezinho de sadismo (e classe, claro), viu para onde iam os adversários e colocou-lhes com toda a calma e colocação para o lado contrário.

Uma bicicleta de Marcano para fazer o 2.º golo do FC Porto

Uma bicicleta de Marcano para fazer o 2.º golo do FC Porto

MIGUEL RIOPA/Getty

E pronto, assim estava feito o jogo, 15 minutos depois de começar, ainda que antes da meia-hora o V. Setúbal tenha aproveitado um lapso de concentração dos jogadores do FC Porto para reduzir, numa boa jogada de entendimento que começou num lançamento lateral, passou por Costinha e culminou com um cruzamento tenso de primeira de Patrick e um remate tenso e de primeira de João Amaral.

A reação sadina que por momentos espreitou no Dragão foi rapidamente controlada ao minuto 36, altura em que o estádio batia palmas a Pinto da Costa, em noite de aniversário de presidência (36 anos, precisamente). Um golo de Corona, a dar o melhor seguimento a mais uma jogada de profundidade do FC Porto, em que Marega foi mais uma vez decisivo, ao fazer o passe para Ricardo que deixou toda a defesa do V. Setúbal atarantada. O lateral português só precisou depois de deixar para Corona, cujo remate ainda bateu num adversário antes de enganar Cristiano.

Entre a vontade de não abdicar das suas ideias e a necessidade imperiosa de, por esta altura, guardar todas as forças possíveis, a 2.ª parte do FC Porto começou com oportunidades perdidas de Soares e Brahimi, para aos poucos o ritmo descer. Ainda assim, em pleno momento de gestão, já com Marega e Ricardo no banco, ainda houve tempo para mais um golo, um livre direto marcado suave, perfeito que nem seda de Alex Telles.

O FC Porto resolveu bem, rápido e de forma meio que destruidora este momento de pressão, em que há quem trema. Mas quando se tem uma equipa de monster trucks (e nomeadamente um monster truck chamado Marega) é mais difícil tremer.