O último jogo da Final Four - marcado por incidências que fomentaram demasiada polémica e discussão - e alguns jogos das últimas jornadas, foram suficientes para perceber que a segunda volta da liga portuguesa não será pacífica.
Era importante que esta visão não correspondesse à realidade e que o resto do campeonato fosse intenso, mas tranquilo. O certo é que os sinais exteriores, tendencialmente crescentes, não são animadores.
Todos sabemos que o primeiro lugar da competição oferece o título de campeão e a entrada direta na liga milionária. O segundo também dá acesso à prova dos ricos e, por consequência, a importante encaixe financeiro. E as despromoções tiram dos bolsos dinheiro fundamental para a sobrevivência de clubes e sociedades desportivas. A luta será renhida, o que é compreensível. Todo e qualquer esforço para atingir objetivos desportivos e conquistar resultados em campo é legítimo e salutar. É tudo o que se espera de quem anda lá dentro.
O que pode não ajudar é alguns posicionamentos que acontecem recorrentemente, cá fora.
Esse velho conto, que tem mais barbas que as barbas do Pai Natal, não é virgem nem é novo. Não é de hoje nem de ontem, nem é marca (apenas) nacional. Em muitas provas além-fronteiras é frequente assistirmos a combates disputados com demasiada agressividade, bem para lá das cordas do ringue.
Mas ainda que percebendo a relevância estratégica de alguma agitação exterior, é precisar estabelecer limites. É preciso que existam regras, nem que sejam as do bom-senso, do respeito e da moderação.
O pior que pode acontecer a uma área de atividade tão global e entusiasmante como a do futebol é permitir que qualquer um possa dizer e fazer o que quer, sem custos nem consequências. Sem contas a prestar.
Não é novidade para ninguém que, num Estado de Direito Democrático, a liberdade de expressão de uma pessoa termina quando colide com a de outra ou quando fere as leis a que está sujeita.
E mesmo que essas sejam até difíceis de definir ou balizar, mesmo que sejam subjetivas ou dúbias, é fundamental que quem desempenha funções de maior protagonismo ou notoriedade meça o peso e dimensão do que fala e do que diz.
Vejam o meu caso: embora não passe de um mero comentador desportivo sem ligação direta ao jogo, sinto que devo ter sempre cuidado em cada palavra que escrevo ou intervenção pública que tenho. É o mínimo que posso fazer e não sei se faço sempre como devia e queria.
Essa tinha que ser a regra para todos, em particular para aqueles que estão legal ou deontologicamente obrigados a ter esse tipo de cuidados.
Há coisas que podem (e devem) ser ditas na defesa do que é defensável, mas há outras que pelo seu tom, conteúdo ou potencial destrutivo, nunca devem ser sequer sugeridas.
As que distinguem umas das outras moram na ética e no caráter de cada um.
O apelo que deixo àqueles que estão do lado de fora dos relvados é que sejam moderados, equilibrados e justos. Sejam educados. Respeitem-se mutuamente, mesmo que a dado ponto saiam a perder. Há valores bem maiores do que o valor da vitória.
Não aproveitem a aparente sensação de impunidade que o desporto oferece para encarnarem personagens que não vos definem. Não entrem numa espécie de vale-tudo, porque nada vale mais do que uma noite bem dormida no travesseiro da nossa cama.
A segunda volta já arrancou. Vamos ver se entramos com o pé direito.
O futebol é um fenómeno global, capaz de dar poder e dinheiro a muita gente. Para uns quantos não deve ser fácil essa coisa de resistir à tentação da gula e da ganância. Até os bons acabam tantas vezes enrolados nessa onda avassaladora.
Saibam distanciar-se.
Vejam isso como um desafio, como um teste à vossa seriedade e dignidade.
Sejam a vossa melhor versão.