Há cerca de um ano, aconteceu algo que me deixou espantada, mas muito lisonjeada.
A mãe de uma atleta de natação contactou-me no sentido de fazer umas sessões de dicas, partilha de experiência e aconselhamento com a sua filha, que me admirava muito e que andava um pouco desmotivada.
Até aqui tudo bem… era algo normal acontecer, dar alguns conselhos ou partilhar a minha experiência com os mais novos. A parte estranha para mim é que ela estava disposta a pagar por isso. Confesso que fiquei até um pouco surpreendida com esse pormenor. Apesar de não ter aceitado, considerei isso como a forma que arranjou para me mostrar que realmente valorizava o meu tempo e que era uma coisa muito importante para a sua filha.
A abordagem que teve comigo, confiar em mim para ajudar a filha a melhorar um pouco a sua confiança e saber lidar com o stress competitivo, espoletou logo na minha cabeça um grande sentido de responsabilidade e deixou-me a pensar: será que existem mais atletas na mesma situação que gostariam de ter esse contacto direto e oportunidade de ouvir um atleta experiente? Com certeza que sim, mas não sabem como perguntar, como abordar… Muitos têm vergonha, porque acham que ninguém lhes vai responder e que seriam apenas mais um a pedir “coisas”.
A verdade é que me encontrei com a atleta e foram 2 horas que passaram a voar!
Foi engraçado ver a evolução da sua postura quando se sentou comigo. No início estava bastante tímida e pouco faladora, mas rapidamente começou a identificar-se com várias ideias que partilhei com ela e começou a “soltar-se”!
Falei-lhe um pouco sobre o início da minha carreira como nadadora, os primeiros anos de prática, a subida de escalão ano após ano até chegar a absoluta e o caminho que tive que percorrer até chegar onde me encontrava naquele momento. Contei-lhe algumas histórias engraçadas de seleção (histórias essas que não se leem em entrevistas), vimos e analisámos alguns vídeos dela a nadar, em que lhe dei algumas dicas técnicas, que, importante será dizer, eram a minha técnica principal e que me senti muito à vontade para o fazer.
Ela também falou de si, como começou a praticar desporto e o desabafo de já sentir, naquela tenra idade, a falta de condições que tem para treinar, o que, como uma bola de neve, atrapalha nos estudos, pois tem que, por iniciativa própria, encontrar maneira de treinar antes de iniciar as aulas as 8h da manhã.
Nós, atletas, temos o nosso tempo contado e somos “experts” em saber gerir o nosso tempo. Entre treinos, estágios, competições, estudos, tempo de descanso e tempo livre, é importantíssimo fazermos coisas que nos fazem sentir bem… não sobra para muito mais.
Mas a sensação que tive no final foi muito compensadora. Melhor ainda foi receber mais tarde o feedback da atleta, a dizer que implementou as minhas dicas na sua rotina competitiva, melhorou um pormenor técnico, ou que simplesmente começou a ver as coisas de maneira mais positiva no seu dia-a-dia.
Pegando neste exemplo, e indo de encontro com o Programa de Mentoria que a Comissão de Atletas Olímpicos apresentou no Encontro Nacional de Esperanças Olímpicas, a ser lançado brevemente, é isto que se pretende!
É extremamente importante que os atletas mais experientes entendam o impacto e a diferença que isso pode fazer na vida dos jovens atletas. Tem tudo para dar certo! A partilha, a interação, as experiências, os ensinamentos, a amizade que se cria… tudo isso é “bagagem boa” que o jovem atleta vai levar consigo para a sua vida. É muito inspirador. Eu, pelo menos, tive uma experiência muito positiva e aconselho!
Há um longo caminho a percorrer, mas estou muito satisfeita ao ver que, pouco a pouco, temos encontrado maneira de ajudar, neste caso, os nossos jovens atletas e acompanhar desde cedo o seu crescimento.
Motivar e orientar os atletas a percorrer o caminho com essa ferramenta que é a Mentoria, pode ser um ponto chave