Na última jornada andou a circular online uma imagem relativa à posição de Fábio Cardoso, momentos antes de marcar golo, no jogo com o Santa Clara. A ideia, deduzo, seria tornar viral um alegado benefício ao jogador e à sua equipa.
Já aqui falei exaustivamente sobre este tipo de estratégias, mas não me levem a mal... é mais forte do que eu e não tenciono parar. Há gente que, de facto, não merece a água que bebe.
E se até consigo tolerar os pobres coitados que partilham toda essa manipulação a acreditar que ela é real, confesso que tenho asco daqueles que o fazem intencionalmente, obedecendo a uma espécie de cartilha ou alinhamento superior.
É preciso que as pessoas percebam que há por aí várias páginas, fóruns, blogs e perfis montados para desinformar, confundir e enganar. Essa triste realidade, mais difundida e transversal do que se possa pensar (nessa matéria a responsabilidade é de muitos), leva-nos à eterna questão da impunidade. Da ligeireza com que tudo isso continua a ser permitido.
Não parece haver forma de travar tanta propaganda, plantada com o objetivo de desestabilizar, provocar e ludibriar o maior número possível de pessoas.
Isso incomoda-me. De verdade.
Conseguimos prender o malandro que rouba a maçã e o carteirista que nos leva os 10€ no Metro, mas não conseguimos parar este exército concertado de pirómanos digitais, que contribui ativamente para climas de hostilidade e violência no desporto português.
Porquê? Não é possível rastrear o seu percurso? Chegar aos seus servidores? Não há previsão legal nesse sentido? Dá trabalho, exige demasiados recursos e meios? Quando conteúdos digitais configuram crime, têm que ser criminalizados. Enquanto não forem, vão prosperando como se a realidade do online fosse um mundo completamente à parte.
Quanto à tal situação - a que alegadamente sugeria que a linha tecnológica tinha sido “calibrada” para beneficiar Fábio Cardoso -, é muito fácil de desmontar, tal como tantas outros que por aí proliferam. Assim os mais acalorados o queiram entender.
Vamos lá a ver se nos entendemos sobre este tipo de lances, de uma vez por todas:
1. O VAR e o AVAR nunca tocam na tecnologia. Nunca.
A única pessoa que a manuseia é o “técnico de imagem”, que é um profissional qualificado, que está em sala com a equipa de arbitragem;
2. Quando se torna necessário avaliar um eventual fora de jogo (por exemplo, num golo ou pontapé de penálti), a dupla de árbitros que está em sala tem duas incumbências técnicas:
A - Aferir o exato momento em que o passe é feito para o atacante (conta sempre o momento em que a bola começa a ser tocada/jogada);
B - E escolher a última parte do corpo de defesa e atacante envolvidos na jogada (como sabem, os braços não contam).
3. Essas duas premissas resultam de decisões humanas, que dependem exclusivamente de VAR e AVAR.
4. A partir do momento em que essa informação é triangulada, tudo é resto é automático.
Para que fique claro: a linha tecnológica não tem nenhuma intervenção humana e é “desenhada” tendo como referência o relvado/solo.
No caso do lance nos Açores, um dos pontos foi corretamente colocado no ombro do Fábio (a parte mais adiantada do seu corpo) e o outro no pé do defesa que estava mais perto da linha de baliza do Santa Clara (pelo mesmo motivo). A partir daí, repito, foi a tecnologia a funcionar autonomamente. Foi assim ali, como é em todos os outros jogos e como será nos que faltam.
Se houver erro humano - e pode haver - será na escolha do momento do passe ou na definição da parte do corpo dos jogadores.
Percebam que VAR e AVAR recebem imagens da transmissão televisiva baseadas nas câmaras disponíveis em cada jogo. Baseadas também na forma como elas estão posicionadas nos estádios. Entendam que nem todos são iguais ou dispõem das mesmas condições operacionais. Isso são ‘pormenores’ que podem afetar a qualidade do que se vê.
A parte boa é que essa eventual ‘limitação’ é igual para todos. Todas as equipas vão jogar nos mesmos sítios, em idênticas condições.
Gostava muito que o ambiente em torno do futebol e das arbitragens fosse mais respirável, mais são e sério. As críticas, as dúvidas, os lamentos e o repúdio são normais, até porque lá dentro há sempre gente que erra. Há sempre algo que falha.
Mas quando se decide criar ódios e semear o caos, só porque a poeira interessa mais do que a transparência... então, meus amigos, é apontar o dedo a essas condutas e tentar desmonta-las uma a uma.
Há gente que realmente não tem lugar no desporto. É uma atividade demasiado nobre para dar trabalho a pessoas assim. Que o futebol (e o Estado) consigam encontrar ferramentas legais para correr com esses desonestos. Rua com eles todos. Sem dó nem piedade.